Descoberto novo habitat na ilha das Couves

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Descoberto novo habitat na ilha das Couves

A ilha das Couves fica a pouca distância de terra, no litoral de Ubatuba. De lancha, ela fica a menos de 10 minutos da vila das Couves de Picinguaba, uma vila de pescadores que hoje fatura mais com o turismo. Apesar de estar lá há milênios, a pequena ilha foi subitamente ‘descoberta’ pelo turismo ali por 2017. Pela curta distância, e belezas naturais como praias, costões, águas claras, e cobertura de Mata Atlântica, ela foi invadida pelo turismo. Em um fim de semana até cerca de cinco mil pessoas a visitavam. Na época este site denunciou o turismo desordenado. Ficamos no pé da Fundação Florestal, a quem cabe a gestão, até que um plano de manejo foi feito e a ordem começou a voltar. Agora, mais uma surpresa foi descoberta, um novo habitat na ilha das Couves.

Novo habitat na ilha das Couves, banco de rodolitos.
Novo habitat na ilha das Couves, banco de rodolitos. Esponjas-do-mar (Desmapsamma anchorata) e algas diversas crescendo sobre os rodolitos exemplificam a vasta diversidade associada a esses ambientes (foto: Guilherme Pereira-Filho/LabecMar-Unifesp).

Banco de rodolitos de calcário

Tão perto da costa mas, ao mesmo tempo, tão desconhecida. Os pesquisadores estão abismados com a descoberta de um banco de rodolitos formado por nódulos de algas calcárias a apenas seis metros de profundidade, e com com uma extensão de cinco mil metros quadrados.

Com sorte, é possível vê-lo do convés de um barco. Segundo a Revista Fapesp, ‘esta é apenas a segunda ocorrência de um banco de rodolitos no litoral paulista’. A primeira ocorreu em 2019 na ilha da Queimada Grande, litoral sul do Estado.

Na ilha da Queimada Grande,  notável pela existência da cobra endêmica Jararaca Ilhoa, há igualmente um banco de recifes de corais junto aos rodolitos. Ambas as descobertas são de especialistas da  Universidade Federal de São Paulo – Unifesp.

A Fapesp ouviu o professor Guilherme Henrique Pereira Filho, autor da nota técnica sobre a novidade: “Perceber esse hábitat recobrindo mais de 5 mil metros quadrados, em uma profundidade de apenas seis metros, evidencia ainda mais a nossa carência de informações acuradas sobre a diversidade marinha.”

O professor tem razão. O Brasil é conhecido por investir pouco em pesquisa, menos ainda em pesquisa submarina, normalmente mais cara e dispendiosa.

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A importância da descoberta

‘Na nota, diz a Revista Fapesp, os pesquisadores explicam que os bancos de rodolitos aumentam a heterogeneidade ambiental e, consequentemente, a diversidade de organismos associados, em comparação a outros tipos de fundo marinho. Os nódulos que formam o banco apresentam uma estrutura tridimensional com formatos irregulares que funcionam como micro-habitats para invertebrados, algas e peixes, incluindo muitas espécies endêmicas e de interesse comercial.’

‘Os bancos formados pelo acúmulo de nódulos de algas calcárias em grandes áreas do fundo marinho fornecem grande variedade de nichos e recursos ecológicos. Eles atuam como engenheiros de ecossistemas. O formato tridimensional oferece proteção contra predação e ameniza condições ambientais estressantes para a fauna.’

Outros bancos de rodolitos da costa brasileira

Outro banco de rodolitos com recifes de corais fica na Bahia, no Banco Royal Charlote. É por este motivo que há muito pesquisadores pedem a ampliação da área do parque nacional de Abrolhos, no sentido de englobar também o banco Royal Charlote.

Banco de rodolitos.
Banco Royal Charlote. Imagem, professor Carlos W. Hackradt.

Um estudo de 2012 confirmou que o Banco dos Abrolhos abriga o maior banco contínuo de rodolitos do planeta. São 20.900 km², o que corresponde a três vezes e meia o tamanho do Distrito Federal.

Formação dos bancos de rodolitos

Quem explica são pesquisadores da Universidade Federal da Bahia, em artigo publicado na Nature. ‘Os bancos de rodolitos são formados por, rodolitos, em outras palavras, algas altamente especializadas em captura de carbono e formadoras de megahabitats bênticos (“bêntico” vem do grego “benthos” e se refere às comunidades de organismos que vivem no fundo do mar).’

‘De uma forma parecida com o processo de formação de corais, um rodolito  retira o carbono da água e o solidifica ao redor de si, gerando com isso o carbonato de cálcio, que é essencial para a vida marinha.  Isso confere ao rodolito a aparência endurecida de uma pedra de rio.’

‘Além disso, os rodolitos servem de abrigo para espécies pequenas de animais invertebrados que vão, por sua vez, servir de alimento para espécies maiores, como peixes, e como base para fixação de algas maiores, que vão alimentar peixes herbívoros.’

Por último, ‘um banco de rodolitos, portanto, é uma área repleta desses seres vivos que são capazes de criar o próprio habitat com seu processo vital. A sua capacidade de formar carbonato de cálcio também confere valor comercial ao rodolito como fonte de calcário para correção de solo na produção agrícola.’

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