Brasil recorre a bancos e filantropia para viabilizar COP30
A menos de oito semanas da COP30, o Brasil recorre a bancos e organizações filantrópicas para cobrir os custos de hospedagem dos países pobres que não conseguem pagar hotéis em Belém. Segundo o New York Times, ‘a disputa por quartos acessíveis só aumentou o déficit de confiança na diplomacia climática, justamente quando os riscos do aquecimento atingem com mais força os mais vulneráveis. Nesse cenário, os Estados Unidos não só anunciaram a saída do Acordo de Paris, como também minam os esforços globais ao incentivar a produção de petróleo e gás’. Apesar do simbolismo histórico, sediar a cúpula numa cidade pobre às margens da mais rica floresta úmida do planeta, o risco de fracasso é alto.

Dificuldades de logística, afrouxamento de regras ambientais, e outros
As dificuldades de logística são ampliadas pelas mudanças que afrouxaram o licenciamento ambiental, bem como a futura exploração de petróleo na Margem Equatorial. Finalmente, a ausência do país mais rico do mundo hoje governado por um negacionista. A soma de fatores sugere o fracasso antecipado da COP30, e uma mancha na imagem do País.
‘De acordo com o líder de um grupo de diplomatas africanos’, diz o NYT, ‘autoridades brasileiras sugeriram a alguns países que seus delegados talvez precisassem dividir quartos. Os delegados se opuseram’.
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‘Agora, com apenas oito semanas antes do início das negociações, enfrenta uma enxaqueca diplomática’.
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‘Corrêa do Lago, presidente da COP, disse que o Brasil recorreu a bancos e organizações filantrópicas para que contribuíssem para ajudar participantes a cobrir os custos, que dispararam devido à grande demanda’.
As expectativas para a COP30
Dois pontos são centrais. O primeiro refere-se às novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que todos os países devem entregar para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C. Caso isso aconteça o Brasil, como anfitrião, será encarregado de intermediar compromissos mais fortes.
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O segundo aspecto mais aguardado é o financiamento da transição nas nações em desenvolvimento. Ou seja, os US$ 1,3 trilhão prometidos e cada vez mais desacreditados. A sensação é que não sairemos dos US$ 300 bilhões por ano decididos na COP29, a ‘COP da gasolina’, como ficou conhecida.
Para não falar nos gastos das duas guerras em andamento, Europa e Oriente Médio, e suas profundas mudanças na geopolítica mundial envolvendo investimentos maciços em armamento.
Política do clima e comércio mundial?
Entre críticas à falta de leitos em Belém, aos custos exorbitantes e até à sugestão de que delegados dividam quartos como em acampamentos de férias, a Reuters trouxe uma novidade que pode tirar o pó da COP30.
Segundo a agência de notícias, ‘o Brasil vai propor a criação de um novo fórum para os governos discutirem como a política climática afeta o comércio – uma questão que a Organização Mundial do Comércio (OMC) e as negociações climáticas da Organização Mundial do Comércio (ONU) até agora não conseguiram resolver’.
‘Economias emergentes, incluindo Brasil, África do Sul e índia, acusaram a União Europeia de restringir o comércio por meio de suas políticas ambientais, como a proibição de importações ligadas ao desmatamento que deve entrar em vigor em dezembro’.
Contudo, a própria Reuters lembra que ‘países em desenvolvimento fizeram várias tentativas de colocar a questão na agenda em cúpulas climáticas anteriores da ONU, mas a UE disse que o comércio deve ser discutido na Organização Mundial do Comércio (OMC)’.
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‘Caos logístico da COP30 ofusca as negociações climáticas’
Enquanto isso o site europeu Politico diz que ‘o caos logístico da COP30 ofusca as negociações climáticas’. A matéria, publicada em junho, comentava o encontro de Bonn para discutir a COP30.
‘Os delegados agora podem se ver hospedados em escolas reformadas, quartéis militares ou navios de cruzeiro alugados. Há uma chance de que eles tenham que dividir quartos, apesar de pagarem mais de US$ 1.000 por noite’.
‘A logística da COP30 agora ameaça lançar uma sombra sobre a conferência do Brasil, diz o Politico, tendo já ofuscado as negociações nas conversas em Bonn, onde as delegações concluíram os preparativos para a cúpula principal em novembro’.
“Estamos preocupados”, escreveu o enviado climático do Panamá, Juan Carlos Monterrey. Preocupado que a COP30 pode se tornar a COP mais inacessível na memória recente. Preocupado com o fato de que os países em desenvolvimento, os pequenos Estados insulares, as vozes indígenas e a sociedade civil não serão adequadamente representados – se representados.










