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Vikings e portugueses o que os une nos mares?

Vikings e portugueses o que os une nos mares?

Réplica da caravela Vera Cruz
Réplica da caravela Vera Cruz construída em 2000 para comemorar os 500 anos da descoberta do Brasil. Imagem, FaceBook, Fernando Ferreira.

Vikings e portugueses, embora separados por séculos e culturas muito diferentes, compartilham um papel fundamental na história da navegação e da conexão entre povos. Ambas as sociedades dominaram os mares em suas respectivas épocas, abrindo rotas que mudaram o curso do comércio e da cultura em escala global.

Contudo, para abrir estas rotas, primeiro eles tiveram que conhecer as correntes marítimas de ambos os oceanos Atlântico, os vikings ao Norte, os lusitanos ao Sul. E além das correntes, foram obrigados a decifrar o regime dos ventos em ambos os hemisférios. É por este motivo, que suas rotas perduraram iguais até o advento do motor a vapor. Portanto, trata-se de um feito notável para as respectivas épocas.

Navegadores intuitivos: o instinto como ferramenta

Vikings e portugueses desenvolveram suas habilidades náuticas muito antes da era da tecnologia. Usavam os astros, os ventos, as correntes e até a coloração e profundidade do mar para se orientar. Os vikings dominavam o Atlântico Norte sem bússola, guiando-se por tradição oral, observação de aves e, possivelmente, pedras solares. Séculos depois, os portugueses também confiavam na experiência acumulada, vencendo o temido Mar Tenebroso com tentativa e erro. Nada disso nasceu na lendária Escola de Sagres, mas sim da prática e da transmissão direta de saberes.

Expansão marítima de vikings e portugueses

Ambos os povos buscaram novos territórios, riquezas e rotas comerciais. Os vikings partiram da Escandinávia e alcançaram a Normandia, Dublin, a Islândia, a Groenlândia e até a América do Norte. Atacaram e também fundaram cidades. Já os portugueses, após ultrapassarem o Cabo Bojador em 1434, avançaram rapidamente: dobraram o Cabo da Boa Esperança, chegaram à Índia, instalaram-se em Goa e Cochim (1502), Malaca (1509) e fundaram Macau (1557).

Contribuição para as cidades e o comércio europeu

As viagens de vikings e portugueses impulsionaram o crescimento urbano e o comércio. Os vikings estabeleceram entrepostos e rotas que estimularam a urbanização no norte e leste da Europa. Os portugueses criaram feitorias e colônias que deram origem a cidades portuárias e grandes mercados na África, Ásia e América.

Navegações dos vikings e suas rotas

Os vikings criaram rotas que conectavam o Atlântico Norte, o Mar Báltico, a Rússia, o Oriente Médio e o Império Bizantino. Por essas vias, transportavam peles, marfim, tecidos, metais, especiarias e escravos. A famosa “Rota dos Varangianos aos Gregos” ligava a Escandinávia a Constantinopla e aos califados árabes, gerando riqueza e trocas culturais.

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Rumo ao Oriente: a ousadia dos portugueses

Os portugueses não apenas chegaram ao Oriente, como mantiveram presença. Navegaram até Timor Leste (1512), alcançaram a China (1517) e o Japão (1542). Descobriram ilhas como Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha. Fundaram colônias duradouras e estabeleceram contatos regulares com civilizações asiáticas — feitos que consolidaram o primeiro império marítimo do mundo.

Vikings e portugueses na origem do comércio global

Esses dois povos não apenas abriram rotas — moldaram o início da globalização. Os vikings conectaram o norte da Europa ao Oriente Médio. Os portugueses, por sua vez, lançaram as primeiras rotas marítimas permanentes entre Europa, África, Ásia e Américas. Por meio dessas conexões, circularam produtos, pessoas, ideias e tecnologias.

O legado de vikings e portugueses

As rotas estabelecidas pelos dois povos perduraram por séculos, até o advento do vapor. Criaram redes de contato que alteraram o mapa do mundo. O historiador inglês H. S. Plumb chamou o império português de “o maior enigma da História”, pelo seu imenso alcance e curta duração. Ele reconheceu que, por um preço alto, Portugal abriu as portas de um mundo que não podia dominar.

O céu como guia

Os navegadores vikings usavam o Sol, a posição das estrelas e a duração da luz do dia para calcular a direção e a latitude. Quando o céu estava limpo, bastava observar o Sol ao meio-dia e estimar a posição em relação ao horizonte. Em regiões de dias longos, essa percepção ajudava a ajustar o rumo.

Alguns pesquisadores defendem que eles usavam a chamada “pedra solar” — um cristal de calcita capaz de polarizar a luz solar, mesmo com céu nublado. Com ela, os vikings podiam localizar o Sol oculto pelas nuvens e manter o curso.

Os avanços na construção naval

Os vikings construíram os famosos navios longos, que eram rápidos e leves. O drakkar surgiu no século 9 com outra ousadia, a introdução da vela  e o casco com tábuas sobrepostas. Tinha um comprimento médio de 28 m. Largura, 3m. Velocidade de até 12 nós (22 Km), excelente para a época e os tempestuosos mares do Norte em que navegava.

O Drakkar, um dos modelos vikings. Imagem, www.northlord.com.

Portugueses ultrapassam o Cabo Bojador

Muitos séculos depois, os portugueses retomaram a saga marítima, iniciada em 1415, e avançaram com a histórica viagem de Gil Eanes, que em 1434 ultrapassou o temido Cabo Bojador a bordo de uma barca com vela quadrada — a mesma usada pelos vikings.

Ao perceber que precisavam de embarcações mais eficientes para seguir além do Bojador, os lusos adaptaram os cárabos latinos de pesca, de origem árabe. Com ajustes simples no aparelho vélico, transformaram essas embarcações nas caravelas  de velas latinas (triangulares) capastes de navegar contra o vento.

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A caravela latina. Ilustração, www.revistamilitar.pt.

Expansão territorial e comercial

Os vikings buscavam riqueza por meio de saques e, com o tempo, também por meio da colonização. Estabeleceram bases importantes na Europa, como Dublin e a Normandia, e se expandiram pelo Atlântico Norte, alcançando a Islândia, a Groenlândia e até a América do Norte. No Mar Báltico, fixaram-se na ilha de Wolin.

Atacaram a Península Ibérica pela primeira vez em 844 e retornaram em 1015 e 1086. Antes disso, em 890, devastaram regiões da costa mediterrânea. As rotas de ataque muitas vezes se transformavam em rotas comerciais e de ocupação, moldando o mapa da Europa medieval.

Durante a Era dos Descobrimentos, os portugueses colonizaram trechos da costa africana, partes da Índia, o Brasil e regiões como Timor Leste. No Atlântico Norte, chegaram até Labrador, Terra Nova e a Groenlândia. Apesar dessas incursões ao norte, concentraram seus esforços no hemisfério sul e na abertura da rota para as Índias — seu principal objetivo estratégico e comercial.

Habilidades de navegação

Vikings e portugueses dominavam a arte da navegação. Usavam os astros, os ventos, as correntes e até a composição do fundo do mar para se orientar. Esse saber não veio de uma suposta Escola de Sagres — que nunca existiu como centro formal de ensino. Os nautas lusitanos aprenderam na prática, trocando experiências especialmente com os muçulmanos, errando e tentando de novo, até vencerem o Mar Tenebroso.

De certa forma, tanto vikings quanto portugueses abriram caminho para os primeiros estágios da globalização. Anteciparam encontros culturais — às vezes pacíficos, outras vezes violentos — e deixaram marcas profundas nas regiões por onde passaram. Influenciaram as culturas locais, mas também assimilaram saberes, costumes e tecnologias dos povos com os quais mantiveram contato. Cada um a seu modo, moldou o mundo a partir do mar.

Reconstrução de um Drakkar. Imagem, www.observador.pt.

Contribuição para as cidades e o comércio europeu

Aqui está mais uma semelhança marcante entre vikings e portugueses. As atividades comerciais dos vikings impulsionaram o surgimento de diversas cidades europeias, muitas das quais nasceram como feiras, assentamentos ou entrepostos comerciais. Eles estimularam a urbanização e fortaleceram economias locais por onde passaram, deixando um legado que ajudou a moldar o mapa urbano e comercial da Europa medieval.

O mesmo vale para os portugueses. Após Gil Eanes ultrapassar o Bojador, menos de um século foi suficiente para que chegassem ao extremo sul da África, dobrando o Cabo das Tormentas que depois passou a ser chamado de Boa Esperança. Poucos anos depois, estabeleceram-se na Índia — em Goa, Calecute e Cochim, por volta de 1502 — e alcançaram Malaca por volta de 1509.

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As cronologia das descobertas lusitanas. Imagem, www.weebly.com.

Localizada na atual Malásia, no estreito que liga o Oceano Índico ao Mar da China Meridional e em frente à ilha de Sumatra, Malaca desempenhava nos séculos XV e XVI o papel que hoje pertence ao porto de Singapura. Funcionava como um entreposto estratégico, conectando o comércio do Índico às rotas que levavam à China, Japão e Coreia.

O primeiro império marítimo do mundo

Coube aos portugueses a façanha de estabelecer o primeiro império marítimo do planeta, ainda no século XV, e o último a se desfazer.

Foi um império notável por sua extensão, mas também por sua curta duração como potência comercial global.

Navegações dos vikings

Os vikings construíram uma ampla rede de rotas comerciais que ligava o Atlântico Norte ao Mar Báltico e se estendia até a Rússia e o Oriente Médio. Navegavam por mares abertos e por rios interiores, conectando regiões distantes e promovendo intensas trocas comerciais e culturais ao longo de seus caminhos.

As rotas vikings. Imagem, www.reddit.com.

Por essas rotas, os vikings comerciavam peles, marfim, tecidos, especiarias, metais e escravos. O comércio não apenas gerava riqueza, mas também promovia o intercâmbio cultural e a transferência de tecnologias entre povos distantes.

Esquema da caravela Vera Cruz. Imagem, www.aporvela.pt.

Imagem de abertura: O Mar Tenebroso, Pinterest

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