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Crise climática, existem muitas soluções e são lucrativas

Crise climática, existem muitas soluções e são lucrativas

Crise climática, existem muitas soluções e são lucrativas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já endossados pela Nasa, não deixam dúvidas. Desmatamentos e incêndios na Amazônia voltaram com força nesses primeiros oito meses do ano. Comentamos este assunto no post Amazônia e queimadas, histeria coletiva.

imagem de chaminés e fumaça
Imagem, Alliance/dpa/Geisler- Fotopress.

Crise climática: terras devastadas se tornam improdutivas

Os números são do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo do Brasil (MapBiomas). Mas tem informação pior. O MapBiomas diz que boa parte dos milhões de hectares devastados não serve para coisa alguma. Nem para pasto. Sem planejamento ambiental e agrícola, as terras foram mal utilizadas e se deterioram. Tornaram-se improdutivas. O MapBiomas é uma rede colaborativa. Foi criada em 2015. É composta de especialistas em biomas, usos da terra, sensoriamento remoto, ciência da computação e SIG. Utiliza a plataforma Google Earth Engine para elaborar séries históricas de mapas da cobertura e uso da terra no Brasil.

Soluções dão mais lucro que usos convencionais

Os cientistas mostram a realidade. Mas também, soluções. Elas existem. E muitas são mais lucrativas que os velhos usos dos recursos naturais. Essa é a boa notícia. Só é preciso implementá-las. Entre as principais, zerar o desmatamento e restaurar as florestas. E também os ecossistemas costeiros. Ações que devem ser iniciadas já. Antes de o mundo ficar sufocado com o aquecimento global. As emissões de dióxido de carbono (CO2) têm batido recordes. As queimadas na Amazônia colaboram para isso, e muito. O CO2 representa 76% do total de emissões de gases do efeito estufa lançados anualmente na atmosfera – 62% provenientes de combustíveis fósseis, 11% do uso da terra e 3%, de químicos.

Crise climática: natureza retira dióxido de carbono da atmosfera de graça

“O que seria capaz de remover em escala a poluição da atmosfera de modo a fazer diferença para o clima? Bem, na verdade a natureza já faz isso. Todos os anos, em grande quantidade e de graça.” Quem explica é Jonathan Foley, cientista ambiental especializado em sustentabilidade, baseado em dados do Global Carbon Project. “Apenas cerca de 45% das emissões anuais de CO2 se mantêm na atmosfera. E elas contribuem com a mudança do clima. Os outros cerca de 55% são basicamente absorvidos pelos oceanos (cerca de 23%, saiba mais) e ecossistemas terrestres (cerca de 32%)”, diz Foley. O autor publicou  artigo no Climainfo. Ou seja, é urgente reflorestar e cuidar da saúde dos oceanos e suas áreas costeiras.

Ecossistemas terrestres e oceanos absorvem mais da metade de CO2

“É importante reiterar: mais da metade das nossas emissões anuais de CO2 é imediatamente absorvida pelos ecossistemas terrestres e pelos oceanos, reduzindo dramaticamente o impacto das nossas atividades no clima. E pode ser possível melhorar essas capturas naturais. Tanto na terra como nos oceanos de modo a que elas absorvam ainda mais dióxido de carbono. Reflorestar grandes áreas. Restaurar solos ricos em carbono sob nossas terras degradadas e de agricultura, restaurar ecossistemas costeiros. E ainda proteger ecossistemas naturais sob corrente ameaça são as maneiras de fazer isso agora. E há muitas outras maneiras”, enfatiza o cientista. E é bom que se faça logo. Os oceanos, por exemplo, já sofrem com o excesso de calor e o aquecimento global já é considerado o evento mais forte em dois mil anos!

Crise climática: é preciso cortar emissões de gases do efeito estufa

Foley é diretor executivo do Projeto Drawdown, uma organização que investiga e analisa soluções climáticas viáveis. E as compartilha com o mundo. “Fazemos parcerias com comunidades, formuladores de políticas, organizações sem fins lucrativos, empresas, investidores e filantropos. Identificamos e implantamos soluções climáticas eficazes e baseadas na ciência – o mais rápido, seguro e equitativo possível.” Segundo Foley, antes de qualquer coisa, é preciso, cortar emissões. Elas vêm, principalmente, dos combustíveis fósseis, do uso da terra e alimentação e dos processos industriais. “Precisamos de um portfólio de abordagens para enfrentar a mudança do clima. E não colocar todos os nossos gases de efeito estufa em um único balaio de soluções.”

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Atuação em várias frentes em busca da sustentabilidade

“Eu focaria em diferentes problemas. Para começar, incluindo melhoria na eficiência de consumo de energia. Também o aumento de geração de energia renovável e a redução do desperdício de alimentos. É preciso uma mudança nas dietas com uso de alimentos menos danosos ao meio ambiente. E mais: melhoria dos sistemas de agricultura; eletrificação dos transportes onde possível, utilizando combustíveis sustentáveis onde possível. E ainda a construção e remodelagem de edificações para versões de extrema eficiência energética, e eletrificação dos sistemas de calefação e refrigeração. Devemos também focar no metano (outro gás de efeito estufa), e nos chamados superpoluentes, o mais rápido possível, para ganharmos tempo para enfrentar os demais desafios”, ressalta Foley.

Combate à crise climática  exige transformações culturais e estruturais

O cientista reconhece ser difícil combater a crise climática, uma vez que exige transformações estruturais e culturais. “Enfrentar a crise climática é possível, mas não será fácil. Precisamos transformar políticas, práticas de negócio, fluxos de capital e infraestrutura, e comportamentos pessoais em escala massiva. Será uma grande transformação em nosso mundo. Mas precisamos disso, e acredito que podemos fazê-lo.”

Reflorestar terras marginais evita desmatamentos

O site doProjeto Drawdown traz soluções e informações interessantes. Mais de 709 milhões de acres de terra foram reflorestados desde 2014. Com mais 204 milhões de acres de terras marginais recuperadas, seria possível sequestrar 18,1 gigatoneladas de dióxido de carbono até 2050. “O uso de terras marginais para reflorestamento também evita indiretamente o desmatamento que de outra forma seria feito no sistema convencional. Com um custo de US$ 29 bilhões para ser implementado, essa área adicional de plantações de madeira poderia produzir um lucro líquido para os proprietários de terra de mais de US$ 392 bilhões até 2050.” O Mar Sem Fim já escreveu que plantar árvores é a melhor solução.

Terras em áreas costeiras armazenam mais carbono

As áreas costeiras abrigam pântanos salgados, mangues e ervas marinhas. Chamadas de zonas úmidas, elas são o habitat natural para inúmeras espécies de peixes. Também são as áreas onde as aves migratórias se alimentam. Os ecossistemas costeiros são uma defesa contra tempestades e enchentes. Também filtram a água e recarregam os aquíferos. As terras sob esses ecossistemas podem “armazenar cinco vezes mais carbono do que florestas tropicais a longo prazo, principalmente em solos de zonas úmidas profundas. Só o solo das florestas de mangue pode conter o equivalente a mais de dois anos de emissões globais – 22 bilhões de toneladas de carbono –, muitas das quais escapariam se esses ecossistemas fossem perdidos”. Apesar disso, no Brasil os mangues do Nordeste foram dizimados pela carcinicultura.

Zona costeira pode retirar 3,2 gigatoneladas de dióxido de carbono da atmosfera

“Dos 121 milhões de acres de zonas úmidas costeiras em todo o mundo, 18 milhões de acres estão protegidos hoje. Se mais 57 milhões de acres forem protegidos até 2050, as emissões evitadas resultantes e o sequestro continuado poderão totalizar 3,2 gigatoneladas de dióxido de carbono. Embora limitados em área, as zonas úmidas costeiras contêm grandes sumidouros de carbono; protegê-los garantiria cerca de 15 gigatoneladas de carbono, o equivalente a mais de 53 gigatoneladas de dióxido de carbono, se lançado na atmosfera”, explica o Drawdown.

Agricultura de conservação para reverter a crise climática

O Projeto Drawdown também estimula a agricultura de conservação para reverter a crise climática. Ele estima que esse tipo de produção cresça dos atuais 177 milhões de acres para 1 bilhão de acres até 2035. Fruto, especialmente, do aumento da consciência de consumidores a respeito dos malefícios dos agrotóxicos (saiba sobre os agrotóxicos no Brasil). “À medida que a agricultura regenerativa se torna mais amplamente utilizada, a agricultura de conservação oferece benefícios significativos, reduzindo as emissões de dióxido de carbono em 17,4 gigatoneladas com base nas taxas médias de sequestro de carbono de 0,15 a 0,25 toneladas de carbono por acre por ano, dependendo da região. Os custos de implementação são baixos, US$ 38 bilhões, com um retorno de US$ 2,1 trilhões.”

Plano de restauração florestal para o país de cientistas brasileiros

As propostas do Drawdown valem para todos os governos, de qualquer país. Afinal o problema é global e cada um tem que fazer a sua parte. No Brasil, os cientistas formulam há muito tempo planos específicos para o país de combate à crise climática. Na mesma semana em que a Amazônia ardia dramaticamente, foi lançado o documento “Restauração de Paisagens e Ecossistemas”. Nele, é proposta a recuperação de parte dos 71 milhões de hectares de vegetação nativa perdidos nos últimos 30 anos, como aponta a Agência FAPESP, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Solução: recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa

O documento indica, como parte da solução, a recuperação estratégica de 12 milhões de hectares de vegetação nativa em todo o país até 2030. Por falar nisso, este reflorestamento foi proposto pelo Brasil na Conferência de Paris. Com isso, seria possível sequestrar 1,39 megatonelada de dióxido de carbono “da atmosfera, interligar fragmentos naturais na paisagem e ainda aumentar em 200% a conservação da biodiversidade”. Lembra ainda que essa ação está estabelecida no Plano Nacional de Restauração Ecológica.  O documento é resultado de uma parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos(BPBES), apoiada pelo programa BIOTA-FAPESP, e o Instituto Internacional de Sustentabilidade (ISS). Foi elaborado por um grupo de 45 pesquisadores, de 25 instituições do país.

Conservação, restauração e produção agrícola devem caminhar juntas

“O sumário mostra que as questões ambientais [conservação e restauração ecológica] e a produção agrícola são interdependentes e podem caminhar juntas, sem prejuízo para nenhum dos lados. Pelo contrário. Ela só traz benefícios diretos, como a disponibilização de polinizadores para as culturas agrícolas, a conservação da água e do solo e, principalmente, a possibilidade de certificação ambiental da produção, permitindo agregar valor”, conforme disse à FAPESP o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), Ricardo Ribeiro Rodrigues. Ele é um dos pesquisadores.

Brasil não pode retroceder na política ambiental de redução do desmatamento

O documento observa também que “para que as oportunidades se tornem realidade, o país não pode retroceder em suas políticas ambientais de redução do desmatamento, conservação da biodiversidade e impulsionamento da recuperação e da restauração da vegetação nativa em larga escala”. “O fim da obrigatoriedade da Reserva Legal, as reduções das alternativas de conversão de multas e a extinção dos fóruns de colaboração e coordenação entre atores governamentais e da sociedade seriam perdas irreparáveis para uma política de adequação ambiental.”

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Brasil pode perder mercados internacionais de produtos agrícolas

Os autores alertam também sobre as consequências de o Brasil perder o papel de líder “em negociações ambientais internacionais”. Uma delas, e que já está se realizando, é a perda de mercados internacionais de produtos agrícolas. É crescente a demanda de consumidores mundo afora por produtos sustentáveis. E é crescente também o vínculo comercial pautado “em políticas de não consumo de produtos provenientes de áreas desmatadas”. “O Brasil não deveria ter nenhuma dificuldade de colocar seus produtos agrícolas no mercado internacional. O diferencial poderia ser uma agricultura sustentável praticada em ambientes de elevada diversidade natural. Isso é um ativo que nenhum outro país tem”, diz Rodrigues.

Sustentabilidade da pecuária é vital para restauração vegetal

“De acordo com o documento, a intensificação sustentável da pecuária brasileira é um processo-chave para aumentar a produtividade do setor e liberar as áreas agrícolas de menor produtividade para o cumprimento de leis e metas ambientais. O aumento da produtividade média da pecuária brasileira de 4,4 para 9 arrobas por hectare por ano permitiria não só a atingir a meta brasileira de recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. E além disso, zerar o desmatamento ilegal e liberar 30 milhões de hectares para a agricultura. O aumento da produtividade das pastagens nos próximos 30 anos seria suficiente, considerando o Brasil como um todo, para garantir o cumprimento de leis e metas ambientais. Isso pode ser confirmado nos resultados regionais, afirmam os pesquisadores.”

Produtividade das pastagens na Amazônia, mata atlântica e cerrado

Na Amazônia, seria preciso ampliar a produtividade das pastagens do nível atual de 46% para 63-75% do seu potencial sustentável, em 15 anos. “Na Mata Atlântica, esse mesmo processo necessita de um aumento dos atuais 24% para 30-34% do seu potencial, sendo que tal incremento é possível apenas aplicando o conhecimento básico de manejo de pastagens”. Já no Cerrado, seria preciso sair dos atuais 35% para 65% do potencial sustentável até 2050 para equilibrar “expansão agrícola sustentável, restauração em áreas prioritárias e desmatamento ilegal zero”. “Não há nenhuma justificativa para o desmatamento que está acontecendo na Amazônia e no Cerrado agora, porque estamos gerando ainda mais pecuária de baixa produtividade.”

Crise climática: Brasil já tem muitos exemplos de projetos de pecuária sustentável

“Há vários exemplos de projetos de pecuária sustentável no país, em que são tecnificadas as melhores áreas para a pastagem e as áreas marginais, que são as Áreas de Preservação Permanente [APPs] para proteção da água, do solo e da biodiversidade.  As áreas agrícolas de menor aptidão agrícola, que cabem no conceito de reserva legal, são ocupadas com florestas econômicas biodiversas, para a recuperação ambiental e produtiva da propriedade”, observa Rodrigues.

Restaurada, Mata Atlântica pode sequestrar 1 bilhão de tonelada de CO2

Segundo o documento, a recuperação do débito de Reserva Legal da Mata Atlântica pode evitar até 26% da extinção de espécies e sequestrar 1 bilhão de tonelada de dióxido de carbono.  Hoje, o debito de Reserva Legal é de 5 milhões de hectares. As espécies somam 2.864, entre plantas e animais. “A relação custo-efetividade desse cenário é oito vezes maior se comparada a um contexto sem priorização espacial, o que aumenta em 257% a extinção evitada de espécies e em 105% o sequestro de carbono, além de reduzir os custos em 57%. A condução da regeneração natural em áreas com condições ambientais e socioeconômicas favoráveis no bioma pode reduzir em até 77% o custo de implementação da restauração nos próximos 20 anos.”

Imagem de abertura: Alliance/dpa/Geisler- Fotopress.

Fontes: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/21/politica/1566407148_180887.html; http://agencia.fapesp.br/-possivel-recuperar-12-milhoes-de-hectares-de-vegetacao-nativa-do-pais-ate-2030-indica-relatorio/31291/; https://www.bpbes.net.br/wp-content/uploads/2019/08/SPM_RestauracaoVF_ebook.pdf;  https://www.bpbes.net.br/;  http://mapbiomas.org/pages/about/about; https://www.drawdown.org/.

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