Mundo está pouco preparado para impactos das mudanças climáticas, diz o IPCC
Impactos das mudanças climáticas não é problema para o fim do século. Já está acontecendo. Causa danos ao meio ambiente e aos seres humanos. E em todos os continentes e também através dos oceanos. No futuro elas vão amplificar os riscos já existentes e criar novos. Tanto para os sistemas naturais, como os humanos. Por enquanto o mundo está muito pouco preparado para lidar com a situação.
Em poucas palavras, esse é o quadro pintado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) na segunda parte do seu quinto relatório.
Sumário para Formuladores de Políticas
A mensagem está no “Sumário para Formuladores de Políticas”, uma introdução não-técnica do documento de mais de 2 mil páginas e 30 capítulos.
Junto com a constatação de que o mundo já está pagando a conta pelas emissões desenfreadas de gases de efeito estufa a partir da Revolução Industrial, o relatório aponta que ainda há oportunidades para lidar com os riscos. Na maior parte dos casos, medidas sérias de adaptação, aliadas com outras para reduzir as emissões, podem fazer com que riscos que seriam de alto nível se nada for feito, caiam para um risco médio ou baixo.
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No entanto quanto mais tempo se levar para fazer isso, a dificuldade vai aumentar. Assim como os custos. “Magnitudes crescentes de aquecimento aumentam a probabilidade de impactos severos, generalizados e irreversíveis”, afirma o sumário. Com o tempo vai se chegar a um limite em que talvez não haja mais o que fazer.”
Desafio de gerenciamento de riscos
A mensagem mais importante é que a mudança climática é um desafio de gerenciamento de riscos. Vemos uma ampla gama de possíveis resultados – alguns deles muito sérios. E também vemos as mudanças climáticas interagindo com outros fatores, muitas vezes agindo como um multiplicador dessas ameaças”, disse ao Estado o pesquisador norte-americano Chris Field, co-chair do Grupo de Trabalho 2, do IPCC, que elaborou o documento.
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Problema não é se teremos 2 °C ou 3 °C de aquecimento
“O problema não é se teremos 2 °C ou 3 °C de aquecimento. Mas se uma seca, por exemplo, vai aumentar a propensão a incêndios que, uma vez que começam, se estendem por milhares de quilômetros quadrados. Enquadramos o desafio das alterações climáticas de uma forma a permitir que as pessoas entendam que é uma questão de gerenciamento de risco. E aplicar as ferramentas que já temos para fazer esta gestão de forma mais inteligente”.
Field lembra que a adaptação não é uma tarefa exótica, que nenhum governo nunca tentou. O relatório ressalta várias experiências que estão sendo feitas ao longo do mundo, mas ainda em uma escala muito pequena que precisa se expandir.
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Os impactos já observados afetam a agricultura, a disponibilidade de água, a saúde humana, os ecossistemas no continente e nos oceanos. E alguns modos de vida. Em geral os problemas têm ocorrido em todo o mundo, sejam países ricos ou pobres, mas o grau de vulnerabilidade varia, normalmente sendo maior entre os mais marginalizados.
Impactos das mudanças climáticas ao longo do século 21
Ao longo do século 21 as mudanças climáticas podem “desacelerar o crescimento econômico, fazer com que a redução da pobreza seja mais difícil, erodir ainda mais a segurança alimentar. Além de prolongar as existentes e criar novas armadilhas da pobreza, particularmente nas áreas urbanas e pontos onde há muita fome”.
Este relatório, ao contrário dos anteriores do IPCC, teve um foco maior na “dimensão humana”, explica Field.
A iniciativa foi bem recebida por ONGs ambientalistas que acompanharam os trabalhos na semana que passou. “Pela primeira vez o IPCC tem um capítulo inteiro sobre segurança humana, que fala sobre conflitos violentos, migração. As mudanças climáticas não são só um problema para ursos polares, recifes de corais e a floresta tropical, mas sobre nós”, afirma Kaisa Kosonen, do Greenpeace.