Desastre Ambiental no Mar da Califórnia? Esclarecimentos

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Desastre Ambiental no Mar da Califórnia? Esclarecimentos

Os oceanos já foram usados, por décadas, como depósito de lixo tóxico — um esconderijo conveniente para resíduos incômodos da terra firme. Quase como varrer sujeira para debaixo do tapete. Foi exatamente isso que ocorreu no litoral da Califórnia, a menos de dez milhas da costa de Los Angeles. O caso veio à tona graças ao trabalho do cientista marinho David Valentine, da Universidade da Califórnia. Ele descobriu centenas de barris com resíduos perigosos no fundo do mar. Um desastre ambiental, encoberto por décadas, e tema deste post.

barril de DDT no mar da Califórni provoca desastre ambiental
Barril de DDT. Imagem, David Valentine/UC Santa Barbara.

Desastre ambiental escondido no mar da Califórnia

Em dois estudos — um em 2011 e outro em 2013 — o pesquisador David Valentine, da Universidade da Califórnia, confirmou visualmente cerca de 60 barris suspeitos de conter o inseticida DDT, hoje proibido.

Anos depois, em março de 2021, os barris foram redescobertos. Durante um exercício de mapeamento do fundo marinho, pesquisadores usaram imagens de alta resolução para escanear 15.000 hectares em profundidades de até 900 metros.

Foi aí que perceberam a real dimensão do problema. Encontraram mais de 27 mil barris. Segundo o site abc.net.au, muitos estão visivelmente vazando — e os cientistas acreditam que o número total pode chegar a algumas centenas de milhares.

Corpo de água vira lixão

Segundo o abc.net.au, esse trecho do oceano foi usado como depósito de lixo por diversas empresas petroquímicas ao longo do século 20 — até que os EUA aprovaram a Lei de Despejo Oceânico, em 1972.

David Valentine afirmou: “A prática de despejo já havia sido registrada, mas esquecida em arquivos empoeirados. Fomos os primeiros a ver o que realmente havia no fundo do mar, a 900 metros de profundidade.”

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Análises de sedimentos retirados da área, publicadas em 2019 por Valentine e colegas, revelaram altas concentrações de DDT (diclorodifeniltricloroetano), um pesticida banido há décadas.

Pesquisas anteriores já tinham apontado níveis elevados de DDT na gordura de golfinhos do sul da Califórnia. Leões-marinhos também apresentaram índices muito altos de DDT e PCBs, além de uma ocorrência significativamente maior de câncer. O PCB, produto químico altamente tóxico, está proibido no Brasil desde 1981.

Desastre ambiental: conheça o DDT

O DDT surgiu em 1939. Durante a Segunda Guerra Mundial, ganhou uso como pesticida para proteger tropas de doenças como a malária.

Depois da guerra, a produção explodiu. O produto se espalhou por plantações, ruas, casas e até praias cheias de banhistas, sempre com o mesmo objetivo: eliminar mosquitos e outras pragas.

Mas, na década de 1960, veio a descoberta: o DDT é tóxico. Ele se acumula no organismo de animais e seres humanos, causando efeitos graves. Entre eles, distúrbios hormonais, infertilidade e, provavelmente, câncer.

Em 1972, os Estados Unidos baniram o uso do DDT.

Preocupação com a vida marinha

O professor Valentine disse estar preocupado com a possibilidade do produto químico estar concentrando a cadeia alimentar à medida que os barris de desintegram e liberam DDT no meio ambiente.

Segundo o jornal The Guardian, ‘os barris cobrem uma área do fundo do mar com o dobro do tamanho de Manhattan, na costa da ilha Catalina’.

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Diz  o Guardian que cientistas estão preocupados com a extensão do lixão, não apenas na costa de Los Angeles, mas nas águas do mar em todo o país, já que no passado as indústrias tratavam o mar como alternativa barata para aterros sanitários por décadas.

Rainer Lohmann, professor de oceanografia da Universidade de Connecticut, que não participou do projeto, disse ao Guardian: “Se tivéssemos dinheiro e senso de propósito, descobriríamos muitos outros locais como esse. O problema é: o que fazer com depósitos de lixo corroídos?”

A pergunta remete a outro exemplo alarmante — o  mar Báltico, onde há mais de 1,6 milhão de toneladas de armas nazistas lançadas durante a Segunda Guerra Mundial.

Ou mesmo dos testes nucleares feitos nos mares nos anos 50 e 60 que deixaram traços de radiação até mesmo nolitoral do Brasil.

A reportagem do LA Times reacendeu o alerta

O interesse por investigar o despejo de DDT voltou à tona após reportagens do Los Angeles Times sobre descobertas feitas em 2011 e 2013.

Só depois dessas publicações é que teve início a mais recente missão de busca.

Pesquisadores do Scripps Institution of Oceanography, em parceria com a NOAA, lideraram a operação.

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Pela primeira vez, a equipe usou robôs submarinos, imagens acústicas de sonar e análise de dados para mapear, em detalhes, dezenas de milhares de barris jogados no oceano.

E a solução? Ainda não existe

“Nós simplesmente não sabemos”, disse um cientista ao Guardian. Segundo ele, ideias como remover os barris ou isolá-los com estruturas de concreto seriam extremamente caras — e talvez inviáveis.

Para o professor David Valentine, o foco agora deve ser entender como o DDT e outros resíduos tóxicos estão afetando o ambiente marinho.

“Ainda não sabemos quanto desse material os micro-organismos no sedimento conseguem degradar, nem com que rapidez ele se enterra nos estratos geológicos”, explicou.

E concluiu: “Faltam dados. Precisamos de um esforço conjunto da comunidade científica, com apoio dos governos federal e estadual, para preencher essas lacunas e definir metas claras.”

Imagem e abertura: David Valentine/UC Santa Barbara.

Fontes: https://www.abc.net.au/news/science/2021-04-30/barrels-leaking-insecticide-ddt-la-coast-dumping-ground/100100912?utm_campaign=news-article-share-control&utm_content=facebook&utm_medium=content_shared&utm_source=abc_news_web&fbclid=IwAR1yNWEdDENw8FNw9ZrXAy5FTd8leZRyKVx-p66Jv715sY4P2rxR7Y5sv4s; https://maremarinheiros.blogspot.com/p/desastre-ambiental-chocante-escondido.html; https://www.theguardian.com/environment/2021/apr/29/californias-legacy-of-ddt-waste-underwater-dump-site-uncovers-a-toxic-history.

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Comentários

1 COMENTÁRIO

  1. Trágico! Os EUA gostam de cuidar da ecologia dos outros. Deveriam deixar de serem os maiores poluidores do planeta, depois palpitar sobre as florestas de outros países.

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