Mexilhão-dourado veio da Ásia, entrou pelo Prata, infestou o Guaíba, depois subiu até o São Francisco. Ele vai chegar na Amazônia?
Alguns estudos mostram que o mexilhão-dourado foi introduzido no Brasil em 1998 (Mansur et all 1999), no Lago Guaíba, através da água de lastro de navios mercantes. Outros dizem que ele entrou na América do Sul via o rio da Prata, Argentina, pelo mesmo motivo. O fato é que contaminou toda a América do Sul.
Espécies exóticas, segunda maior causa de perda de biodiversidade
A introdução de espécies exóticas é a segunda maior causa de perda de biodiversidade no Planeta (IUCN). A primeira, o desaparecimento de habitats.
Navios e contaminação
O professor Frederico Brandini, diretor do IO- USP, diz que o problema começou com as viagens marítimas:
Quando os espanhóis e portugueses (ou os Vikings? Ou os Fenícios? Não importa nesse contexto) chegaram do lado de cá, há mais de 500 anos, trouxeram um presente de grego para o ecossistema costeiro do continente americano: espécies exóticas.
Brandini explica que
Invertebrados marinhos do continente europeu, viajavam clandestinamente através do Oceano Atlântico, fixos no casco das caravelas e dos galeões. Eles resistiam à travessia das águas até “perceberem” que estavam novamente em águas estuarinas com baixa salinidade, só que do outro lado do Oceano Atlântico. Eram cracas, anêmonas, corais, caracóis, mariscos etc., que aí lançavam suas larvas aos milhares após todo o estresse da viagem. As larvas se dispersavam, colonizando hábitats ainda não ocupados pelas espécies locais
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Navios e comércio mundial hoje
Cálculos recentes mostram que hoje existem cerca de 100.000 mil navios em operação, e a frota está crescendo. E todos carregam água de lastro em seus porões, usada para equilibrar a embarcação em alto- mar. O problema é que eles captam esta água num continente, e a despejam noutro. Junto com milhares de organismos exóticos. O problema é mundial e muito sério. O site portogente em matéria recente diz que
estima-se que o transporte de água de lastro movimente mais de sete mil espécies a cada dia em torno do globo.
Do Lago Guaíba, ou rio da Prata, para outras bacias hidrográficas
Hoje os dois corpos d’água estão totalmente contaminados pelo mexilhão- dourado. E ele se alastra cada vez mais. Causa sérios prejuízos à Usina Itaipu Binacional como ela mesma reconhece:
A Itaipu empreende um programa que tem reduzido progressivamente a quantidade de larvas de mexilhão-dourado no reservatório da usina. O molusco é responsável pelo entupimento de encanamentos em equipamentos da hidrelétrica e também causa desequilíbrios ambientais.
O site da Usina não informa o prejuízo, mas o portogente.com.br, sim:
Em Itaipu, o mexilhão-dourado alterou a rotina de manutenção das turbinas ao fazer reduzir o intervalo entre as paralisações, antecipando custos de quase US$ 1 milhão a cada dia de paralisação do sistema.
Lago Guaíba e mexilhão-dourado, o prejuízo aos pescadores e à biodiversidade
Se o molusco causa problemas até nas imensas turbinas de Itaipu, imagine o que não fez à biodiversidade dos dois corpos d’água gaúchos. Segundo a bióloga Maria Cristina Mansur, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),
em pouco mais de dois anos o mexilhão alterou a paisagem no lago Guaíba diminuindo a flora ripária (plantas das margens), sufocando a fauna bentônica (organismos dos corpos aquáticos) e transformando nossas praias arenosas e as margens vegetadas por juncos, em amontoados de conchas enegrecidas…
Mexilhão-dourado no Brasil e América do Sul
Hoje o mexilhão já está espalhado por muitos rios do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Em 2014 foi noticiada a sua chegada a rios de São Paulo e Minas Gerais onde, mais uma vez, gerou prejuízos à Usina do Rio Grande. A informação é do Jornal Nacional: