Hemisfério Norte ferve com o calor antes do verão

Hemisfério Norte ferve com o calor desde antes do verão

As temperaturas globais provavelmente atingirão níveis recordes nos próximos cinco anos, alimentadas por gases de efeito estufa e um evento natural do El Niño, de acordo com uma atualização divulgada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). Antes de mais nada, ‘há uma probabilidade de 66% de que a temperatura global média anual próxima à superfície entre 2023 e 2027 seja mais de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais por pelo menos um ano. Do mesmo modo, há 98% de probabilidade de que pelo menos um dos próximos cinco anos, e o período de cinco anos como um todo, seja o mais quente já registrado.’ Pois é, nós brincamos com o fogo, agora vamos nos queimar. O Hemisfério Norte ferve neste 2023, e é só o começo.

“Extraordinário”, “aterrorizante” e “território desconhecido”

Segundo a CNN, estas são algumas das expressões de cientistas ao descreverem as temperaturas neste ano. “Embora os cientistas digam que os registros são alarmantes, a maioria não está surpresa. Porém, frustrados. Seus avisos foram ignorados por décadas.”

Enquanto isso, a Reuters informa que em 3 de junho a Rússia decretou estado de emergência na Sibéria devido a incêndios florestais violentos. A CNN, em outra matéria, confirma: Incêndios florestais nas montanhas Urais, na Rússia, mataram pelo menos 21 pessoas e hospitalizaram várias outras, informou a agência de notícias estatal TASS.

Quando alguém imaginou que um local frígido, normalmente coberto de gelo, poderia decretar emergência por incêndios florestais? Entretanto, saiba que são cada vez mais frequentes e mais fortes.

‘Incêndios zumbis ardem o ano todo na turfa’

O Guardian, em de agosto de 2022: “Áreas do ártico estão queimando, com mega-incêndios devorando a Sibéria, a Groenlândia e o Alasca. Mesmo em janeiro, incêndios de turfa estavam queimando na criosfera siberiana, apesar das temperaturas abaixo de -50°C. Esses incêndios zumbis ardem o ano todo na turfa abaixo do solo, dentro e ao redor do Círculo Ártico, apenas para explodir em enormes chamas que se espalham pelas florestas boreais da Sibéria, Alasca e Canadá.”

Ao mesmo tempo, o abc.net.au informou que em 2023 as temperaturas na China estão acima de 35°C, enquanto as nações do norte da África sofrem com o calor de 50°C.

Com isso, explodem incêndios no Hemisfério Norte que jogam ainda mais CO2 na atmosfera. Um ciclo perverso e maldito. Durante a primavera de 2023 no Hemisfério Norte, diz o serviço de monitoramento atmosférico europeu, Copernicus, várias regiões do mundo foram afetadas por incêndios florestais significativos, alguns deles até quebrando recordes. Os episódios na Espanha, Canadá e Rússia são particularmente relevantes para esta época do ano.

61.672 mortes devido às ondas de calor no verão europeu de 2022

O custo em vidas humanas, só na Europa,  no verão de 2022 atingiu inacreditáveis 61.672 mortes. Especialistas em saúde publicaram um estudo na Nature Medicini em 10 de julho. Com uso de modelos epidemiológicos eles descobriram que 61.672 pessoas morreram de causas relacionadas ao calor na Europa entre 30 de maio e 4 de setembro de 2022. A taxa de mortalidade foi mais alta na Itália, Grécia, Espanha e Portugal.

O Guardian, que repercutiu o estudo diz que, ‘Os humanos aqueceram o planeta em cerca de 1,1°C, mas na Europa as temperaturas subiram quase duas vezes mais rápido que a média global. A menos que os governos protejam as pessoas do clima mais quente e diminuam os gases que aquecem o planeta, as ondas de calor se tornarão ainda mais mortais.’

Ainda há quem duvide…

É triste, mas apenas reforça o que antecipamos: quem brinca com fogo tende a se queimar. E nós continuamos ‘brincando’. Ainda há milhares de pessoas mundo afora que desacreditam o fenômeno sem  embasamento ou constrangimento pela ignorância. E muitos acreditam, vivemos a época do genial Umberco Eco que sintetizou,

As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel

Temporada de incêndios teve início precoce

‘A  temporada de incêndios no Hemisfério Norte teve um início precoce, com incêndios florestais significativos na Espanha em março. Como resultado, o país experimentou os níveis mais altos de emissões neste mês, equivalentes aos incêndios florestais de 2012.’

E conclui: ‘ter incêndios dessas proporções tão cedo  é uma ocorrência incomum. Durante o mês de maio, ocorreram queimas significativos em duas regiões diferentes do Hemisfério Norte: uma na Eurásia e outra no oeste do Canadá.’

‘Os incêndios na Eurásia afetaram o Cazaquistão, a Mongólia e algumas regiões fronteiriças da Rússia, incluindo Kurgan, Tyumen, Omsk e Novosibirsk. Eles queimaram em alta intensidade, acima da média de 2003-2022, e suas emissões gerais estimadas para o mês foram comparáveis ​​a maio dos últimos anos.’

‘Os incêndios florestais em larga escala no oeste do Canadá têm ocorrido ao longo de maio de 2023. Os dados diários do CAMS Fire Radiative Power (FPR) mostram uma atividade significativa de fogo igualmente na Colúmbia Britânica, Alberta, Saskatchewan e nos Territórios do Noroeste desde o início de maio, com aumento da atividade mais a leste em Ontário e Nova Escócia no final do mês.’

Um milhão de pessoas deslocadas na África

Todos sofrem com o aquecimento. Porém, alguns sofrem mais, normalmente os mais pobres e com menor responsabilidade sobre o clima. Washington Post, abril de 2023: ‘A pior seca da África Oriental em pelo menos 40 anos, que deslocou mais de um milhão de pessoas e empurrou outros milhões à beira da fome, não teria acontecido se não fosse pelas mudanças climáticas causadas pelo homem, disse uma rede de cientistas de clima extremo.’

‘O aumento das temperaturas globais – em grande parte devido à queima de combustíveis fósseis – interrompeu os padrões climáticos que normalmente trazem chuvas para a Etiópia, Quênia e Somália, descobriram os cientistas. No outono passado, as chuvas antes confiáveis ​​​​faltaram pela quinta temporada consecutiva. Condições mais quentes também causaram a evaporação da umidade, ressecando as plantações e levando milhões de cabeças de gado a morrer de fome.’

Isso para não falar nas populações insulares do Pacífico, que tiveram zero de culpa e hoje naufragam.

Oriente Médio, acima de 45ºC

Enquanto isso, países como Iraque, Kuwait, Irã e Arábia Saudita registram recordes de respectivamente, 49ºC, 48,7ºC, 48ºC, e 47,7ºC, segundo o www.eldoradoweather.com.

Em tempo, o verão começou no Hemisfério Norte em 21 de junho. As temperaturas citadas nesta matéria são anteriores, em outras palavras, temperaturas da primavera no Norte. É muito provável que, enquanto o verão avança, o calor e incêndios sejam ainda mais graves.

Finalmente, enquanto isso acontece, no Brasil do presidente que prometeu trazer o País de volta ao protagonismo ambiental, não há políticas públicas para o litoral ameaçado por eventos extremos e a subida do nível do mar. A inação governamental acontece numa região em que moram mais de um quarto da população brasileira, ou 26,6%. Isso equivale a 50,7 milhões de pessoas.

Segundo a Agência Brasil, ‘Os dados do Cemaden e do IBGE apontam que 75% das famílias que moram no litoral vivem em áreas sujeitas a deslizamentos de terra. E 25% delas residem em locais com riscos de inundações, enxurradas e outros fenômenos.’

Pantanal, segue esquecido

De maneira idêntica, outro de nossos biomas quase aniquilado no Governo Bolsonaro, o Pantanal, segue esquecido por Lula e Marina Silva, apesar do que diz a Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento:

‘Nas últimas três décadas, o Pantanal vem sofrendo agressões pelo homem, praticadas não somente na planície, mas principalmente nos planaltos adjacentes. Desse modo, atualmente os impactos ambientais e socioeconômicos no Pantanal são muito evidentes, decorrentes da inexistência de um planejamento ambiental que garanta a sustentabilidade dos recursos naturais desse importante bioma.’

Atenção para o inaceitável improviso do governo Lula na área mais sensível, confirmado pela Embrapa: ‘Inexistência de um planejamento ambiental que garanta a sustentabilidade dos recursos naturais desse importante bioma.’

Repetido para deixar gravado na memórioa, a respeitada Embrapa afirma que o problema é a ‘Inexistência de um planejamento ambiental que garanta a sustentabilidade dos recursos naturais desse importante bioma.’

Alguém viu ou ouviu Marina Silva, ou Lula, falando a respeito do Pantanal ou litoral? Antes de mais nada, nós também não. E não aceitamos tamanha improvisação. Depois de quatro anos de Bolsonaro, não há biodiversidade que resista ao descaso. E  este descaso é inaceitável para um governo eleito com margem mínima, provavelmente por motivos ambientais.

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