Petróleo e poluição, por Rui Barbosa da Rocha*
Petróleo e poluição: em plena primavera do Sul da Bahia, com dias lindos de céu azul e mar revolto pelos ventos de uma frente fria, borras de petróleo ainda frescos foram parar na costa.
Praias de Ilhéus, Serra Grande, Itacaré, Maraú, Pratigi, Boipeba e Morro de São Paulo
As praias de Ilhéus, Serra Grande, Itacaré, Maraú, Pratigi, Boipeba e Morro de São Paulo ficaram manchadas por vários dias na segunda semana de outubro. Os ventos fortes de sul dispersaram uma imensa quantidade de piche. Chegaram ao litoral como bolas pretas, sujando os pés dos banhistas e trazendo contaminação para a costa, com os seus mangues, restingas, corais e o fundo do mar.
Petróleo e poluição no sul da Bahia
Ao ver o acidente ocorrido naquela noite no litoral, ligamos para a Petrobras alertando e solicitando uma ação emergencial de limpeza das praias. Infelizmente ela não ocorreu. Dias depois o serviço de Ouvidoria da Petrobrás acusou por escrito o recebimento da ligação. E estaria investigando o responsável. Duas semanas depois, recebemos uma mensagem conclusiva:
Prezado Sr.,
Inicialmente, gostaria de agradecer a oportunidade de reiterar nossa preocupação com as ocorrências de vazamento de petróleo e derivados, mesmo quando não decorrem das nossas atividades.Mais lidos
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Assim, ocorreu no caso levantado por V.Sa. no qual a Petrobras procedeu a limpeza da área, apesar de não ter tido responsabilidade na ocorrência das referidas borras.
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Importante, ainda, ressaltar a sua preocupação em relação ao meio ambiente, com a qual estamos inteiramente alinhados, compromisso que, além de integrar a missão desta empresa, deve ser de toda a sociedade.
Quem causou derrame de petróleo e poluição?
É muito provável que este acidente (ou crime ambiental) tenha sido motivado por outra empresa, já que a Petrobras explora petróleo no município de Cairu, próximo a Salvador, e toda a costa desde Ilhéus foi manchada. Mas a resposta da Petrobras foi evasiva. Não aponta a origem do problema nem reconhece que o dano ambiental ocorreu sem solução .
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O litoral Sul da Bahia sofre deste mal desde que me conheço como gente, ainda nos anos setenta. Estamos em 2013 e um problema aparentemente simples não é resolvido pela indústria do petróleo. As suspeitas recaem sobre os navios petroleiros que trafegam em nossa costa e, ao entregar o petróleo importado, lavam os seus porões em alto mar.
Plataformas de petróleo
O acidente pode ser oriundo de alguma plataforma de petróleo – aqui temos a BP, ou British Petroleum, aquela do mega derramamento no Golfo do México, em 2010, como também a Petrobras e a Queiroz Galvão – ambas atuando neste litoral. Morro de São Paulo, Maraú, Itacaré e Canavieiras (e pelo visto toda a costa), estão prontas para serem sujas da noite para o dia por conta de algum acidente.
Qual o risco disso ocorrer? Qual a extensão do dano de um acidente desta natureza?
País não tem sistema de prevenção para petróleo e poluição
O Brasil não apresenta um sistema de controle efetivo para este tipo de acidente. Quando um derramamento escandaliza a sociedade , órgãos ambientais se mexem. E cobram as empresas de petróleo uma imediata solução.
Empurrando pra debaixo do tapete
Quando são eventos de baixa repercussão, empurramos o assunto para debaixo do tapete. No caso, as areias do mar. Órgãos ambientais e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) deveriam ser mais firmes, constituindo sistemas integrados de vigilância.
A limpeza dos porões de navios em ambientes portuários: mais petróleo e poluição
Ao mesmo tempo, cobrar de modo mais rígido a limpeza dos porões em ambientes portuários, como reza a legislação. Navios costumam desobedecer esta regra, passando a conta para o oceano e o litoral. Um absurdo que teima em continuar .
O Petróleo é nosso. A poluição também
O Petróleo é nosso? Sim, especialmente quando vem parar no nosso litoral, sem responsáveis definidos. Triste. Repetindo o óbvio, temos que considerar outras fontes de energia o quanto antes. O petróleo é um bicho papão que assombra o nosso clima planetário e também a saúde dos nossos ecossistemas.
Saiba mais sobre a Petrobrás e a extração de petróleo no mar. Vai de mal a pior.
*Rui Barbosa da Rocha é ambientalista, o autor é engenheiro agrônomo pela UFBA e Mestre em Desenvolvimento Agrícola pela UFRRJ. Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz e diretor do Instituto Floresta Viva. |