Indústria marítima em rota de colisão com metas do Acordo de Paris
A indústria marítima, que movimenta cerca de 90% do comércio mundial, é uma importante fonte de poluição. Os navios utilizam enormes quantidades de petróleo, na verdade uma espécie de borra do refino, emitindo cerca de 1 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa ao ano. Isso significa 3% das emissões globais, próximo ao que emite o Japão. Além disso, os navios poluem a água do mar e são vetores da bioinvasão. Por isso há tempos a IMO – Organização Marítima Mundial – ocupa as manchetes quando o tema é descarbonização. Curiosamente, a IMO é um braço da ONU, organismo que não se cansa de alertar que o mundo ‘caminha para o suicídio coletivo’ ao não tomar as medidas necessárias. Por isso, os 175 países membros da organização reuniram-se de 3 a 7 de julho em Londres, durante a cúpula do MEPC 80 Marine. Contudo, mais uma vez, decepcionaram.
A redução das emissões do setor
Segundo o gcaptain, ‘O regulador internacional do transporte marítimo estabeleceu metas de emissões não vinculativas que não se alinham com a restrição do aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, de acordo com especialistas do setor.’
‘A organização adotou uma meta líquida zero para 2050. Esta meta tem “pontos de verificação” intermediários até 2030 e 2040. Se seguida, a nova estratégia não reduziria as emissões de navios com rapidez suficiente para alinhar a poluição da indústria com a meta do Acordo de Paris para limitar o aquecimento em 1,5ºC.’
Para Bryan Comer, líder do programa marítimo do Conselho Internacional de Transporte Limpo, “Este acordo não está fazendo sua parte para limitar o aquecimento global a 1,5°C.”
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Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemTaxa de aquecimento dos oceanos quadruplicou em 40 anosBenefícios Ambientais dos Jogos de Azar OnlineCondomínio em falésia na Bahia com elevador panorâmicoO mongabay.com.es, ouviu outra ativista, Ana Laranjeira, diretora de assuntos de navegação da ONG Opportunity Green, que lamentou: “Esta semana tinha tudo para ser um momento histórico. Foi uma oportunidade para a IMO se alinhar com a meta de temperatura de 1,5°C, vital para proteger nossa biodiversidade global, como os recifes de corais que simplesmente deixarão de existir em um mundo acima desse limite de temperatura.”
Brasil na contramão
Segundo o mongabay.com.es, ‘Os Estados Unidos, o Reino Unido, o Canadá, a União Europeia além dos Estados insulares do Pacífico defenderam a redução total das emissões até 2030. Contudo, países que resistiram a essa proposta, como a China e vários da América do Sul – incluindo Argentina, Brasil, Chile, Peru e Equador – conseguiram impor um acordo mais fraco.’
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A posição brasileira mostra uma vez mais que a vontade de Lula de trazer o País de volta ao protagonismo ambiental não é uma vontade tão ‘determinada’ como parecia à época da campanha.
Entretanto, diz o mongabay.com.es, O apelo das organizações científicas e ambientais em todo o mundo foi para que os Estados Membros da IMO reduzissem o impacto do transporte marítimo em 50% até 2030. Após a Cúpula do Comitê de Proteção do Meio Ambiente Marinho MEPC 80, no entanto, os países concordaram em reduzir as emissões em apenas 20% para 2030. Ao mesmo tempo, também estabeleceram que até 2040 a redução teria que ser de pelo menos 70% para atingir a neutralidade até 2050 “ou por volta dessa data”.
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O mongabay.com.es também ouviu o brasileiro José Truda Palazzo, coordenador de desenvolvimento institucional do Instituto Baleia Jubarte: “Sabe-se que a China é responsável pela maior parte do comércio marítimo e, portanto, pelas emissões do setor. Se a China concordasse com novas medidas de descarbonização, atingiríamos os níveis de progresso necessários para tentar voltar à meta de 1,5°C de aquecimento muito mais rapidamente”. O problema, continua, é que “a China, apoiada pela Índia, se opõe furiosamente a qualquer nova medida nesse sentido”.
É curioso que o evento em Londres aconteceu no mesmo período em que as temperaturas batem recordes de calor no hemisfério Norte. Antes de mais nada, persiste o cinismo da IMO que escreveu em seu site: “A IMO continua a contribuir para a luta global contra as mudanças climáticas, em apoio ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 13 da ONU, para tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e seus impactos.”
É difícil aceitar a posição da IMO, especialmente por ser ela um braço da ONU. Isso prova que as Nações Unidas não conseguem convencer nem mesmo seus pares. Até quando persistirá a omissão?