Morro do Careca, Natal: erosão por mau uso e engorda de praia sem estudos
O Morro do Careca, na praia de Ponta Negra, é o cartão postal de Natal. A capital potiguar é circundada por dunas, parte da cidade nasceu em cima delas. Assim, o local é um dos preferidos do turismo. Milhares de pessoas subiam e desciam suas areias, alargando a parte do morro sem vegetação, enquanto o poder público local dormia no ponto como sói acontecer. O pisoteio da manada durou até 1997 quando finalmente o governo acordou e interditou o local criando uma APA. Tarde demais. Persiste o pisoteio, tornou-se moda. O turismo desordenado é fato no litoral, em especial, no Rio Grande do Norte. A famosa praia de Pipa, antiga, linda e pitoresca vila de pescadores, sofreu a destruição implacável sem que os sucessivos governos tomassem providências. Agora, o mesmo roteiro se repete no cartão postal da capital.
Como sempre, a omissão do poder público é a responsável
O litoral nordestino é a ‘galinha dos ovos de ouro’ da região. É ele, e sua inacreditável beleza, que atrai turistas do mundo inteiro movimentando a economia, gerando empregos e renda. Contudo, muitos governantes foram omissos. Muitas vezes os cargos chave foram, e ainda são, ocupados por corruptos que impulsionam a especulação imobiliária como cansamos de denunciar.
Estes prefeitos e governadores não descansam enquanto não rebentarem de vez a ‘galinha de ovos de ouro’. São, na maioria, otários e pervertidos que não servem ao cargo, mas deles se servem. E que se danem as futuras gerações, inclusive as de suas famílias.
Pior que a inação do poder público, entretanto, é a apatia quase absoluta do público, inclusos muitos frequentadores. As mesmas pessoas que fazem passeatas em favor da Amazônia, abusam das praias como se fossem delas em vez de um espaço público ‘protegido’ pela Constituição.
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Beleza cênica destruída por desleixo
Assim, por mais que as belezas naturais da zona costeira sejam sistematicamente vilipendiadas, quase ninguém protesta. Isso significa dar carta branca aos políticos marginais.
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Agora, o roteiro se repete em Morro do Careca que, aliás, recebeu o nome porque de longe se parecia a uma pessoa careca no topo, com cabelos só nas laterais. Assim era o Morro no passado, com uma estreita faixa de areia, em seus mais de 100 metros de altura, cercado por vegetação de restinga em ambos os lados. Contudo, o turismo desordenado alargou imensamente esta faixa, até provocar agressiva erosão.
Ministério Público Federal tenta ordenar a baderna
Depois de muita inação, em 2023 finalmente o MPF ordenou ao governo de Natal (prefeito Álvaro Dias – Republicanos) que estudasse a questão e apresentasse relatório. A obrigação caiu no colo do geógrafo José Petronilo da Silva Junior, da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb), segundo o g1.
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Investimentos no litoral oeste do Ceará causam surto especulativoCafeína, analgésicos e cocaína no mar de UbatubaA repercussão da retomada da análise da PEC das Praias pelo Senado“Diante do risco eminente, a celeridade erosiva, sugere-se uma avaliação pormenorizada da estrutura geológica da área. Considerando que o cargo de geólogo inexiste na Semurb, bem como considerando a área se tratar de patrimônio da união, pois pertence ao Centro de Lançamento de Foguetes Barreira do Inferno (CLBI), entendemos, a princípio, como importante a provocação da Defesa Civil Nacional para que a mesma tome conhecimento da problemática ora em processo, bem como viabilize uma ampla avaliação sobre os possíveis riscos aos transeuntes da Praia de Ponta Negra, bem como atue com providências cabíveis para a salvaguarda dos cidadãos”, informou o g1 sobre o relatório.
O responsável disse mais ao g1: ‘explicou que a duna se formou em cima de uma falésia, em um processo que teria durado milhares de anos. Porém, ela também estaria se desfazendo por meio de um processo natural, potencializado pela ação humana.’
“Se ainda houvesse essa cobertura vegetal,” referindo-se à larga faixa ‘careca’, “mesmo com a erosão atual na base do morro, as raízes iriam segurar os sedimentos.”
Dãããr! É óbvio!
A questão é, por que tantos anos de omissão? Por que só agem quando é tarde demais?
Engorda da praia de Ponta Negra
Assim, rapidinho, e sem mais estudos que seriam obrigatórios não fosse a irresponsabilidade que grassa em toda a parte, ‘José Petronilo da Silva Junior considera que a única solução é a engorda da praia’.
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Pronto, como se diz no Nordeste! Depois que o intragável Balneário de Camboriú decidiu-se por esta opção após permitir que a especulação desfigurasse a praia com prédios tão altos que tapavam o sol, a ‘operação plástica’ tornou-se panaceia.
Seja no Grande Recife, seja em João Pessoa, PB, ou em Ilhabela do algoz Antônio Colucci, tudo que as medíocres prefeituras fazem é sugerir a engorda sem qualquer estudo mais profundo.
Decidem sozinhos em sua latente ignorância. Não chamam especialistas das universidades públicas, servidores como eles, que passam a vida estudando o fenômeno da erosão no litoral, a geomorfologia costeira, as correntes, marés e ressacas.
Por quê? Ao nosso ver, porque o processo é caríssimo. Milhões de reais. E sempre ‘sobra algum’ na mão dos proponentes. Assim funciona o poder público no Brasil. À base de ‘caixinhas.’
Engorda de praias, panaceia de incautos
A engorda de praias é algo extremamente complexo. Praias são naturalmente intrincadas. Formadas por bilhões de grãos de areia, e sujeitas constantemente às forças da natureza que as modificam.
Elas se mexem! É por este motivo que é proibido construir em cima da areia ou de restingas que seguram as areias. O mesmo processo acontece com dunas, constantemente fustigadas pelo vento.
Sim, as engordas, ou ‘alargamentos’ funcionam, às vezes, dependendo das forças naturais de cada região onde ficam as praias, de sua abertura, da força do mar, da direção cardinal em que se situam, da altura das marés, e assim por diante.
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Menos de um ano e meio depois da engorda açodada e mal feita em Camboriú, o mar já tragou 70 metros da ‘nova praia’. Assim, mais obras serão necessárias, e mais dinheiros públicos desperdiçados.
Esse modo adotado pelos despreparados prefeitos transfigura a feição do litoral que, a cada dia, mais se parece àquelas americanas ricas e degeneradas que aparecem na TV depois de passarem por dezenas de operações plásticas.
Peitos imensos desafiando a lei da gravidade, maçãs do rosto que as igualam a caricaturas de si mesmas, desfiguradas por incontáveis implantes de silicone na busca por uma perfeição que jamais será atingida.
Medíocres gestores municipais
Os medíocres gestores municipais, e a omissão da população, empurram o litoral ao “transtorno dismórfico corporal”, defeito mental que não existe se não na cabeça de deficientes. Nosso litoral é dos mais lindos do mundo e poderia ser uma imensa fonte de renda, não fossem aqueles que os transformam em Frankensteins.
Que as autoridades de Natal tenham a humildade de chamar os especialistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e encomendem os necessários estudos antes de sair atirando areia ou pedras a torto e a direito que podem piorar a situação.
Maioria das matérias desse tipo, coloca a culpa sempre no turista. Então, acaba-se o turismo e pronto. Escrever é facil e papel, aceita tudo….
Excelente ideia, pois se não sabe preservar, nem apareça.
Que diga a belíssima Ubatuba que em 20 anos foi destruída.
A triste ironia pensar que a ignorância tupiniquim, a começar pela “visão” de longo prazo dos governantes, não percebe os trilhões que são perdidos com a destruição das áreas costeiras. Em todo o Brasil. Sistematicamente os paraísos vão sendo extintos. Por exemplo em função da especulação imobiliária sem nenhum critérios técnico de ocupação. Da preservação das restingas, das matas costeiras, cursos de água, etc. O litoral catarinense é um excelente exemplo. Uma ou duas gerações ganharam bastante dinheiro. Transformando uma das costas com praias e matas mais belas do país em cidades de prédios na areia e esgoto no mar. “Jenial”. A cara do Brasil.
O MPF também convocou especialistas da UFRN para contribuir com a busca de soluções. No meu relatório eu não afirmei que a engoda era a única solução. Enfatizei tambem a necessidade de colaboração de outros profissinais inclusive com a participação da Defesa Civil Nacional.
Bom saber, embora nas matérias que vi e citei nada havia sobre isso. De todo modo, melhor entregar na mão de quem é pago para estudar estes fenômenos. Obrigado pelo esclarecimento.
Ante todo, gostaria parabenizar o jornalista pela matéria e chamar pelo seu nome as coisas, fatos etc!
Por outro lado, um estudo dos perfis de fundo na área são imprescindíveis, já que a força das ondas é marés são aquelas que contribuem na erosão.
Tais estudos resultam imprescindíveis e devem ser mantidos junto ao resto dos já feitos para lograr medidas que ajudem na recuperação da praia e o “Morro do careca”.
Outras possibilidades deveriam ser tidas em conta, como a utilização de obstáculos longe da praia que evitariam a formação de ondas próximas ao perfil da praia e com isso, a erosão resultará muito menor!
E um investimento caro, mais com muitas ventajas no meio ambiente; e claro que as possibilidades de lucrar com o serviço ( de ser feito!), seriam menores, já que consultorias, embarcações etc são coisas que cada empresa leva muito a sério!
Não seria afetada a praia com construções nem movimentação de equipos, mais em troca, ondas se formariam e romperiam bem mais longe, afetando somente a surfistas que não pondriam em perigo a vida de turistas com as manobras utilizadas e realizadas hoje bem perto de aqueles que difrutam do banho na praia!
Esto e somente uma sugestão, claro!