Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025
Ilhabela conseguiu o impossível. O município figura há anos entre os que mais recebem royalties de petróleo. Só em 2023, entraram quase R$ 300 milhões nos cofres públicos. Mesmo assim, Ilhabela aparece em último lugar no ranking de melhores estâncias turísticas do Estado de São Paulo. O novo ranking começa a valer em 2026. A classificação, divulgada pela Secretaria de Turismo e Viagens do estado de São Paulo, por meio do GAMT (Grupo de Análise dos Municípios Turísticos), é referente ao ano de 2024, e entrará em vigor a partir de 2026. A pontuação por município não foi divulgada pela pasta até o momento. No entanto, a última posição não surpreende quem acompanha a cidade.

Muito dinheiro e pouca ação
Nada mais surpreende em Ilhabela. Em 2024 mostramos que o REM-F, o Ranking de Eficiência dos Municípios da Folha de S. Paulo, analisou 5.276 cidades do País. O estudo considera resultados em saúde, educação e saneamento, e usa a receita per capita como indicador de eficiência. Mesmo com a bolada de R$ 700 milhões em royalties de petróleo em 2022, Ilhabela caiu para a 5.008ª posição.
Voltando ao ranking de turismo em 2025, Ilhabela — embora considerada estância turística — caiu do 9º lugar (no ranking anterior) para a lanterna (78º lugar) entre as 78 estâncias avaliadas. A justificativa pública, nos veículos locais, aponta que Ilhabela “não cumpriu integralmente os critérios técnicos exigidos pela lei” relativos a infraestrutura, planejamento, gestão do turismo, entre outros.
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Pau-brasil ganha normas internacionais mais fortesTeste de mineração em alto mar reduz vida marinha em 1/4Sururina-da-serra, nova espécie descoberta será mais um Dodô?Como consequência dessa classificação, se não tivesse havido ampliação do número de estâncias tolerada pela legislação, Ilhabela poderia perder o título de estância turística — o que indica que a nota que obteve foi muito baixa dentro dos critérios.
A razão pela qual Ilhabela caiu para último lugar no ranking estadual parece estar menos relacionada à beleza natural ou ao apelo turístico — atributos reconhecidos nacionalmente — e mais ligada à estrutura administrativa, técnica, planejamento, prestação de contas, cumprimento de requisitos formais e mínima infraestrutura de apoio ao turismo conforme exigido pelo ranking. Como o critério de pontuação não foi tornado público, resta que esses fatores “técnicos” tenham pesado para baixo no caso do município.
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Um prefeito obcecado com o turismo
Isso acontece na terceira gestão do atual prefeito, Toninho Colucci (PL), um notório obcecado com o turismo. Desde que assumiu pela primeira vez a prefeitura, Colucci ameaça os caiçaras de Castelhanos com a construção de um resort. Não conseguiu em razão da área fazer parte do Parque Estadual de Ilhabela, e pela criação da Resex dos Castelhanos, unidade de conservação municipal criada justamente para dar mais segurança aos caiçaras que por ela vivem há gerações.
O prefeito fez o que pôde para derrubar a criação da UC e só não o fez por decisão da Justiça. Não satisfeito, mirou a praia da Serraria onde vive outra comunidade caiçara. Assim, em dezembro de 2023, o prefeito desapropriou um imóvel de 898.000 m2 alegando ser aquela área ‘de utilidade pública’. O decreto, de número 10.202, diz que ‘será destinado à Criação de Área de Compensação de Reserva Ambiental’.
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MP breca ação da Prefeitura de Florianópolis em áreas protegidasGaropaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaEm seguida, veio à tona a verdade. Segundo o Melhores Destinos. “Desapropriamos uma área de 800 mil m² na praia da Serraria e estamos negociando com grupos hoteleiros internacionais”, comentou o prefeito à rádio Ilhabela FM, segundo o site Notícias da Praia. “Para a comunidade da praia da Serraria será uma ótima oportunidade. Vamos fazer o assentamento dos moradores e garantir que o projeto beneficie os moradores do local”, disse.
Justiça questiona resort na praia da Serraria
Logo depois da compra do terreno o Ministério Público Federal em São Paulo (MPF) instaurou um inquérito civil para investigar a possível instalação de um empreendimento hoteleiro na praia da Serraria.
O Inquérito começava desse modo: ‘O Ministério Público Federal (MPF) cobrou esclarecimentos do prefeito de Ilhabela (SP), Antônio Luiz Colucci, sobre a possível instalação de um empreendimento hoteleiro na praia da Serraria, onde existe uma comunidade caiçara. Surpresos com a notícia do projeto, moradores locais protocolaram uma representação no MPF, que instaurou um inquérito civil para investigar o assunto’. O Ofício é assinado pela Procuradora da República, Walquiria Imamura Picoli.
Enquanto se perde em devaneios e maracutaias, como a suspeita de pagar por obras públicas que nunca saíram do papel — denúncia feita pelo ex-secretário de Meio Ambiente, Xico Graziano, cujo depoimento você pode ouvir aqui, — o burgomestre ignora a infraestrutura de apoio que o ranking de turismo apontou como falha. A cidade perde qualidade de vida. Turistas mal conseguem se locomover. Os desvalidos continuam sem qualquer proposta de moradia popular e acabam se amontoando nos morros do Alto da Barra.










