Fugindo da miséria, na Nigéria, três pessoas viajam 2.700 milhas no leme de um navio
O site da ONU informa que ‘existem atualmente 46 economias designadas pelas Nações Unidas como os países menos desenvolvidos, o que lhes dá direito a acesso preferencial a mercados, ajuda, assistência técnica especial além de capacitação em tecnologia, entre outras concessões.’ A maioria fica na África. Apesar disso, a Nigéria não é um deles. Contudo, três nigerianos fugindo da miséria fizeram uma viagem aterradora, amontoados no leme de um navio que zarpou de Lagos para, 2.700 milhas depois, ou 11 dias, chegar em Las Palmas, Ilhas Canárias.
Onze inacreditáveis dias no leme de um navio
Ao me deparar com a matéria da BBC, Spanish coastguard finds stowaways on ship rudder (Guarda costeira espanhola encontra clandestinos no leme de navio), não acreditei.
De antemão, achei que fosse fake. Contudo, fui conferir no Google. Para meu espanto estava lá, ao lado de outras do Guardian, e Washington Post.
Fiquei chocado. E, imediatamente, pensei no sofrimento destes três seres humanos. O quanto eles devem ter sido castigados pela vida para se arriscarem deste modo? Como aguentaram 11 dias no leme, mesmo que seja na ‘casa’ de leme, um minúsculo buraco no casco de um navio em alto-mar?
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Imediatamente levaram-nos ao hospital para tratarem por desidratação moderada. Não está claro se passaram toda a jornada empoleirados no leme.’
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Navio Althini II
BBC, ‘O Althini II, de bandeira maltesa, chegou a Las Palmas vindo da maior cidade da Nigéria, Lagos, de acordo com dados coletados por sites de rastreamento marítimo.’
Guardian, ‘Txema Santana, assessora de migração do governo das Ilhas Canárias, twittou: “Não é o primeiro e não será o último. Os clandestinos nem sempre têm a mesma sorte.”
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Os três nigerianos não foram os primeiros
E acrescenta, ‘Em outubro de 2020, quatro pessoas se esconderam no leme de um petroleiro de Lagos. De maneira idêntica, esconderam-se por 10 dias antes de serem descobertas pela polícia quando a embarcação entrou em Las Palmas.’
Ou seja, eles não foram os primeiros…O site da abcnews confirma: ‘ Outras pessoas foram descobertas anteriormente agarradas a lemes enquanto arriscavam suas vidas para chegar às ilhas espanholas. O Salvamento Marítimo tratou seis casos semelhantes nos últimos dois anos, segundo Sofía Hernández, que dirige o centro de coordenação do serviço em Las Palmas.’
‘Os migrantes podem procurar abrigo dentro da estrutura em forma de caixa ao redor do leme, explicou Hernández. Ainda assim são vulneráveis ao mau tempo. “É muito perigoso”, disse à AP (agência de notícias).’
De acordo com o abcnews, ‘Em casos como esses o armador é o responsável por trazer os clandestinos de volta ao ponto de partida, segundo a delegação do governo espanhol nas ilhas.’
Dois foram reembarcados
Segundo o site especializado em navegação gcaptain.com, ‘Dois dos três passageiros clandestinos foram devolvidos ao navio com o objetivo de deportá-los. O terceiro, que sofreu hipotermia e desidratação, ainda não recebeu alta do hospital.’
A infâmia enfureceu Helena Maleno, diretora da organização não governamental de migração, Walking Border: ‘Os migrantes deveriam, no mínimo, ter sido informados do seu direito de pedir asilo político e deveriam ter sido questionados antes de serem devolvidos.’
Helena acrescentou: “Essas pessoas devem estar em estado de choque. Elas precisam alguns dias para se recuperarem e, a partir daí, explicarem do que fugiam para tomar essa decisão”.
Atualizado em 2 de dezembro
Segundo matéria da BBC, enviada pelo leitor Lauresto Couto Esher nesta data, ‘dois dias após terem sido resgatados na costa das Ilhas Canárias, eles alcançaram seu objetivo: permanecer na Espanha, pelo menos por enquanto.’
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‘A princípio, a delegação do governo nas Ilhas Canárias havia informado que os três migrantes seriam levados de volta ao navio assim que se recuperassem.’
‘”São três nigerianos maiores de idade. Os três pediram asilo, e um ainda está hospitalizado”, informou à BBC News Mundo a subdelegação do governo de Las Palmas, na Ilha de Gran Canária.’
‘”O fato de terem se submetido a uma travessia tão arriscada deve ser considerado como um indício para analisar individualmente as circunstâncias pessoais dos três náufragos”, afirmou a ONG, que tinha alertado que dois dos imigrantes tinham sido levados de volta ao navio na terça-feira.’
Os dois nigerianos devolvidos ao navio desembarcaram depois de pedirem asilo. Felizmente, como parece, os três terão uma chance. Menos mal.
O que dizer de uma viagem nestas condições?
Já li muito sobre travessias navais que terminam em tragédias. Ou ainda sobre o sofrimento de náufragos. Mas, estes, são frutos de acidentes; enquanto a deles, uma escolha. Que terrível desesperança os levou a tal decisão?
Desde que tomei conhecimento não consigo parar de pensar sobre os 11 dias de horror, angústia, e privação. Mas nem isso comoveu as autoridades. Eles voltarão para o inferno do qual fugiram.
Só por isso considerei que vale dividir a informação. Nem que seja para levantarmos as mãos aos céus e agradecer pela sorte que temos.
Isso porque a Nigéria é um país rico em recursos naturais, incluindo petróleo, um dos maiores produtores do mundo. Se há algo errado, denomina-se má distribuição de renda, bem como o que não falta é africanos no Catar pagando 5 mil por dia para…assistir jogos.
Precisamos melhorar a vida humana no planeta. Precisamos parar de procriarmos apenas
para trabalhar e consumir. Para manter um sistema desigual de capitalismo. Muitos anos
para estudar, outros trabalhando e no fim nossas vidas passaram. Outros nem essa oportunidade
tem, sobrevivem penamente com muito sofrimento e quando desesperados se arriscam em
qualquer aventura.
Só de pensar que esses caras poderiam a qualquer momento estar abaixo da linha d’água já tira o fôlego. É um misto de desespero e loucura.
Pior é que quando aquela senhora disse “nem todos tem a mesma sorte” ela se referia à sorte de serem deportados e mandados de volta. O que seria, para ela, um azar?
Essa notícia me parece bastante incompleta, pois é cientificamente comprovado que o corpo humano não resiste a mais de 5 dias sem a ingestão de água; quanto a alimentos, o corpo resiste por volta de 15 dia sem ingestão alguma de alimentos, desde que tenha suficiente gordura acumulada e esses clandestinos ficara menos tempo que esse limite, mas, repetindo, sem água está muito estranho!
Lauresto, apesar de seu comentário, a notícia saiu no mundo inteiro nos maiores jornais e sites. É óbvio que o ser humano não aguenta tanto tempo sem água ou comida. Mas, como os três foram levados ao hospital assim que chegaram, não foram entrevistados. De qq modo, não é este o foco. E sim do que é capaz o sofrimento humano para as pessoas sem a nossa sorte.
Podes crer… só falta aparecer um comentando que a foto deveria ser feita de outro ângulo…
Olá João, grato pela resposta.
Há notícia complementar no site abaixo que informa mais detalhes sobre esse salvamento e o problema do que lá chamam de “Rota das Canárias”. Fiquei impressionado com a “sorte” desses refugiados pois há a informação que neste ano já houve 800 mortos nessa rota. Mas não foram reenviados à Nigéria e estão aguardando a concessão do asilo solicitado:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63819364
Ok,obrigado. Acabei de atualizar o post, felizmente eles terão a merecida chance. Abraços
É uma barbaridade a falta de solidariedade! Boa sorte para eles?