Reserva Biológica de Comboios e APA Costa das Algas

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Reserva Biológica de Comboios e APA Costa das Algas

Reserva Biológica de Comboios e APA Costa das Algas: entenda

Uma Reserva Biológica visa à preservação integral da biota e demais atributos naturais, sem interferência humana direta ou modificações ambientais. A exceção fica por conta de medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e de ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e seus processos ecológicos naturais.  estabelecidas.

CARACTERÍSTICAS:

BIOMA: Marinho Costeiro
Município: Linhares, no Espírito Santo.
ÁREA: 784,63 hectares
DIPLOMA LEGAL DE CRIAÇÃO: Dec nº 90.222 de 25 de setembro de 1984
Tipo: Proteção Integral.
A Unidade tem Plano de Manejo.

 mapa-da Reserva Biológica dos Comboios,
O mapa da Unidade de Conservação.

Reserva Biológica de Comboios e APA Costa das Algas

De Macaé dobramos o Cabo de São Tomé e subimos até Vitória, capital do Espírito Santo, último estado do Sudeste. Apesar de ser evidente a necessidade de mais UCs federais, o litoral deste estado só conta com duas unidades. Seus atrativos  são bastante específicos mas pouco variados. Por este motivo fiz um programa apresentando as duas Unidades juntas. E pelo mesmo motivo apresento as duas no mesmo texto.

Reserva Biológica de Comboios

Criada em 1984, a área tem 833 hectares, fica em Linhares, próxima à cidade de Regência, na praia de Comboios escolhida pelas tartarugas-de-couro como local de desova. O objetivo da UC é proteger a área de desova de tartarugas.

 imagem de -tartaruga-na Rebio dos Comboios
Enorme tartaruga nos tanques da sede da UC.

No momento o plano de manejo, de 1987, está sendo revisado. O Conselho Gestor funciona normalmente. A UC não engloba área marinha, mas há um plano para que ela avance para o mar, até a isóbata de 10 metros.

A praia de Comboios

A praia de Comboios não é das mais especiais, apenas um praião, em linha reta (37 quilômetros de extensão), que começa na foz do rio Doce e se estende para o sul. Sua água é turva,  marrom, devido ao despejo de água doce da foz do rio.

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Praia de Comboios.

A praia é de tombo, com muitas ondas, razão pela qual os maiores frequentadores são surfistas. Outra característica é a sujeira, especialmente pedaços de plástico, garrafas, etc. Este material é descartado pelos ribeirinhos ao longo dos 800 quilômetros do leito cuja nascente fica em Minas Gerais.

O rio Doce

(nossa visita foi antes do desastre de Mariana)

O rio Doce, maior do estado (ES), atravessa dezenas de pequenas vilas e cidades para desaguar no Norte do Espírito Santo. Então, a foz despeja estes detritos no mar, que os devolve à praia.

-foz-do-rio Doce - Reserva Biológica dos Comboios
Pescadores artesanais de Regência pescando na foz do rio Doce.

Mais uma vez, a maior ameaça à UC são os portos. Há um previsto ao Norte, logo depois da foz do Doce, e outro ao Sul, pegando também parte da terra indígena que existe na região.

O Chefe da UC, Antônio de Pádua Almeida, informa que o ICMBio já se declarou contra a construção mas, ressalvou, “a decisão é do Ibama”.

Há 12 anos está em estudos a criação de uma RDS que englobaria uma pequena restinga, atrás da sede da UC.

Como se vê, tudo o que diz respeito ao meio ambiente “não tem pressa”, tramita pelas gavetas da burocracia federal com prazos extremamente longos. Doze anos em estudos! Será preciso tanto para uma decisão?

imagem da-sede da Reserva Biológica dos Comboios
Sede da Reserva Biológica de Comboios

Dezesseis anos foi o tempo necessário para a implantação do Parna de Jurubatiba. Várias UCs, com vinte anos ou mais desde a criação, ainda não apresentaram plano de manejo.

 “O meio ambiente nunca foi levado à sério no Brasil”

Estes dados apenas reforçam o que disse Maria Tereza Jorge Pádua, ícone do ambientalismo, responsável entre outras pela criação do primeiro Parque Marinho Brasileiro: “o meio ambiente nunca foi levado a sério no Brasil”.

Alguém duvida

A boa notícia é que a quantidade de ninhos está aumentando em Comboios.

As tartarugas-de-couro (criticamente ameaçadas de extinção) são abundantes na costa brasileira. As adultas atingem até 700 quilos. O espaço que frequentam durante seu ciclo de vida vai daqui até o litoral do Ceará. Marcações  eletrônicas demonstraram o  roteiro. Depois de algum tempo elas retornam ao mesmo ponto para nova desova. Sempre no exato mesmíssimo lugar.

imagem dos-rastros de tartarugas na Reserva Biológica dos Comboios
Reserva Biológica de Comboios – Rastros das tartarugas que chegam de noite para desovar.

A praia de Comboios também é usada para desova das Tartarugas-cabeçudas. Uma delas, marcada, retornou ao mesmo local da desova por 32 anos seguidos!

Tartarugas-verdes

O caso das Tartarugas-verdes, que só desovam em ilhas oceânicas, é ainda mais surpreendente. De Fernando de Noronha, ou Trindade, minúsculos pontos no meio do oceano, as fêmeas às vezes nadam até à costa da África. Tempos depois, prenhas de novo, retornam até a mesma praia daquelas ilhas perdidas no meio da imensidão azul. E tornam a cavar buracos, desovar, cobrir os ovos com areia, e assim por diante.

Como conseguem achar a mesma praia numa ilha minúscula? Que estratégia usam? Como a desenvolveram? Estas são algumas das milhares de perguntas que a ciência ainda não sabe responder.

E esta é a beleza maior dos oceanos: o que ainda está por ser descoberto.

 "o meio ambiente nunca foi levado a sério no Brasil, imagem dos-4-tipos-de-tartarugas na Reserva Biológica dos Comboios
Reserva Biológica de Comboios e APA Costa das Algas. Painel mostrando os quatro tipos de tartarugas que frequentam a costa brasileira.

Não tenha dúvida da quantidade superlativa. A ciência que estuda os oceanos, a Oceanografia, é recente. Deu seus primeiros passos em meados do século XIX, depois da expedição do Challenger, em 1872. Está atrasada em relação às outras matérias do conhecimento.

Dificuldades de exploração sempre foram grandes

Além disso, as dificuldades de exploração sempre foram grandes. O custo de equipamentos que descem ao fundo do mar é altíssimo, exigem tecnologia de última geração. O ambiente é hostil, com fortíssima pressão e ausência de luz. E o espaço, gigantesco, 71% da superfície do planeta.

Por isso mistérios, como a capacidade de direção das tartarugas, ainda são… “mistérios”  para o homem que pousou na Lua e explora o universo.

Estrutura da Reserva Biológica de Comboios

Como sempre mínima, a UC conta com três analistas incluindo o chefe. Por ser uma Rebio, a UC não deveria aceitar visitas. De acordo com as normas do ICMbio uma reserva biológica é uma UC do tipo “proteção integral”. Antônio Almeida diz tolerar os surfistas “porque eles não atrapalham, ao contrário, ajudam na preservação do local”.

 imagem da-torre na Reserva Biológica dos Comboios,
Torre para observação de tartarugas.

Um de seus planos é recategorizar a unidade como Parque Nacional, “o que contribuiria para melhorar os serviços, normatizar a frequência e a pesca”, atributos que uma Rebio não tem.

Como ela foi criada por decreto de Lei, só pode mudar de categoria com nova legislação, o que é pouco provável enquanto durar a disputa de forças entre Congressistas e ambientalistas.

Maior perigo que a UC sofre é o desenvolvimento industrial

Para Almeida o maior perigo que a UC sofre é o desenvolvimento industrial; a fobia por novos portos. Um deles já funciona em Barra do Riacho, ao sul de Comboios. Foi construído pela  Aracruz Celulose e sua área é bastante poluída. O porto foi construído para escoar a produção de eucaliptos da empresa que acabou sendo vendida para o Grupo Votorantim.

Grande parte da Mata Atlântica do Espírito Santo foi cortada

Grande parte da Mata Atlântica do Espírito Santo foi cortada nos anos 60 e 70 para dar lugar ao reflorestamento com eucaliptos. Não há praia que você vá, sem encontrar enormes áreas cobertas com a monocultura. O estado é recordista na perda de Mata Atlântica.

A área total do Espírito Santo é de 4,5 milhões de hectares sendo que, até 2006, cerca de 250 mil hectares eram ocupados por eucaliptos. Nos anos 60 ainda não se sabia as consequências da supressão, nem estava tão clara para o grande público, a importância da Mata Atlântica. Hoje se sabe. Os prejuízos vão da diminuição da biodiversidade, à falta de água doce, passando pelo aumento da erosão costeira.

Proibida a plantação de eucaliptos num raio de 10 quilômetros de qualquer Unidade de Conservação

A pressão aumentou ao ponto de proibirem a plantação da árvore num raio de 10 quilômetros de qualquer Unidade de Conservação, norma que “não pegou” por estas bandas. Eucaliptos continuam sendo plantados ao lado de UCs. Restrições ao aumento da área reflorestada também recaíram sobre a Aracruz.

Na época em que era a dona do negócio a empresa ‘contornou’ a limitação induzindo e fomentando os pequenos proprietários a continuarem o plantio, cedendo mudas, e garantindo a compra da produção. Ou seja, ela terceirizou a degradação…

Histórico – Reserva Biológica de Comboios

Nos primeiros anos, que remontam a 1982, quem administrava a unidade era o Tamar.  Posteriormente o ICMBio assumiu o controle e a gestão.

Por ano, 40 mil pessoas visitam a UC.

Aqui abro um pequeno parêntesis para fazer justiça a um dos maiores, se não o maior, sucesso ambiental do litoral brasileiro: a ação do Tamar.

Se ainda temos Tartarugas em nosso litoral, isto se deve ao trabalho vencedor do Tamar, o que demonstra que ainda temos tempo. Basta uma pequena ajuda para a natureza responder generosamente, repovoando várias espécies ameaçadas de nossos mares.

APA COSTA DAS ALGAS

ENTENDA:

Área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, com atributos bióticos, abióticos, estéticos ou culturais importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas.

CARACTERÍSTICAS:

BIOMA: Marinho Costeiro
Município: Aracruz, Fundão e Serra, no Espírito Santo.
ÁREA:114.803,20 hectares
DIPLOMA LEGAL DE CRIAÇÃO: Dec s/n.º de 17 de junho de 2010
Tipo: Uso Sustentável.
Plano de manejo: a unidade ainda não tem plano de manejo.

Reserva Biológica dos Comboios e APA Costa das Algas, mapa- da APA COSTA DAS ALGAS
Mapa da Unidade de Conservação.

CADERNO DE ANOTAÇÕES:

Fomos recebidos por Kelly Bonach, analista ambiental da APA Costa das Algas. Ela nos explicou que o motivo da transformação em área protegida foi resguardar principalmente os fundos colonizados por algas, assim como o que resta de mata de restinga à beira-mar, e a fauna bentônica associada.

 imagem da-restinga-na APA COSTA DAS ALGAS
APA Costa das Algas. Pequenos ‘tufos’ de restinga foi tudo que sobrou de mata original na costa do estado.

Estrutura da APA Costa das Algas

Para variar esta Unidade de Conservação federal marinha não tem sequer um barco para cuidar daquilo que seria sua obrigação. A equipe também é pequena: seis servidores, sendo que um é da área administrativa. Ou seja, cuida apenas da correspondência e da burocracia.

Nada de novo mais uma vez. Esta é a tônica das UCs federais marinhas: ausência de equipe e equipamentos capazes de contribuírem para que cumpram a obrigação para a qual foram contratados.

 imagem da-restinga na APA COSTA DAS ALGAS
Note a pequena largura da praia, o tal “deficit de sedimentos” de que nos falou a especialista da Universidade federal. Atrás, alguns poucos metros de restinga ainda resistem.

O litoral do Espírito Santo é dos mais maltratados do país

Quase toda a Mata Atlântica cedeu lugar ao reflorestamento com eucaliptos. As restingas foram detonadas para darem lugar a casas, condomínios e que tais. A área que sobrou apresenta pequenos tufos de restinga, e muitas Castanheiras plantadas nas praias (!?). O resultado? Erosão brava.

Conceição da Barra, no norte do estado, é um exemplo. A erosão começou em razão do corte da mata ciliar do rio Cricaré. Os sucessivos governos não deram atenção, o corte da mata prosseguiu. A resposta veio em seguida: calçadões foram derrubados. Em seguida, cerca de 200 moradias foram tragadas pelo mar…

 imagem de-castanheira em praia capixaba
Reserva Biológica de Comboios e APA Costa das Algas. Castanheira na praia, uma moda tipicamente capixaba. E muito prejudicial.

Cada vez fico mais desanimado com a situação da orla. A terra do grande ambientalista Augusto Ruschi é um desastre em termos de ocupação do litoral. Pior é que as praias do Espírito Santo sofrem um grave problema: deficit de sedimentos, leia-se areia. Ou seja, são praias às vezes grandes em extensão, mas muito estreitas, finas em largura.

 imagem da-castanheira e a erosão costeira
APA Costa das Algas. A Castanheira e a erosão costeira.

A ocupação do litoral do Espírito Santo

A ocupação do litoral do estado, com cerca de 400 quilômetros de extensão, começou um pouco mais cedo que em outros: na década de 60 e, mais fortemente, nos anos 70 do século passado.

Ela “herda características da Bahia do lado norte, e do Rio de Janeiro do lado sul”, como disse a professora Jacqueline Albino, cuja disciplina é Morfologia e Processos Litorâneos, na Universidade Federal do Espírito Santo, a UFES.

 imagem da casa-de-augusto rushi na APA COSTA DAS ALGAS
APA Costa das Algas. Ao final da praia fica a casa em que morava o naturalista Augusto Ruschi.

O mar capixaba

O mar capixaba é bastante poluído, seja pelo cloro usado no branqueamento do eucalipto, seja pela falta de saneamento básico, ou mesmo pelas enormes construções à beira-mar como o porto de Tubarão, em Vitória.

Tubarão exporta minério em forma de lâminas. O vento forte que sopra da região carrega estas partículas a ponto do ar às vezes ficar “grosso”, espesso, devido ao minério que acaba nas águas da baía ou mesmo nas ruas da capital.

A nova ameaça neste sentido é o imenso estaleiro Jurong Aracruz mais uma vez, óbvio por ser um estaleiro, construído na beira da praia dos Hóspedes, na Barra do Sahy, com molhes imensos que avançam mar adentro. Eles geram empregos, é verdade, mas trazem tremendos problemas de poluição e erosão costeira.

o-estaleiro Jurong Aracruz ameaça a APA
O imenso estaleiro Jurong Aracruz visto por trás.
imagem do-estaleiro-na APA COSTA DAS ALGAS
O mesmo empreendimento visto da praia.

E por hoje é só. Na próxima viagem começamos a mostrar as Unidades de Conservação federais marinhas do Nordeste, iniciando pela Bahia. Até lá!

Reserva Biológica de Comboios e APA Costa das Algas: SERVIÇOS

Apesar da visitação das “Rebios” ser proibida, o atual chefe permite a presença de surfistas e, quem sabe, daqueles não surfistas também. Não custa nada tentar. Mais informações em :

Gestor da UnidadeANTONIO DE PADUA LEITE SERRA DE ALMEIDA
Endereço da UnidadeCx Postal 105, s/n
CEP29900970
BairroCentro
UFES
CidadeLinhares
Site da UC 
Telefone da UC(27) 99841097, (61) 31039888
E-mail da UC[email protected], [email protected]

APA Costa das Algas:

Não há nenhuma restrição para a visitação das APAS. Basta ter vontade de conhecer as áreas marinhas protegidas. A partir de Vitória, a capital do Espírito Santo, é fácil e rápido chegar até a área da APA.

Mais informações:

Gestor da UnidadeLIEZE ALVES PASSOS BOLLIVAR
Endereço da UnidadeRua Paulino Muller 1111
CEP29040715
BairroJucutuquara
UFES
CidadeVitória
Site da UC 
Telefone da UC(61) 33419219, (27) 32221417
E-mail da UC[email protected]

 

Assista ao documentário que produzimos durante visitas à Rebio de Comboios e APA Costa das Algas

Comentários

3 COMENTÁRIOS

  1. Boa tarde, perdi esse programa no ultimo domingo, dia 10/maio e gostaria de saber como assisti-lo?

    Obrigado e parabéns pelo belo trabalho.

    Abraços a toda equipe do MAR SEM FIM

    • Carlos, obrigado pela mensagem. Todos os programas serão colocados no site. Se vc abrir o site verá que já estão lá os episódios 01 até o 15º. Este que vc fala vai demorar pra ser colocado. A Cultura demora muito pra enviar os já exibidos. Mas cedo ou tarde ele estará lá. Abraços

      • Esqueci de dizer o seguinte: se vc se refere ao programa do último domingo, ainda é tempo: vc pode assisti-lo na reprise que acontece sábado, às 8h30. abraços

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