Excesso de turistas no litoral provoca reações mundiais
Se existem duas coisas que não combinam são litoral e excesso de turismo ou, o overturism. O equilíbrio fica ainda mais prejudicado num planeta que passa por um aquecimento fora de controle, com aumento do nível do mar e eventos extremos cada vez mais potentes, como é o caso da Terra, cujas consequências são dramáticas especialmente para esta sensível faixa de transição entre continentes e oceanos. Mas, como prevenir o excesso num mundo superpopuloso e justamente num dos locais mais procurados por turistas como o litoral? Hoje, o sobreturismo é um problema mundial. O Mar Sem Fim fez uma curadoria na rede para saber quais medidas estão sendo tomadas mundo afora.

Mas, afinal, o que é o overturism?
Em essência, o overturism se refere ao excesso de pessoas em um mesmo lugar ao mesmo tempo. O fenômeno se configura quando determinado destino recebe um número excessivo de turistas a ponto de causar impactos negativos na qualidade de vida dos residentes, no meio ambiente circundante, e na própria experiência dos visitantes. A superlotação aumenta os preços, pressiona a infraestrutura, ameaça a identidade local, amplia a poluição, o barulho, e a deterioração social, e cultural.

No entanto, quando bem feito, é inegável seu potencial para reduzir a pobreza, gerar emprego, promover a inovação, e manter a sustentabilidade ambiental.

Volume de negócios do turismo é igual ao das exportações de petróleo
Segundo a Organização Mundial do Turismo, a agência especializada das Nações Unidas, hoje, o volume de negócios do turismo é igual ou até supera o das exportações de petróleo, produtos alimentícios ou automóveis. O turismo tornou-se um dos principais atores do comércio internacional e representa, ao mesmo tempo, uma das principais fontes de renda para muitos países em desenvolvimento.
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaO problema são os números crescentes e a falta de controle. Estima-se que em 2024 tenham ocorrido 1,5 bilhão de chegadas de turistas internacionais em todo o mundo, atingindo os níveis pré-pandêmicos e crescendo 11% em relação a 2023. O crescimento continuou no primeiro semestre de 2025, com um aumento de 5% nas chegadas em relação ao mesmo período de 2024, atingindo quase 690 milhões entre janeiro e junho.
As projeções para o futuro são sombrias. A Organização Mundial do Turismo prevê que até 2030 o fluxo internacional de turistas ultrapassará os 2 bilhões.
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Europa toma medidas para conter o excesso de turismo no litoral
Segundo a BBC, nos últimos anos, o excesso obrigou muitos dos pontos turísticos mais populares da Europa a tomarem medidas para controlar os danos. Veneza agora cobra dos turistas que fazem passeios de um dia. A cidade também proibiu a entrada de navios no centro histórico. Amsterdã, na Holanda, e Barcelona, na Espanha, também proibiram os navios de cruzeiro no centro da cidade, em uma tentativa de controlar a poluição e coibir o turismo de massa.
No entanto, nenhuma cidade foi tão longe quanto Dubrovnik, que estabeleceu um limite máximo rígido para o número de pessoas que podem estar dentro de suas muralhas ao mesmo tempo. Além disso, o prefeito de Dubrovnik limitou o número de navios de cruzeiro a dois por dia (em comparação com um pico de cerca de oito) numa atitude que contrasta com as dos alcaides de municípios costeiros de Pindorama que fazem o possível para ter cada vez mais navios de cruzeiro – máquinas de poluição atmosférica e marítima -, em seus terminais.
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Navios de cruzeiro são criticados por agravar o problema. Os turistas de navios tendem a desembarcar por apenas algumas horas. Isso significa uma forte pressão sobre a infraestrutura local e contribui relativamente pouco para a economia porque, geralmente, os passageiros são totalmente atendidos a bordo.

O jornal Le Monde resume em um parágrafo o problema e a possível solução. ‘Neste verão (2024), sob temperaturas às vezes escaldantes em Atenas, turistas esperaram quase uma hora antes de visitar a Acrópole. O número de visitantes saltou 80% desde 2019, de acordo com o Ministério da Cultura grego. Em julho, até 23 mil pessoas subiram a colina do famoso local, de acordo com a agência que opera sítios arqueológicos. No início de agosto, o ministério decidiu regulamentar as visitas. Um máximo de 20.000 pessoas poderão subir a colina todos os dias.
Até Paris impõe limites
A Deutsche Welle revela que Paris passou a limitar o número de dias por ano que os moradores podem alugar sua residência principal através de plataformas como o Airbnb. Enquanto isso, a Tailândia fechou as populares Ilhas Similan e Surin este ano para permitir que os ecossistemas se recuperem e planeja cobrar taxas de entrada no futuro.
A mesma fonte revela ainda que as emissões do turismo aumentaram 65% entre 1995 e 2019. Hoje a atividade é responsável por 8% a 10% de todas as emissões globais de gases de efeito estufa.
Limitar a entrada não é a única maneira de controlar
Segundo a UNESCO, vários tipos diferentes de medidas estão sendo aplicadas e estão em constante evolução. Seu sucesso ou fracasso terá que ser testado ao longo de várias temporadas para estabelecer quais soluções são mais eficazes a longo prazo. A maioria das abordagens ainda é nova, dado o ressurgimento do turismo em 2023 e 2024 após a pandemia de Covid-19.

Para a UNESCO, uma medida que está se tornando comum em cidades turísticas brasileiras, a cobrança de uma taxa de entrada como determinou Ubatuba, no litoral norte paulista, depois São Sebastião, e agora Angra dos Reis, ‘não tem sido bem sucedida em cidades europeias. Encontrar o equilíbrio é um delicado equilíbrio entre regulação e planejamento efetivos, garantindo o bem-estar da comunidade’.
A UNESCO parece estar certa sobre a cobrança de taxas. Apesar dela, este ano durante a Semana Santa turistas levaram 14 horas para chegar em Ubatuba a partir de São Paulo. Alguém merece um suplício destes? E quanto à famosa sustentabilidade tão procurada e almejada?
A falta de discussão do assunto no Brasil
Normalmente, quando o assunto ‘turismo’ entra na pauta da mídia o tema é o baixo número de turistas estrangeiros que nos visitam, apesar das belezas naturais que temos em quantidade.
Contudo, no último ano houve um crescimento. Segundo dados da Secretaria de Comunicação Social, em 2024, o Brasil alcançou um recorde na chegada de turistas internacionais, quando 6.773.619 viajantes escolheram destinos nacionais para viagens. O número superou o marco histórico de 2018, de 6.621.376 estrangeiros, até então a maior marca da série histórica, iniciada em 1970.

Para efeito de comparação, em 2024 a França, líder do World Tourism Ranking, recebeu 100 milhões de turistas internacionais. Em seguida estão a Espanha, Estados Unidos, Itália, Turquia, México, Reino Unido, Alemanha, Grécia e Áustria. No mesmo ano o Brasil ocupava apenas a 37ª posição.
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Excesso de turismo no litoral do Brasil
O que mais nos impressiona é que mesmo estando na rabeira do ranking mundial de turismo, apenas o turismo interno já causa uma série enorme de superlotações no litoral durante o verão e em feriadões ao longo do ano.
Mas, apesar do cenário devastador que as fotos deste posts escancaram, o sobreturismo não é debatido por aqui nem mesmo agora, durante a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, de 2021 a 2030. Não à toa, o litoral do Brasil enfrenta uma implacável decadência.

Quando a superlotação ocorre, como mostram as imagens, todos os problemas citados nesta matéria acontecem sem que quase ninguém se incomode, ou abra uma discussão sobre o problema. O trânsito se torna infernal, a locomoção um suplício, a poluição aumenta tremendamente, as praias ficam superlotadas quase sem espaço para as pessoas caminharem, etc.
Este caos já é rotina no verão no litoral norte paulista, nas praias de Santa Catarina, Rio de Janeiro, e um sem-número de destinos no Nordeste como Jericoacoara, no Ceará; Pipa, no Rio Grande do Norte, destruída pelo turismo desordenado; Porto de Galinhas, Pernambuco; Maragogi, Alagoas; Praia do Forte, e sul do Estado, na Bahia, e até mesmo em parques nacionais como Fernando de Noronha, e Lençóis Maranhenses.
E nós, vamos continuar fingindo que não vemos?










Excelente matéria! Totalmente procedente e pertinente, escrita em uma linguagem impoluta, de clara comunicação, de onde emerge a verdade dos fatos subsidiada pela pesquisa de dados. Parabéns!!
excelente matéria ! parabéns ao
marsemfim! Aprendendo sempre. obrigada
culpa de tudo isso é a falta de uma política pública eficiente…muitos ricos destroem as áreas de mananciais para construírem suas marinas…casas super luxuosas ..lanchas a perder de vistas…e o total descontrole das próprias construtoras em oferecer cada vez mais moradias sem nem se quer se importar de fato com o meio ambiente…ah isso tudo cansa…só enxergam lucros ..mas essa provocação está sendo cobrada…a natureza com certeza continuará mandando recados..pobres mortais..ignorância da soberba
vamos e voltamos tirem todas as mulheres das praias pra ver se lota de turista homens não fica um kkkkkkkkk
A superlotação de praias e o turismo predatório são grandes problemas contemporâneos e demandam soluções, que não são simples devido à complexidade dos desafios.
João Lara, como sempre, traz à tona problemas que não podem ser ignorados e cujo debate é necessário. Mas, gostaria de fazer uma observação: me parece que limitar o acesso pelo critério de cobrança tende a elitizar o acesso a bens naturais que são de toda humanidade e não garante a preservação de praias, mares e florestas.
O excesso de turistas de um dia, em grande parte sem educação, consciência ambiental e sem respeito coletivo, que trazem alimentação de casa e deixam resíduos como fraldas descartadas nas areias, urinam e defecam na rua , aliado à ausência de infraestrutura básica — como banheiros públicos — como ocorre na Praia de Pernambuco, em Guarujá, que tem um excesso absurdo de carrinhos e ambulantes , tem provocado um cenário de verdadeiro colapso. Essa situação contribui para o aumento da insegurança, desrespeito total as leis municipais e de transito, e resulta, consequentemente, na inadimplência e até no abandono de imóveis por parte de proprietários que se veem desmotivados e descontentes com a degradação da região.
É possível, sim, reverter esse quadro por meio de planejamento responsável e medidas eficazes de gestão urbana. e fiscalização. Contudo, isso exige firmeza, independência e coragem para que não se permita a influência de agentes políticos que, por interesses meramente particulares, acabam comprometendo o bem-estar da comunidade e a qualidade de vida local.
Vdd!
Há uma má vontade por parte dos governantes qto a esses problemas.
Necessita um comprometimento e é claro a falta de interesse.
A natureza chora e as consequências já estão a caminho….
Acho que cobrar pra entrar em praias é demais. como se já não bastasse o custo pra ir viajar e ainda ter que pagar diárias pra estar na praia foge do direito de ir e vir e de uma série de coisas. Como em alguns países mencionado acima, teria que limitar a quantidade de pessoas, pq se cobrar vai continuar cheio do mesmo jeito e injetando mais dinheiro para as prefeituras.
E aí continuamos tudo sem o mínimo controle? Continuamos enxugando louça com toalha molhada? Por esse tipo de pensamento é que o s problemas humanos aumentam. Desculpe a sinceridade e sem nada pessoal mas não adianta a gente achar que é só ir lotando o ônibus e achar que vai caber sempre. Uma hora a conta chega e o ser humano já vai receber logo essa conta pela má gestão dos recursos naturais.
Aliás já está recebendo a conta por ocasião das severas mudanças climáticas em todo o mundo. A pergunta que fica é asguinte: Vamos continuar tapando o sol com a peneira e fazer de conta que o problema não é nosso??
o grande problema é exatamente o que foi citado na matéria. a não discussão e omissão da sociedade imprensa governos especialmente no Brasil. infelizmente a discussão é evitada justamente pelos que tem lucro com o turismo. ou seja o dinheiro é que domina nosso dia a dia. aliás brasileiro em geral parece que tem medo de assuntos polêmicos .
creio que o problema é superlotação em épocas sazonais! Boa parte do ano e durante a semana as praias estão vazias. Creio que a uma ajuda seria dar férias por categorias durante o ano e móveis para não haver privilégios somente no verão. Os mesmos municípedes que reclamam sabem que as cidades litorâneas não sobrevivem sem turistas, apenas com os impostos e comércio dos moradores.
O grande vilão do Turismo Predatorio e Insustentável é o Aluguel de Curta Temporada, ou Hospegagem Coletiva por Plataformas Digitais em Residencias Unifamiliares , tipo airbnb, booking, etc …, quando se aluga a casa toda para grandes grupos e sempre com superlotação e alto impacto na Qualidade de Vida dos Residentes… A Hospedagem para fins Comerciais, deve apenas ser oferecido apebas pelos Hotéis e Pousadas Oficiais e de baixo Impacto, e nunca por Proprietarios Alugadores , que nada Contribuem aos Municípios , e deixan apenas o lixo e todas as perdas.
A superlotação em praias é algo sazonal, chega o verão ou período de férias escolares é que as praias lotam. As hospedagens domiciliares não são a causa direta da superlotação e através delas muitas famílias complementam a renda para viver e se manter no local que acaba ficando mais caro. A cobrança de taxas também inviabiliza ou cria um certo elitismo no local favorecendo os mais ricos. A região de praia é um bem de todos e não apenas de uma classe. Se houvesse mais ofertas de parques aquáticos e clubes o problema poderia ser mitigado.