O plâncton ‘não sobreviverá às mudanças do clima’
Um novo estudo de cientistas da universidade de Bristol alerta que, ‘analisando a forma como o antigo plâncton respondeu à mudança climática há 21 mil anos, ele simplesmente não consegue acompanhar o ritmo dos atuais aumentos de temperatura’. A notícia não poderia ser pior. O plâncton é responsável por quase metade da produção primária global e por 90% da produção primária nos ecossistemas marinhos. Constituem, de maneira idêntica, a principal fonte de alimento para o zooplâncton e, em conjunto, formam a base da cadeia alimentar oceânica. Então, se o plâncton acabar…
Entenda a importância do plâncton
Segundo explicação da NOAA – Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos – ‘o zooplâncton, peixes, as aves e os mamíferos marinhos, dependem do plâncton para a sua sobrevivência’.
Para a NOAA, ‘numerosos estudos mostraram uma forte relação entre a sobrevivência das larvas de peixes e o momento e a produção do seu alimento (isto é, o plâncton). O momento e a produção de plâncton, por sua vez, dependem diretamente da temperatura da água bem como a disponibilidade de nutrientes (que são indiretamente controlados por padrões de circulação determinados pela temperatura). Assim, as alterações climáticas podem afetar o período de floração sazonal do plâncton, com efeitos que passam para a cadeia alimentar. As alterações climáticas a mais longo prazo podem até mesmo alterar a composição das espécies de plâncton, modificando o ambiente alimentar das larvas de peixe e, em última análise, toda a cadeia alimentar e o ecossistema’.
Como se vê pela explicação, a NOAA já antecipava o que o estudo de Bristol revela agora. Se acontecer, seria o pior dos mundos para a vida marinha.
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O estudo, publicado pela Nature, comparou como minúsculos organismos oceânicos, os plânctons, responderam quando o mundo aqueceu significativamente na história antiga. E ainda compararam com o que eles preveem que acontecerá sob condições semelhantes até o final do nosso século.
Ao descobrirem que o plâncton era incapaz de acompanhar a velocidade dos aumentos de temperatura, os cientistas expressaram preocupação com o impacto que isso terá sobre as “enormes faixas” da vida marinha que dependem deles como fonte de alimento.
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Os resultados são alarmantes
Rui Ying, que liderou o projeto na Universidade de Bristol, declarou à Revista Oceanográfica que ‘os resultados são alarmantes. Mesmo com as projeções climáticas mais conservadoras de um aumento de 2º C, é claro que o plâncton não pode se ajustar com rapidez suficiente para igualar a taxa de aquecimento que experimentamos agora e, ao que tudo indica, deve continuar’.
‘O plâncton’, disse Rui Ying, ‘é a força vital dos oceanos. Ele apoia a cadeia alimentar marinha e o armazenamento de carbono. Se sua existência estiver em perigo, isso representará uma ameaça sem precedentes que perturbará todo o ecossistema marinho. As consequências serão devastadoras e de amplo alcance para a vida marinha e também para o suprimento de alimentos humanos’.
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Apesar do Acordo de Paris propor esforços para que a temperatura não exceda 1,5º C até o final deste século, muitos cientistas já não acreditam, dada à falta de ação mundial. Desse modo, um relatório das Nações Unidas, no mês passado, alertou que ‘o mundo agora enfrenta até 3,1 graus Celsius de aquecimento se os governos não tomarem medidas para resgatar as emissões de carbono’.
Nós já mostramos que as plantas marinhas são mais eficientes que as terrestres no sequestro de dióxido de carbono, um dos gases de efeito estufa. E, mais uma vez, recorremos à NOAA para explicar aos leitores o que é o plâncton: ‘Os cientistas classificam o plâncton de várias maneiras, incluindo tamanho, tipo e quanto tempo passam à deriva. Mas as categorias mais básicas dividem o plâncton em dois grupos: fitoplâncton (plantas) e zooplâncton (animais).’
O site lusitano O Tempo, também repercutiu a novidade e lembrou que ‘alguns dados sugerem que as atuais alterações climáticas já modificaram drasticamente o plâncton marinho. Os modelos projetam uma deslocação do plâncton para ambos os polos (onde as temperaturas do oceano são mais baixas) e perdas de zooplâncton nos trópicos, mas podem não prever os padrões que os dados mostram. Os dados de satélite relativos à biomassa de plâncton são ainda demasiado curtos para determinar as tendências a longo prazo.
Assista ao vídeo das Nações Unidas sobre a migração do plâncton
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