Litoral paulista tem seis dos dez rios mais poluídos por microplásticos
Especialistas do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e do Instituto Ecofaxina publicaram na revista científica Marine Pollution Bulletin uma pesquisa que revelou que o litoral paulista abriga seis dos dez rios mais poluídos por microplásticos no planeta. De acordo com o estudo, a investigação do estuário de Santos demonstra que o sedimento do mangue acumula grande quantidade de microplásticos. Os pesquisadores mediram uma concentração máxima de 62 mil partículas por quilograma de sedimento e 43 mil partículas, números inéditos na costa da América Latina. O estudo aponta que a região apresenta locais de assoreamento e eventos de baixa energia, especialmente no Rio dos Bugres, onde as atividades humanas exercem forte influência, enquanto os canais de São Vicente e Santos mantêm um regime hidrodinâmico de alta energia. Como resultado, os microplásticos se concentram no interior do estuário e impactam drasticamente a biota do mangue.
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Rio dos Bugres, o segundo mais poluído do mundo
O rio dos Bugres margeia uma das maiores vergonhas nacionais, o Dique da Vila Gilda, a maior favela de palafitas do País, com cerca de 20 mio habitantes. De acordo com a prefeitura de Santos, a comunidade começou a invasão por volta de 1960, erguendo moradias irregulares. Com o tempo, avançaram para o interior do Rio dos Bugres, uma área de preservação ambiental de Mata Atlântica, e um estuário cercado de manguezais.
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
A prefeitura estima em 2 mil moradias em palafitas na franja dos manguezais. Para mitigar o imenso problema social e ambiental, em 2018 o município contratou o escritiório de Jaime Lerner para um interessante projeto piloto que já comentamos.
Para a prefeitura, ‘um dos grandes desafios da política habitacional é a busca por uma solução viável e sustentável para o Dique da Vila Gilda’. E, se alguém é capaz de fazê-lo, estes seriam os arquitetos e urbanistas que trabalharam com Jaime Lerner.
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Segundo o Ipen, a quantidade de lixo no rio dos Bugres fica atrás apenas do rio Pasur, em Bangladesh, entre os mais contaminados. O rio no sul da Ásia apresentou 157 mil partículas por quilograma de sedimento. Enquanto isso, o rio paulista apresentou uma quantidade superior a 93 mil partículas de microplásticos por quilograma de sedimento retirado.
Depois do rio dos Bugres a lista prossegue com a Ilha Barnabé, em terceiro lugar; o Rio São Jorge, em quarto; o Casqueiro, em quinto; o Canal do Estuário de Santos, em oitavo e, finalmente, e a Foz do Canal de Piaçaguera em nono lugar.
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Oceanos terão mais plástico que peixes
Um relatório de 2016 do World Economic Forum e da Ellen MacArthur Foundation, começa com um dado dramático ao destacar que,
a mais confiável pesquisa, atualmente disponível, estima que atualmente haja mais de 150 milhões de toneladas de material plástico nos oceanos. Num cenário business-as-usual, o estudo indica que em 2025 os oceanos terão 1 tonelada de plástico, para cada 3 toneladas de peixes. Para 2050 haverá mais plástico, que peixes (em toneladas). E a indústria de plásticos irá consumir 20% da produção total de petróleo e 15% do balanço de carbono anual
Pior é o desperdício de substância que pode ser tão nociva ao meio ambiente. Depois de um ciclo de primeiro uso curto, 95 por cento do valor material de embalagem de plástico, ou US $ 80 bilhões a US $ 120 bilhões por ano, é perdido para a economia. E, apesar de sabermos disso faz tempo, até o momento não conseguimos vingar um tratado de plástico nos moldes do Acordo de Paris.
A ONU e diversos países defendem um tratado juridicamente vinculativo sobre a poluição por plásticos. Porém, a última reunião de cúpula sobre o tema, no final de 2024, foi mais um fiasco.