Oceano Atlântico e Pacífico não se misturam, falso ou verdadeiro?
Há uma grande curiosidade sobre o assunto na mídia social. Vira e mexe alguém pergunta, ou publica algo a respeito. O Mar Sem Fim fez uma curadoria para entender o que está por trás desta curiosidade, de onde surgiu a dúvida, e porquê. Descobrimos que tudo começou com um vídeo, provavelmente, fake. Ao mesmo tempo, procuramos os sites estrangeiros de maior renome para pormos um ponto final na dúvida. Em alguns nacionais, mais dedicados à diversão que à ciência, dizem que ‘não se misturam’. Afinal, o Oceano Atlântico e Pacífico não se misturam, falso ou verdadeiro?
Uma confusão provocada pelas redes sociais
O primeiro site que procuramos foi o da BBC Science Focus. Ele explica que embora o ser humano tenha dado nomes diferentes aos oceanos, ‘na realidade não há fronteira entre eles, as correntes fluem continuamente entre ambos e misturam suas águas’.
‘Os oceanos Atlântico e Pacífico se encontram no extremo sul da América do Sul. Nesta região, uma forte corrente transporta água de oeste para leste, varrendo a água do Pacífico para o Atlântico’.
E alerta os internautas, ‘Os vídeos que você pode ter visto online mostrando dois corpos de água de cores diferentes flutuando lado a lado estão, na verdade, mostrando água doce rica em sedimentos e cor clara de geleiras derretidas encontrando água escura e salgada do oceano no Golfo do Alasca (e com o tempo, correntes e redemoinhos fazem com que estes se misturem também)’.
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaPortanto, a afirmação é falsa: As águas do oceanos Atlântico e Pacífico se misturam, sim.
O nível médio do mar
Segundo a BBC, ‘o nível médio do mar é utilizado como referência padrão para a altitude de cidades, montanhas e aeronaves. Isso porque, uma vez que o efeito das marés e ondas tenha sido calculado, o nível do mar depende de apenas duas forças: a força da gravidade e o efeito do giro da Terra – e estes dependem da distância desse ponto de referência final, o centro da Terra’.
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Portanto, não existe um ‘oceano mais alto que outro’ como também vimos nas redes sociais.
Saiba quais são as diferenças entre o Oceano Atlântico e Pacífico
Mas os dois oceanos têm, sim, diferenças apesar de não haver uma fronteira que demarque com precisão a separação entre um e outro. Segundo topógrafos, a linha que marca a fronteira entre o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico passa direto entre o Cabo Horn e a Antártica. Este estreito corpo d’água, o Estreito de Drake.
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Escolas Azuis: Cultura Oceânica chega ao currículo brasileiroO que os sites de apostas estão fazendo para serem mais ecológicosOperação global contra tráfico de fauna e flora apreende 20 mil animaisA olho nu, no entanto, você não poderia ver a diferença entre os dois corpos d’água. Da mesma forma que as fronteiras entre países são essencialmente imaginárias, assim são as fronteiras entre os oceanos.
Sabemos mais sobre o espaço sideral do que sobre os oceanos
Já repetimos aqui: sabemos mais sobre o espaço sideral do que sobre os oceanos. Ainda nos anos 60, a corrida espacial impulsionou a ciência a estudar o cosmos. Dinheiro não faltava, afinal a disputa envolvia os dois países mais poderosos da época. Bilhões de dólares financiaram os cientistas.
Conheça os motivos pelos quais sabemos pouco sobre os oceanos
O mesmo não aconteceu com os oceanos. As pesquisas marinhas sempre exigiram investimentos altos e nunca tiveram o mesmo ‘glamour’ da conquista do espaço. Além de cobrirem 71% da superfície do planeta, os oceanos impõem desafios enormes. A pressão nas grandes profundidades e as longas distâncias que os navios precisam percorrer até os pontos de estudo obrigam o uso de equipamentos extremamente caros para alcançar e investigar o fundo do mar.
Tudo isso torna a operação lenta e muito cara. Mesmo os drones aquáticos e os ROVs, robôs operados remotamente, novidades da tecnologia, custam caro. Hoje, submarinos começam a ganhar espaço nas pesquisas sobre os oceanos, realizadas até mesmo com o apoio de satélites. A novidade agora será o usa da IA – Inteligência Artificial na pesquisa submarina. Mas ainda engatinhamos nesse campo.
A ignorância da ciência sobre o mar profundo
Não à toa, os cientistas sequer sabem quantas espécies vivem nas profundezas. Estimativas sugerem que existem entre 700.000 e um milhão de tipos de vida marinha – porém, mais de 91% permanecem sem classificação.
Além disso, estudo recente mostra que conhecemos e registramos – a ciência – apenas 0,001% do assoalho marinho.
Uma das diferenças mais marcantes entre o Atlântico e o Pacífico está na salinidade: as águas do Atlântico são mais salgadas e, portanto, mais densas. Isso não impede que ambos os oceanos se misturem, muitas vezes de forma turbulenta, no Estreito de Drake onde o extremo sul da América do Sul e o extremo norte da Antártica formam um ‘funil’ para o vento.
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Esse funil espreme os ventos, que sopram geralmente de oeste para leste, do Pacífico para o Atlântico ao atravessar o Estreito de Drake. Ali, sob influência da geografia, as águas dos dois oceanos se misturam às vezes com forte turbulência.
O vídeo que circula nas redes, mostrando um suposto encontro entre Atlântico e Pacífico no golfo do Alasca, não passa de fake news.
Imagem de abertura: https://www.adn.com/
Fontes: https://www.sciencefocus.com/planet-earth/is-it-true-that-the-pacific-and-atlantic-oceans-dont-mix/; https://steemit.com/science/@shairanada/science-explains-1-does-the-pacific-ocean-mixes-with-the-atlantic-ocean; https://blogpatagonia.australis.com/where-do-the-atlantic-and-pacific-oceans-meet/#:~:text=According%20to%20topographers%2C%20the%20line,Elizabethan%20explorer%2C%20Sir%20Francis%20Drake, https://www.adn.com/science/article/mythbusting-place-where-two-oceans-meet-gulf-alaska/2013/02/05/.