Viagem da Kika, de Itajaí para João Pessoa, relato nº 16

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Viagem da Kika, de Itajaí para João Pessoa, relato nº 16

Depois da temporada nos mares do sul fizemos a pintura do barco em Itajaí. As águas tropicais aceleram a proliferação de algas e conchas atacando o alumínio do casco. Zarpamos em junho diretamente para Ilhabela. A bordo éramos apenas Georges e eu. Apesar dos 20 metros de comprimento e 35 toneladas de peso a manobra do Antarctic é simples, o único inconveniente de navegar a dois é que à noite temos que nos revezar nos turnos. Viagem da Kika, de Itajaí para João Pessoa.

A chegada em Ilhabela

Senti uma forte emoção ao chegar em Ilhabela, um lugar que frequentei desde que nasci, onde corri mais regatas na minha vida e me casei na igreja matriz. Estava realmente feliz de rever a família e os amigos assim como mostrar para o Georges um pedaço importante do meu passado. Celebramos o aniversário de 70 anos dele com uma animada festa a bordo do Antarctic ancorados na Armação, em frente à BL3.

imagem de interior de veleiro
Os preparativos para a festa.

Passamos o mês de julho curtindo a ilha de uma forma que eu nunca havia feito antes, ancoramos em diversas praias e baías, exploramos o litoral com calma, compramos peixe com os pescadores das pequenas comunidades que ainda sobrevivem. Foi uma forma deliciosa de receber os amigos no que é hoje minha casa flutuante.

Ilhabela é a maior ilha marítima do Brasil e 85% de seu território é um Parque Estadual. Nesta temporada muitas baleias foram avistadas e pudemos ver algumas jubartes. A cidade estava em festa com a tradicional Semana de Vela de Ilhabela.

Paraty

Em agosto navegamos para Paraty num memorável encontro familiar, sou uma mãe realmente coruja e não há nada que me dê mais satisfação do que ter meus filhos reunidos.

imagem de AAdriana Mattoso
Adriana Mattoso é a primeira da direita.

Nossa base em Paraty foi o Saco do Mamanguá, que fica dentro da Reserva Ecológica da Juatinga. Nossa super anfitriã Adriana Mattoso conhece como ninguém a região e suas comunidades, entramos no manguezal de bote, nadamos numa belíssima cachoeira no meio da mata, apreciamos a vista maravilhosa do topo do Pão de Açúcar, comemos muito robalo e camarão.

Ponta da Juatinga

Velejamos até a Ponta da Juatinga e visitamos a comunidade caiçara, alguns garotos nos acompanharam pela trilha que leva ao farol. Quantas vezes avistei à distância este farol nas regatas Santos – Rio, numa época que não havia GPS ele marcava o ponto no qual nos afastávamos de terra para evitar a área de pouco vento da Baia da Ilha Grande. Num espírito cruzeiro esta generosa baía oferece alternativas sem fim de passeios e abrigos, para todos os gostos.

imagem de caiçaras da Ponta da Juatinga
Embarcando na Ponta da Juatinga.

Deixamos o Antarctic durante quatro meses na Marina do Engenho em Paraty, a Receita Federal permite que um turista estrangeiro deixe sua embarcação de bandeira estrangeira no Brasil durante um período de até 2 anos, desde que esteja sob custódia de uma marina e ninguém a use.

Passagem do ano no Mamanguá

Voltamos para celebrar a passagem do ano no Mamanguá e zarpamos rumo norte com meu filho Matias que nos acompanhou até Búzios. Nosso destino final era João Pessoa, a partir de onde iríamos empreender a travessia do Atlântico.

Velejamos sempre pegados à costa a fim de evitar a corrente do Brasil no sentido contrário, em alguns pontos ela se aproxima bastante do litoral. Ao passar em frente a Vitória me veio a memória a Regata Eldorado Brasilis até a belíssima Ilha da Trinidade, a mais longa regata do Brasil. Em 2003 participamos com uma tripulação feminina e contamos com o grande apoio do João Lara e Plinio Romeiro Jr. Foi uma experiência inesquecível e fizemos história.

imagem de trinta réis na proa de veleiro
Trinta-réis de carona em Abrolhos.

Atravessamos o Arquipélago de Abrolhos dentro do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, uma região com a maior biodiversidade marinha do Brasil e do Atlântico Sul, um santuário no meio do oceano.

Maraú, no sul da Bahia

Fizemos uma escala de uma semana em Maraú, no sul da Bahia. Durante muitos anos passei minhas férias neste paraíso que conheci graças aos queridos amigos Piuí e Carmita. Eles estavam nos aguardando na Ponta do Mutá com seu barco para nos darem as boas vindas, foi uma recepção incrível.

A Baía de Camamu é a terceira maior do Brasil e está bastante preservada, suas águas são limpas e é possível ancorar tranquilamente em enseadas desertas. Coberta de manguezais e recebendo diversos rios a baía é o berço da cadeia alimentar para diversas espécies.

As ancoragens clássicas para quem entra na baía são no Campinho, no Sapinho e na ilha o Goió. Com pé na areia os bares próximos convidam a entrar no astral baiano e a degustar as delícias locais, com muito aconchego.

Mestres carpinteiros constroem escunas

Visitamos Cajaíba onde os mestres carpinteiros constroem escunas e saveiros numa tradição que passa de uma geração a outra. Entramos pelo Rio do Céu até o porto do Jobel de lancha pois um cabo de alta tensão não permite a passagem dos 25 metros de mastro do Antarctic.

imagem de escunas em construção

Subimos o Rio Maraú com margens cobertas por manguezais e matas nativas e nos detivemos nas ilhas Tubarões e Tatus, onde é possível apreciar a tranquila vida dos nativos, parada no tempo. Navegamos até a linda cachoeira de Tremembé, onde é fundamental seguir a maré. Visitamos o Jayme na Ilha Grande, tranquila e preservada do turismo.

Viagem da Kika, de Itajaí para João Pessoa

Zarpamos rumo norte com vento constante e favorável, abrigamos para dormir em frente ao farol de Salvador, mais adiante ancoramos em Maceió para ir ao supermercado.

Chegando em João Pessoa entramos pelo Rio Paraíba até a Marina Jacaré, tradicional destino de veleiros de várias bandeiras que chegam na América do Sul desde a Europa e África do Sul. A marina oferece um ótimo suporte para veleiros e o ambiente é agradável, o idioma que prevalece é o francês.

Acompanhe o relato anterior 

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