Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS, situado no litoral médio do Rio Grande do Sul, fica na restinga (três quilômetros de largura) que separa a Lagoa dos Patos do mar.
A Lagoa tem 35 quilômetros de extensão, largura média de 01 quilômetro, e águas rasas. A comunicação com o mar acontece principalmente no inverno e segue assim até o verão.
Os pesquisadores a dividem em três: parte norte, central, e sul. A barra, que dá acesso ao mar, fica na parte central. Ela se abre, ou fecha naturalmente, em razão dos fortes ventos de Nordeste que depositam areia na embocadura obstruindo o canal.
No período das chuvas mais fortes, geralmente agosto, as áreas do entorno alagam impedindo a agricultura e pecuária. Nestas ocasiões a prefeitura da Tavares utiliza máquinas para a abertura artificial da barra de modo que a água escoe.
As lagunas
As lagunas em geral são locais de alta produtividade. “Além das espécies essencialmente lagunares, muitas espécies marinhas necessitam igualmente destes habitats, passando nestes ambientes uma parte de seu ciclo vital”
(Fonte: Geologia e Evolução Holocênica do Sistema Lagamar da Lagoa do Peixe – Tadeu Braga Arejano, Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Mas as águas rasas também são importantes, e “fator determinante para que a região seja considerada um dos mais importantes locais de alimentação, descanso e reprodução de aves aquáticas” (idem).
Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS, CARACTERÍSITCAS
Nome : Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS
Bioma : Marinho- Costeiro.
Data da criação : Novembro de 1986.
Localização : Litoral médio do Rio Grande do Sul, abrangendo áreas dos municípios de Tavares, Mostardas, e São José do Norte.
Tipo : Proteção Integral.
Área : 34.400 hectares.
Plano de Manejo: pronto desde 1999.
Objetivo da UC:
“Preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica. É permitida a pesquisa, atividades de educação e turismo ecológico”.
“É de domínio público sendo que as áreas particulares incluídas em seus domínios devem ser desapropriadas”.
(Fonte: site do ICMBio)
Ameaças : Apesar de maior de idade, 26 anos, até hoje o governo federal não indenizou os antigos proprietários. Persistem, assim, a silvicultura, a pesca, a agricultura, e o pastoreio no interior do parque.
Não há divulgação eficiente do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, e a infraestrutura hoteleira no entorno é deficiente. Consequência: baixa visitação pública.
Anotações de viagem:
Dunas móveis, praia e mar. Do outro lado banhados, falésias, mata de restinga, e uma lagoa. Milhares de aves num frenesi gastronômico bem na sua frente.
Variedade de ecossistemas no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS
Basta um giro de 360 graus pra você conhecer todos estes ecossistemas, e sua colorida e variada explosão de vida, numa mesma área do Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Espetacular ! Um dos trechos mais bonitos e ricos da costa brasileira.
Litoral do Rio Grande do Sul
Ele engana os mais apressados. Sua beleza não está exatamente, ou apenas, nas praias. É preciso andar um pouco mais para trás, ultrapassar a faixa das dunas frontais, para encontrar o que faz a diferença: a planície costeira gaúcha. É para lá que fui nesta primeira viagem da nova série de TV (no ar aos domingos, às 19hs, reprises aos sábados, 8h30), Mar Sem Fim – Revisitando a Costa Brasileira, desta vez com foco nas Unidades de Conservação federais da zona costeira.
O parque, fundado por decreto presidencial em 1986, tem 34.400 hectares (algo como 70 mil campos de futebol) e engloba áreas dos municípios de Mostardas, Tavares (83%), e São José do Norte. Enquanto as duas primeiras cidades ficam a pouco mais de cem quilômetros de Rio Grande, São José do Norte esta separada apenas pelo canal de saída do porto.
Para visitar o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS
Para chegar é preciso dois aviões (São Paulo – Porto Alegre, e Porto Alegre – Rio Grande), alugar um carro (Rio Grande – Mostardas), e se hospedar em alguma pousada da região. Há opções em Mostardas, cidade de colonização açoreana, com 12 mil habitantes, ou em Tavares, menor, com cerca de cinco mil.
Nós ficamos em Mostardas, uma cidade muito limpa e bem tratada, com casinhas coloridas ao redor da praça principal, restaurantes de comida caseira, e um povo simpático com os visitantes. Não é incomum cruzar com personagens vestindo botas, chapelão e bombachas pelas ruas, numa prova que o Brasil ainda tem seu charme.
Recordações da viagem
Vai ser difícil esquecer o jantar que tive sozinho quando meus companheiros de equipe, Alessandro, câmera, e Alexandre, editor, cansados preferiram dormir. Parei num pequeno e pitoresco restaurante com mesas na calçada que dá para a praça.
De entrada escolhi pastéis de queijo e tragos de uma boa cachaça que não me foi cobrada. Cortesia da casa. Em seguida pedi uma chuleta de boi, acompanhada por arroz, salada e batatas fritas. Enquanto eu comia uma banda tocava marchinhas na praça (a cidade comemorava a Festa do Divino). Surpresa na hora de pedir a conta: 12 reais. Fiquei sem jeito. Este valor, que não paga o valet em São Paulo, foi o que me custou um delicioso jantar com música ao vivo de fundo. Depois, ainda me lembro, fui para o hotel ouvindo cigarras cantando entre as árvores da cidade. Sensação rara, e muito gostosa, nos dias de hoje.
Problemas do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS
Mas nem tudo são rosas. Quando foi instalado o Parque Nacional da Lagoa do Peixe desapropriou dezenas de pequenos agricultores, criadores de gado, e silvicultores (reflorestamentos com pinus) além de impor regras para a pesca até então livre em suas lagoas, lagunas, e espaço marítimo.
Consequências da falta de indenização
Surgiram conflitos de uso que não foram resolvidos até agora, passados mais de 20 anos da implantação. No Brasil é assim que o Poder Público tem agido: a vasta maioria das Unidades de Conservação, ao serem implantadas, não indenizaram os antigos proprietários. Em contrapartida eles continuam com parte de suas práticas dentro do espaço que deveria ser protegido por sua riqueza, beleza, ou biodiversidade, ameaçando os dois lados: o que propõe a proteção da biodiversidade, ao menos em pequenas áreas, e aqueles que querem fazer uso delas produzindo. Alguma semelhança com o Código Florestal, quase nunca respeitado, gerando os conflitos que assistimos?
- O Parque Nacional da Lagoa do Peixe merece ser mais conhecido. E tem potencial para gerar recursos e empregos se o turismo, ainda incipiente, for bem explorado. Esta é uma das propostas do Plano de Manejo, instrumento importante das UCs por nortear e regular seus múltiplos usos.
Objetivos do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS
De acordo com o site do ICMBio, um Parque Nacional “tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico”. E prossegue: “…sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas”.
As áreas foram desapropriadas, como prega a definição. Só que os proprietários não foram indenizados até hoje.
Uma pena o descaso
Uma pena o descaso. Temos poucas Unidades de Conservação na zona costeira. Menos de 1,5% de nossos mares e litoral estão protegidos, quando a meta era de 10% até 2020. Por isto, em meio a um ambiente riquíssimo em biodiversidade há vacas pastando, reflorestamento com eucaliptos e pinus elliotti, entre outros problemas. Falta vontade política, recursos, ou os dois? A carência de recursos públicos é evidente, mas também existe açodamento, e pouco planejamento ao se criarem áreas de preservação.
Meio ambiente e Brasil: questão mal resolvida
As questões de meio ambiente, maior ativo do país, e o que nos diferencia da maioria das outras nações, continuam mal resolvidas.
O modelo acirra as disputas, como se viu na discussão do Código Florestal, e planta conflitos que explodem, às vezes com violência, mais adiante. Neste caso a culpa é clara: o Governo propõe as regras. Mas é o primeiro a não cumprir sua parte protelando indefinidamente a indenização. Como exigir que os atingidos deixem suas profissões de uma hora para outra? Mais problemas à vista, no futuro, caso a situação persista.
Um microcosmo de vida
Nosso programa explorou esta questão. Entrevistamos moradores das cidades atingidas que perderam suas áreas, usos e costumes. Políticos da região, e professores da academia, no caso a FURG, Fundação Universidade do Rio Grande, deram seus depoimentos.
Visitamos quase todos os cantos do Parque. Gravamos imagens, e fotografamos, dezenas de espécies de aves que se abrigam e alimentam em sua área, fugindo dos rigores dos invernos austrais. Mas o parque também abriga mamíferos, terrestres e marinhos, anfíbios, répteis, peixes e insetos. Um microcosmo de vida fora de série, cercado de conflitos por todos os lados. Ainda assim é um lugar de grande beleza que vale conhecer.
Por questões de agenda não conseguimos visitar a Estação Ecológica do TAIM, que fica ao Sul de Rio Grande, nesta primeira viagem. Ela ficará para um futuro próximo. A terceira UC federal da costa gaúcha é o Refúgio de Vida Silvestre Ilha dos Lobos. Na verdade um amontoado de pedras com 33 hectares de extensão, localizada defronte à cidade de Torres, quase divisa com Santa Catarina.
Ela passou a ser protegida por ser freqüentada por mamíferos marinhos como focas e leões marinhos, que sobem desde a Patagônia e ali descansam e se alimentam.
Assista o programa do Parque Nacional da Lagoa do Peixe
SERVIÇOS:
Em Mostardas, uma das portas de entrada para o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, há algumas pousadas entre elas:
http://www.pousadapousoalegre.com.br/
http://www.hotelparquedalagoa.com.br/web/
Em Tavares, outra porta de entrada, uma das possibilidades é conversar com Batista, guia turístico para passeios no Parque Nacional, dono de uma pousada que conta com um carro 4X4, essencial para as visitas:
Batista – João Batista Cardozo
Pousada Hotel Parque da Lagoa,
Mail: [email protected]
http://www.pousadaparquers.com.br/site/
Tavares – 51- 9989 5250
51 – 3674 1333
QUEM QUISER CONHECER O SEU PAIS …,
COMECE PELO SIMPLES …,
NÃO IMPORTA (N/S/L//O) …,
NECESSARIAMENTE PELA NATUREZA …,
VIVA O BELO
VIVA A VIDA
OBRIGADO MAR SEM FIM
Nós é que agradecemos, Victor Hugo, volte sempre!Abraços
Caro Lara Mesquita. Feliz estou por reve-lo escrevendo no blog e revisitando essas áreas num trabalho benéfico sem proporções mensurar. Redobrada satisfação por você estar visitando meu estado natal e áreas que conheço de a muitos e muitos anos. Em especial a Ilha dos Lobos em Torres, ilha essa tão abandonada pelo orgão que deveria protege-la. Anos atrás havia um protetor muito especial que cuidava não só da ilha mas dos lobos que ali se abrigam. Chamava-se Nelson Justo e foi inclusive motivo de reportagem pela revista Veja na época pois se envolveu em inúmeras rusgas com os pescadores da região que matavam os lobos que iam em busca da comida nas redes. Nelson Justo hoje não está mais por ali. Seguidamente a ilha é agredida com pescadores mergulhando com tubos de oxigenio que vão arpoar garopas de grande porte , ali moradoras. E o Ibama? Nada faz pois os agressores são gente relacionada com o pessoal do Orgão sediada ali em Torres. Isso já foi caso de denúncia anos atrás por mim e outras pessoas. Claro que, nada se fez. Mas enfim, caro amigo. Continuamos a “gritar contra o vento”. Alguém, algum dia há de ouvir. Tomara que não seja tarde. Grande, mas grande abraço deste teu sincero admirador que acompanhou par e passo a agonia do Mar SemFim lá pelos gelos sulinos. Att. Ivanhoé
Caro Ivanhoé, muito obrigado pela mensagem. Não sabia destes problemas na ilha dos Lobos. Uma pena o descaso. Infelizmente nosso documentário só focalizou as outras duas UCs federais das costa gaúcha, o TAIM, e o Parque Nacional da Lagoa do Peixe.
A ilha dos Lobos além de pequena, é de difícil acesso. Em todo o caso muito obrigado pela informação.
abraços, até a próxima.
João,
Em 2009 também tive o prazer de conhecer esta região. Fiz este trecho de carro partindo de SP percorrendo todo o litoral e tendo como destino final a argentina.
Quando chegamos na estrada do inferno (como era conhecida até então) foi uma agradável surpresa.
Em mostardas tive uma experiência parecida com o seu relato do restaurante. Me lembro que foi a melhor carne de toda a viagem!
Coisas simples como estas e impossíveis de se pensar na cidade grande.
Abraços
Flávio
Pois é, Flávio, a região toda é muito bonita. Adoro a planície gaúcha. E o Parque é um dos lugares mais bonitos da costa brasileira.
A cidade é uma graça. Simples e de bom gosto. Como são as coisas simples.
Obrigado pela mensagem.
abraços e boas viagens