Pinguins de barbicha correm risco na Antártica; aquecimento global reduz em até 77%
A Antártica está sendo seriamente castigada pelas mudanças climáticas, resultado do aquecimento global. Os animais mais ameaçados são os pinguins de barbicha. O continente gelado tem registrado altas recordes de temperaturas. Chegaram a ultrapassar 20°C no começo de fevereiro de 2020, na base brasileira na Antártica. Cabe ressaltar que essa é ainda a região mais gelada do mundo, onde já foi computada a mais baixa temperatura, que beirou os 90°C negativos. Mas, nos últimos 50 anos, a temperatura média subiu 3°C na região. O que tem causado o derretimento das geleiras do continente, que tem mais de 90% de sua área coberta por gelo. Além de outras perdas.
Os efeitos podem ser observados no movimento acelerado do maior iceberg do mundo rumo a mar aberto, como Mar Sem Fim acaba de mostrar. Bem como na mais recente informação de cientistas a respeito da região: o número de pinguins de barbicha (Pygoscelis antarcticus) na Antártica reduziu drasticamente nos últimos 50 anos. A queda é de cerca de 60%. Mas em algumas colônias a redução alcança 77%. E não são os únicos, os pinguins de Magalhães também sofrem ameaça.
Redução de quase 60% no número de pinguins de barbicha
A constatação foi feita por pesquisadores das universidades Stony Brook e Northeastern, dos Estados Unidos. Eles estudam os impactos das mudanças climáticas na Antártica. E fizeram uma expedição ao continente gelado, entre 5 de janeiro e 8 de fevereiro de 2020. Segundo disseram à Reuters, a redução drástica no número de pinguins de barbicha foi observada na Ilha Elefante. Ela fica ao norte na Península Antártica. E todos os anos recebe milhares de pinguins de barbicha na fase de reprodução. É na Ilha Elefante que eles fazem seus ninhos.
O último censo realizado na ilha foi em 1971, quando foram registrados 122.550 casais da espécie. Na contagem recente, o número caiu para 52.786 pares. “A diminuição que vimos é dramática”, afirmou à Reuters Steve Forrest, biólogo que participou da expedição. “Embora haja vários fatores que podem explicá-lo, todas as provas que temos apontam para a mudança climática como responsável pelo que estamos vendo”, disse Heather Lynch, professora-associada de ecologia e evolução da Universidade Stony Brook.
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O pinguim de barbicha também é conhecido como pinguim-de-face-manchada. Isso porque tem uma faixa negra debaixo da cabeça. Ele pode medir até 70 centímetros de comprimento. Habita as ilhas e costas do Pacífico Sul, além dos oceanos antárticos. Sua alimentação é à base de krill, um pequeno crustáceo que tem papel fundamental na cadeia alimentar marinha e nos níveis atmosféricos de carbono.
Forrest também sugere que a diminuição da população de pinguins de barbicha pode estar associada à queda na oferta desse alimento na Antártica. “Algo está acontecendo com os componentes básicos fundamentais da cadeia alimentar. Temos menos abundância de alimentos, o que está fazendo com que estas populações diminuam cada vez mais, e a pergunta é: isso continuará?”
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A importância do Krill para os pinguins de barbicha
Mar Sem Fim já revelou a importância do krill no combate ao aquecimento global. E os efeitos de sua captura nas águas antárticas para manter, em outros lugares, a aquicultura – cultivo de peixes e outras espécies para alimentação humana em áreas confinadas. A National Geographic explica, ao abordar a queda no número de pinguins, que a população de krill está menor hoje na Antártica. Ela afirma que um estudo de 2016 constatou redução de até 80% da população de krill em alguns mares da Antártica.
Isso foi observado ao longo dos últimos 40 anos e a redução é creditada ao aumento das temperaturas das águas. “O krill é a base da teia alimentar da Antártica: os pinguins de barbicha se alimentam dessas criaturas que se parecem com camarões, assim como os peixes pequenos (que também são alimento para os pinguins).”
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O ornitólogo Noah Strycker considera “bastante chocante e impressionante” a queda no número de pinguins de barbicha na Ilha Elefante. Ele é pós-graduando na Universidade Stony Brook e participou da expedição. Entretanto, adverte que os resultados da pesquisa são preliminares, e que ainda não foram produzidos artigos científicos sobre a pesquisa.
Strycker também afirmou à National Geographic que a Ilha Elefante “ainda está repleta de dezenas de milhares dessas aves carismáticas e que a espécie é considerada ‘pouco ameaçada’ pela União Internacional para Conservação da Natureza”. Mas ressaltou: “Isso pode mudar, dependendo dos resultados dessa expedição”.
O site Super Interessante, por sua vez, cita que existem mais de 7 milhões de pinguins de barbicha. É uma das espécies mais abundantes da Antártica. “Somente na Ilha Zavodovski, um território britânico inabitado, mais de um milhão de casais podem ser encontrados. Mas os novos dados trazem preocupação sobre o futuro dessas populações aparentemente grandes”, afirma a publicação.
Greenpeace pede que ONU proteja 30% dos oceanos
Para realizar a pesquisa, os cientistas viajaram em dois barcos do Greenpeace – o Esperanza e o Arctic Sunrise. Eles “utilizaram técnicas de inspeção manual e drones para avaliar a magnitude do dano”. Ou seja, contaram os ninhos um a um. “O Greenpeace está pedindo à Organização das Nações Unidas (ONU) que se comprometa a proteger 30% dos oceanos do mundo até 2030, um objetivo solicitado pelos cientistas e por um número crescente de governos como o mínimo necessário para deter o estrago causado pela atividade humana”, informa a Reuters.
Chuvas são fatais para os pinguins
Entrevistada pela National Geographic, P. Dee Boersma disse que “outra consequência das mudanças climáticas pode estar envolvida: conforme as temperaturas na Antártida aumentam, as chuvas se tornam mais comuns — e a chuva é fatal para filhotes de pinguins. Quando as jovens aves se molham, é comum desenvolverem hipotermia e morrerem”. Boersma é especialista em pinguins pela Universidade de Washington. A própria cientista já constatou que chuvas na costa argentina mataram metade dos filhotes de pinguins-de-magalhães que ela estudava.
“No entanto, até que novos dados sejam publicados e mais estudos sejam realizados sobre as populações de pinguins-de-barbicha em sua distribuição geográfica, Boersma observa que não devemos chegar a conclusões precipitadas com base nessa única pesquisa. ‘O que essa pesquisa indica é que precisamos analisar essas populações com mais atenção’. Pinguins são ‘nossos guardiões dos oceanos e da terra, e, quando ocorrem mudanças em suas populações, as pessoas precisam prestar atenção.’”
Imagem de abertura: National Geographic
Fontes: https://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN2052H8-OBRWD; https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2020/02/populacao-de-pinguins-de-barbicha-pode-ter-reduzido-em-mais-da-metade-em-ilha-de; https://super.abril.com.br/ciencia/colonias-de-pinguins-na-antartida-vem-caindo-drasticamente-diz-pesquisa/; https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/02/11/mudancas-climaticas-reduzem-populacao-de-pinguins-de-barbicha-em-ate-77percent-na-antartica.ghtml