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Ressaca do mar: o que é, e como se forma

Ressaca do mar: o que é, e como se forma

O fenômeno da ressaca do mar, que tantos estragos têm causado na costa brasileira, é assim definido pelos dicionários: “forte movimento das ondas sobre si mesmas, resultante de mar muito agitado, quando se chocam contra obstáculos no litoral.”

Já, as ondas (de superfície) são geradas pelo vento. Este, ao  soprar sobre a superfície do oceano, aumenta a sua rugosidade. E forma ondas de pequeníssima amplitude (da ordem do centímetro) chamadas ondas capilares.

Esta rugosidade permite uma crescente transferência de energia do vento para a superfície do mar. O processo de transferência é complexo. Está associado a vários mecanismos tais como diferenças de pressão entre as cristas e as cavas. Quanto maior for o período durante o qual soprar o vento, e quanto mais intenso este for, maior será a altura das ondas.

Conceição da Barra, ES, destruída por ressacas anos atrás. A foto é de 2006.

Ressaca marítima e eventos meteorológicos extremos

Com a palavra, o professor Ricardo Camargo, do departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo: “como as ressacas estão ligadas ao impacto de eventos meteorológicos extremos sobre o oceano, pode-se associar sua ocorrência à passagem de ciclones e tufões.”

O site da Climatempo explica os ciclones: “Existem ciclones tropicais, ciclones subtropicais e extratropicais. Todos são sistemas de baixa pressão atmosférica onde o ar se movimenta no sentido horário, no Hemisfério Sul, e no sentido anti-horário no Hemisfério Norte.

O ciclone no hemisfério norte. Note que ele gira da esquerda para a direta (sentido anti-horário).

Abaixo o ciclone Catarina, que atingiu Santa Catarina em 2004.

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O ciclone catarina, hemisfério sul, que gira no sistema horário, da direta para a esquerda

Quando acontecem as ressacas?

Quem responde é o Dr. Jeferson Prietsch Machado, professor de Meteorologia na Unesp: “Se focarmos no Litoral Sul e Sudeste do Brasil, as ressacas podem ocorrer em qualquer época do ano. Entretanto, é mais comum durante o inverno e a primavera, quando a formação dos ciclones extratropicais ocorre com maior frequência.”

Agora você já pode entender porque o litoral do Brasil tem sido assolado por ressacas quase todas as semanas de junho e julho.

Praia do Boião, Espírito Santo. Praia, cadê a praia?

Ondas, e sua chegada aos litorais provocando ressaca marítima

Se as ondas oceânicas não sofrem qualquer influência do fundo marinho, as que chegam ao litoral, sofrem, e muito. Quanto mais raso se torna o assoalho marinho, maior a altura das ondas.

Se houver vento forte, os tais ciclones, então a coisa fica feia. Torna-se uma ressaca do mar. Outra característica que contribui para a destruição provocada pelas ressacas, é a formação das praias por elas atingidas.

Quanto mais abertas, mais ondulações  recebem. Quando mais fechadas, menos oscilação. O formato do fundo marinho, e a direção em que a praia aponta, também são fatores que influenciam.

Ressacas, e a destruição de cidades e balneários no litoral brasileiro

Já denunciamos dezenas de vezes as construções irregulares no litoral. Elas não só destroem a paisagem, um bem milenar que pertence a todos os brasileiros, como contribuem para maior destruição.

Aqui, até mesmo um balneário inteiro foi construído em área de dunas, o Balneário do Hermenegildo, no sul do País. E ele não é o único, antes fosse.

Casa ‘pe na areia’ em praia do Ceará. Foto de 2006. A esta altura, ela já não deve existir, tragada pelas ressacas.

Casas de segunda residência “pé na areia”

Por quê? Porque aqui se tornou moda casas de segunda residência ‘pé na areia’, um equívoco dos Tristes trópicos, e objeto de desejo de muitos incautos.

Não pode haver construções em cima da areia da praia, dunas, ou que tais (saiba quais as funções das dunas). Os nativos da costa sabem disso. Jamais constroem na areia. Mas sim, no interior, normalmente depois da primeira faixa de árvores.

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Ao fazerem isso, preservam a paisagem mesmo sem o saberem, ou quererem. E têm uma moradia mais agradável, sombreada; e segura, longe dos humores do mar, protegidas pela vegetação.

O poder público e as leis de ocupação do litoral

Por isso há leis específicas sobre construções na orla. Leis quase sempre desrespeitadas por gente com poder aquisitivo para estudar, progredir na vida e… construir no litoral. Bem feito. Merecem, pela burrice e egoísmo, perderem suas casas.

Já o poder público também tem grande parcela de culpa. Não fiscaliza o litoral como deveria. E também constrói próximo demais do mar, seja obras públicas, como estradas, ou até mesmo municípios inteiros. O resultado é um brutal prejuízo, algo como R$ 270 bilhões em dez anos (conheça os custos dos eventos extremos no Brasil).

Lembrando que, como diz o IBGE, ‘o Brasil é povoado no litoral e vazio no interior’. Milhões de pessoas são prejudicadas. E o prejuízo da omissão, todos pagamos com nossos impostos. Mesmo aqueles que sequer frequentam o litoral. Está certo isso?

Imagem de abertura: Foto: Beira-Mar de Matinhos, Paraná. Almir Alves – Matinhos Agora

Fontes: http://geofisica.fc.ul.pt/informacoes/curiosidades/ondasoceano.htm; https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2017/08/15/clique-ciencia-por-que-o-mar-tem-ondas.htm; http://www.impactounesp.com.br/2016/11/ressaca-do-mar-causa-transtornos-em.html; https://www.climatempo.com.br/noticia/2016/11/16/ciclone-tropical-subtropical-e-extratropical-3424; https://www.surfguru.com.br/ciencia/2017/01/a-influencia-das-aguas-rasas-nas-ondas-que-chegam-a-uma-praia.html.

Travessia do Atlântico em tonel, maluquice realizada

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