Primeira fazenda de polvos do mundo cria polêmica na Europa
O anúncio da primeira fazenda de polvos do mundo criou polêmica na Europa. Segundo o euronews, ‘A proposta vazou pela primeira vez em fevereiro de 2022 – mas esta é a primeira vez que surgem detalhes. A fazenda nas Ilhas Canárias abrigará as criaturas em tanques de 1.000 L em um prédio de dois andares, mostram os documentos, levando a uma taxa de mortalidade de cerca de 10 a 15%.’ Quem está por trás da ideia é a empresa Nueva Pescanova que já investiu mais de 65 milhões de euros na enorme fazenda nas Ilhas Canárias. A exploração terá capacidade para produzir 3.000 toneladas de polvos por ano. Para alguns cientistas, a proposta é ‘cruel’.
Para o Reino Unido, polvos são seres sencientes
Em 2022 o Reino Unido reconheceu os polvos como “seres sencientes” após uma revisão independente de 300 estudos científicos pela London School of Economics and Political Science. A revisão apresentou evidências irrefutáveis de que os polvos são capazes de sentir dor, bem como excitação e prazer. Se você duvida, assista ao documentário Professor polvo.
Segundo o site da empresa, ‘O Grupo Nueva Pescanova trabalha na Aquicultura porque sabemos que os recursos marinhos são limitados e que para que as gerações futuras possam usufruir deles devem ser especialmente protegidos por todos os setores envolvidos. Temos uma área de produção de cerca de 7.000 hectares (equivalente a 10.000 campos de futebol) dedicada ao cultivo de diversas espécies.’
‘Para além disso, dispomos de um dos centros de investigação, desenvolvimento e inovação que é uma referência internacional na Aquicultura: o Pescanova Biomarine Center. Localizado em O Grove (Galiza, Espanha), dedica-se a melhorar a criação de espécies comerciais em termos de genética, nutrição, gestão e sanidade.’
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemVírus da gripe aviária mata milhões de aves mundo aforaArquipélago de Mayotte, no Índico, arrasado por cicloneAcidente com dois petroleiros russos ameaça o Mar NegroContudo, os cientistas pensam de forma diferente. Para eles, Devido à sua natureza inquisitiva e curiosa, os polvos sofrerão muito em cativeiro. Eles também são criaturas solitárias e territoriais, e os especialistas temem que ficar presos em espaços fechados com vizinhos indesejados os levem a comer uns aos outros.
O euronews informa que ‘Tentativas anteriores de se criar polvos enfrentaram altas taxas de mortalidade entre os animais, bem como casos de agressão, canibalismo e automutilação.’ A mesma fonte destaca que ‘Atualmente, não há nenhum método humano reconhecido para matar polvos. As técnicas usadas em polvos selvagens estão longe de serem misericordiosas. Os polvos mortos para consumo são muitas vezes fervidos vivos, espancados na cabeça, sufocados ou congelados no gelo.’
PUBLICIDADE
Foi isso que desencadeou a polêmica na Europa.
A demanda por carne de polvo no mundo
Estima-se que cerca de 350.000 polvos sejam capturados na natureza todos os anos, 10 vezes mais do que na década de 1950. Além disso, a crescente procura por polvo está provocando a sobrepesca deste animal e, consequentemente, o aumento do seu preço no mercado mundial. Tudo isto contribui para tornar cada vez mais apelativa a ideia de se criar polvos.
Leia também
Baleia Colossal do Peru, animal mais pesado que já existiu?Berçário de polvos descoberto ao largo da Costa RicaMoluscos de Santa Catarina contaminadosAcredite ou não, diz o euronews, a Nueva Pescanova está realmente buscando uma doação dos fundos Next Generation da União Europeia, o pacote de empréstimos e doações da UE para apoiar a recuperação da pandemia e promover uma economia mais verde.
A alegação da empresa é que a criação reduzirá a pressão crescente sobre os estoques selvagens, de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Seja como for, não é o que mostram os estudos. Em “The Case Against Octopus Farming” publicado em Issues in Science and Technology em 2019, os pesquisadores argumentam que “a criação de polvos é contraproducente do ponto de vista da sustentabilidade ambiental”, já que os polvos seguem uma dieta carnívora que contém farinha de peixe.
Neste estudo os pesquisadores não recomendam a criação por motivos éticos e ecológicos. ‘Dadas suas habilidades excepcionais, pode-se perguntar se os humanos deveriam comer polvo, mas aqui queremos levantar uma questão ética diferente. À medida que a demanda global por polvo cresce, especialmente em mercados ricos, também aumentam os esforços para cultivá-los. Acreditamos que os polvos são particularmente inadequados para uma vida em cativeiro e produção em massa, por razões éticas e ecológicas.’
Peixes se alimentam de…peixes
O mesmo estudo ressalta o grande problema da criação de peixes, a alimentação. Em outras palavras, peixes se alimentam de…peixes. E isto coloca mais pressão sobre os cardumes.
‘Ao contrário dos animais de criação terrestres, cuja maioria evoluiu como herbívoros, a maioria das espécies de animais aquáticos de criação, incluindo salmão, truta e camarão, são carnívoras e dependem de proteína e óleo de peixe durante certos estágios de desenvolvimento.’
‘Alimentar a maioria dos animais aquáticos criados em cativeiro coloca pressão adicional sobre os peixes selvagens e invertebrados para a obtenção de farinha de peixe. Cerca de um terço da pesca global é transformada em ração para outros animais, metade disso vai para a aquicultura. Muitas pescarias em busca de farinha de peixe estão sujeitas à sobrepesca e em declínio.’
PUBLICIDADE
Para além disso, há outro problema em todas as matérias que vimos, a poluição. ‘Os impactos ambientais da aquicultura são bem conhecidos. Eles incluem poluição de nitrogênio e fósforo liberados de fezes e decomposição de alimentos; contaminação por fertilizantes, algicidas, herbicidas e desinfetantes; uso excessivo de antibióticos; cruzamentos e transmissão de doenças entre peixes fugitivos e variedades selvagens; e perda de habitat natural (como o mangue) usado para fazendas.’
E, você, de que lado fica nesta polêmica?