Jovem brasileira e Marina Silva em rara troca de cartas

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Jovem brasileira e Marina Silva em rara troca de cartas (que revela ações nas entrelinhas)

Compartilhamos aqui a troca de cartas entre Juliana Zatarim, jovem estudante brasileira e Marina Silva, em uma conversa que destaca a importância da causa ambiental marinha, frequentemente relegada ao segundo plano. Juliana, com apenas 15 anos, destacou-se como uma das seis vencedoras do concurso do Pulitzer Center sobre preservação ambiental, sendo a única brasileira entre os premiados.

Jovem brasileira e Marina Silva

Na resposta, Marina aborda publicamente pela primeira vez, questões relacionadas ao litoral. Entre elas, manguezais. Juliana também provoca a ministra a comentar sobre o aumento do nível do mar. Contudo, nesse ponto, Marina opta por não responder. Ou talvez não tenha percebido a pergunta, quem sabe?

(O Mar Sem Fim enviou pedido de entrevista com Marina Silva. Enquanto isso não acontece, agora podemos ter mais algumas pistas do pensamento da ministra sobre o maltratado litoral)

“Marina Silva da pouca atenção ao bioma marinho e zona costeira”

O subtítulo está entre aspas para salientar que esta é a opinião deste site. Desde o primeiro ano deste governo temos cobrado para que Marina exponha suas ideias sobre o litoral. Sugerimos, também, medidas práticas como buscar financiamentos internacionais para o replantio de manguezais. Esta é uma iniciativa já amplamente realizada na Ásia, Oceania, África, e na América do Norte e Central, mas até agora ausente na América do Sul. Entretanto, em sua resposta Marina conta sobre um acordo, o que não sabíamos.

Consideramos importante destacar os planos da ministra em relação a uma das questões que afetam o litoral e o bioma marinho, frequentemente tratados superficialmente por sua gestão. Entretanto, mangues e restingas continuam sendo decepados pela indústria do turismo e da construção Acontece no Sul, no Sudeste e Nordeste. Em 2024 publicamos diversos posts que provam o quão forte é a especulação imobiliária (muitas vezes atuando em conjunto com autoridades municipais) que sempre está por trás da perda de vegetação, mas impunemente. Sobre isso nada foi dito.

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Assim como nada foi dito em relação às políticas de pesca, ou sobre a agenda ambiental marinha que está parada.

Voltando às duas cartas destes post, elas são uma reprodução do conteúdo do site do MMA, que alerta: ‘tradução livre para o português da versão original em espanhol’.

Agora passamos a palavra à vencedora, a estudante de 15 anos, Juliana Zatarim…

Excelentíssima ministra do Meio Ambiente, Marina Silva,

Escrevo esta carta para expressar minha grande preocupação com a ameaça que as mudanças climáticas exercem sobre os manguezais amazônicos.

“Os manguezais amazônicos mais extensos do mundo estão ameaçados pelas mudanças climáticas”, de Ana Botallo Tayguara Ribeiro, é compreensível para mim porque, infelizmente, afeta diretamente a profissão do meu pai, que trabalha na área da Agronomia grande influência, especialmente em nossa região, onde chove pouco e o clima está cada vez mais seco, prejudicando as plantações e tornando o solo infértil.

‘Manguezais armazenam uma grande quantidade de carbono’

Sabe-se que os manguezais armazenam uma grande quantidade de carbono e contribuem significativamente para os esforços de combate às mudanças climáticas. Essas mudanças, juntamente com o aumento do nível do mar e das temperaturas, estão destruindo esse ecossistema. O derretimento do gelo e a elevação do nível do mar destroem valiosas áreas de vegetação, comprometendo tanto o papel dos manguezais como habitat animal quanto sua capacidade de capturar e armazenar dióxido de carbono. Além disso, o aumento da acidificação dos oceanos altera a circulação da água, essencial para a sobrevivência dos peixes.

Essas mudanças terão um impacto significativo na biodiversidade local e nos meios de subsistência das comunidades que dependem dos manguezais para a pesca e outras atividades. Assim como o comércio ilegal de vida silvestre afeta os ecossistemas florestais, o desmatamento ilegal também tem um impacto negativo na sustentabilidade dos ecossistemas florestais e costeiros.

Penso, com grande preocupação, nesses temas e, por isso, proponho algumas formas de proteger os peixes amazônicos e reduzir os efeitos das mudanças climáticas.

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As sugestões de Juliana

1. Aumentar a conscientização e o entendimento das comunidades costeiras e urbanas. Compreender os manguezais e seus usos. Auxiliar na mitigação das mudanças climáticas e prevenir desastres naturais.
2. O mundo deve se unir para implementar políticas climáticas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e o aumento do nível do mar.
3. Trabalhar com grupos ambientalistas e organizações de pesquisa para avaliar os impactos das mudanças climáticas nas florestas tropicais e desenvolver estratégias de adaptação e restauração.
4. Implementar medidas de proteção ambiental que unam as comunidades florestais e ofereçam oportunidades econômicas e de moradia.

Acredito que essas medidas reverterão rapidamente os danos causados e protegerão a vida na região. Devemos nos comprometer a preservar esses recursos e garantir um meio ambiente saudável e justo para as futuras gerações.

Atenciosamente,

Juliana Zatarim

Resposta de Marina Silva

Prezada Juliana,

Primeiro, gostaria de parabenizá-la pela premiação no concurso do Pulitzer Center. Foi um enorme prazer saber do seu interesse e preocupação com nosso meio ambiente.

Acima de tudo, desejo que sua carta seja lida não apenas por mim, como ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, mas por todas as autoridades brasileiras e internacionais, empresários e todas as pessoas que se preocupam com nosso bem maior: a vida. Sua carta é uma lembrança necessária dos riscos que enfrentamos no presente e que comprometem o nosso futuro.

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A conservação dos manguezais é de suma importância para o país, razão pela qual elegemos esse tema como prioritário na atual gestão do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Sob a responsabilidade do Departamento de Oceano e Gestão Costeira, criado no atual governo, estamos trabalhando para que haja o reconhecimento do papel dos manguezais na proteção da zona costeira, inclusive nas cidades costeiras, frente às mudanças climáticas. Sabemos que o ecossistema é fundamental não apenas para a sustentação da biodiversidade costeira e marinha, mas também para milhares de brasileiros e brasileiras.

‘Manguezais pressionados pela ocupação indevida’

Os manguezais são atualmente bastante pressionados pela ocupação indevida (Obs. do MSF, atenção leitor: esta pode ser a primeira vez que a ministra se refere publicamente ao ‘maior flagelo do litoral’ como chamamos, a especulação imobiliária) da zona costeira e cabe ao governo, junto à sociedade, zelar para que essa região permaneça protegida.

Como resultado do esforço empreendido pelo governo federal, foi instituído, em 5 de junho de 2024, o Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável dos Manguezais do Brasil, o ProManguezal (junho de 2024). Em outubro, lançamos o Plano de Ação do ProManguezal (de 2024, ‘resultado de mais de 10 anos de esforços conjuntos entre MMA, ICMBio…’ como destaca o site do MMA) composto por 89 ações e sete metas que vão ao encontro da sua preocupação pela saúde dos manguezais 

A captação de recursos

Sabemos da necessidade de captar recursos para a proteção dos manguezais. Nesse sentido, compartilhamos a informação de que o MMA foi contemplado pelo PROBLUE, uma iniciativa do Banco Mundial para a conservação dos manguezais da região Norte do país. Serão investidos US$ 550 mil para ações no Sítio Ramsar “Estuário do Amazonas e seus Manguezais”, contemplando aspectos climáticos na governança dos manguezais e a construção de capacidades para sua restauração, além do fortalecimento da cadeia produtiva e do uso sustentável dos manguezais com foco em gênero (Para nós é urgente que o MMA consiga o mesmo programa para as regiões que mais perdem mangues, Sul, Sudeste e Nordeste, o litoral Norte não tem o flagelo da especulação).

Como você bem disse, a noção de que vivemos em um único planeta, onde tudo está interligado, é crucial para uma nova postura diante da natureza e no uso dos recursos de que dependemos para nossa sobrevivência.

Esperamos que esse prêmio recebido seja apenas o início de uma caminhada em que você dê passos cada vez maiores na defesa do meio ambiente e  na luta pela justiça climática!

Um abraço fraterno,

Marina Silva

Opinião do Mar Sem Fim

Além daquelas expostas no próprio texto, a ministra deixou passar a chance de apresentar seus planos para mitigar os desastres que o aumento do nível do mar e a intensificação de eventos extremos causam no litoral. Apesar da gravidade do problema e dos enormes prejuízos gerados pela erosão costeira, que recaem sobre os contribuintes, o país ainda carece de um plano nacional para enfrentar um processo que claramente continuará se acelerando. Mais uma vez, Marina optou por uma postura econômica ao tratar questões relacionadas ao mar e à sua orla.

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