Correntes do oceano Atlântico aproximam-se do ponto de inflexão

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Correntes do oceano Atlântico aproximam-se do ponto de inflexão

Como este site já mostrou, os oceanos regulam o clima na Terra através da interação entre as correntes marítimas e a atmosfera. Estas correntes agem como rios invisíveis no mar. Sua formação se deve aos ventos, marés, diferenças de temperatura e salinidade, e a rotação do planeta. Elas podem ser de superfície, formadas pelos ventos, ou mais profundas, abaixo de 300 metros, geradas por águas de diferentes temperaturas e salinidade, também chamadas circulação termohalina. As correntes podem mover a água horizontalmente e verticalmente e ocorrem em escalas locais e globais. Um novo estudo mostra que as correntes do oceano Atlântico, AMOC – Circulação Meridional do Atlântico –, aproximam-se do ponto de inflexão, o que pode ser devastador para a humanidade.

oceano Atlântico
Acervo MSF.

O novo estudo

A pesquisa na ScienceAdvances destaca a AMOC como crucial para o clima e alerta que a entrada de água doce no Atlântico Norte ameaça sua estabilidade, com modelos climáticos já tendo simulado o colapso da AMOC devido a essa entrada. Assim, a análise inédita explora o ponto de inflexão da AMOC, revelando os significativos impactos climáticos de um possível colapso e evidenciando que a AMOC se aproxima de um ponto crítico.

Não é a primeira vez que a ciência destaca mais este problema. Em 2020, um estudo mostrou que as correntes oceânicas de superfície estavam acelerando em razão de ventos mais fortes no mar produzidos pelo aquecimento. Os ventos sobre o oceano estão aumentando a uma taxa de 1,9% por década, descobriram os pesquisadores.

correntes oceânicas
Ilustração, NOAA.

Seja como for, os cientistas ainda não estavam certos sobre todas as consequências dessa aceleração. Mas elas podem incluir impactos em regiões-chave ao longo das costas orientais dos continentes, onde várias correntes se intensificaram. O resultado, em alguns casos, aumentou os pontos quentes do oceano, o que prejudica a vida marinha.

O problema agora parece ser bem maior. Como se sabe, o Ártico está esquentando ao dobro da taxa média do resto do planeta. Mesmo que o mundo pare de emitir gases de efeito estufa hoje, as perdas de gelo da Groenlândia prosseguiriam em escala alarmante. É daí que mais água doce entra nos oceanos. Como as correntes profundas são geradas pela diferença de temperatura e salinidade de massas d’água, fica mais fácil compreender o que o novo estudo descobriu.

O Dia Depois de Amanhã

Pela similaridade do roteiro, muitos veículos da mídia fizeram comparações com o filme O Dia Depois de Amanhã, de 2004, com Dennis Quaid. No filme, a Terra sofre alterações climáticas que fazem com que o norte se resfrie cada vez mais, passando por uma nova era glacial. Enquanto milhares de pessoas rumam para o sul, o herói, Dennis Quaid, segue caminho inverso e segue para Nova York ao encontro de seu filho.

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O Caledonian Record abriu sua matéria assim: Supertempestades, mudanças climáticas abruptas e Nova York congelada. Foi assim que o filme de Hollywood “O Dia Depois de Amanhã” retratou um desligamento abrupto da circulação do Oceano Atlântico e as consequências catastróficas’.

Apesar da visão de Hollywood ser exagerada, o filme de 2004 levantou uma séria questão: se o aquecimento global parasse a Circulação de Retorno Meridional do Atlântico, que é crucial para levar o calor dos trópicos para as latitudes do norte, quão abruptas e severas seriam as mudanças climáticas?

A pergunta está num texto do The Conversation. ‘Vinte anos após o lançamento do filme, sabemos muito mais sobre a circulação do Oceano Atlântico. Instrumentos implantados no oceano a partir de 2004 mostram que a circulação do Oceano Atlântico diminuiu nas últimas duas décadas, possivelmente para o seu estado mais fraco em quase um milênio. Estudos sugerem que a AMOC poderia atingir esse ponto de inflexão à medida que o planeta aquece e as geleiras e as camadas de gelo derretem.

Apesar de parecer ficção científica, não nos esqueçamos da imensa capacidade do ser humano em alterar o meio ambiente. Nossa ação já gerou, entre outros, a acidificação das águas do oceanos que cobrem 71% da área do planeta. E isso não é pouca coisa.

Velocidade prevista do colapso quando o ponto de inflexão for alcançado

Segundo o Guardian, que também repercutiu, os cientistas por trás da pesquisa disseram que ficaram chocados com a velocidade prevista do colapso quando o ponto for alcançado, embora tenham afirmado que ainda não é possível prever quando isso aconteceria. Utilizando modelos informáticos e dados anteriores, os investigadores desenvolveram um indicador de alerta precoce para a quebra da circulação meridional do Atlântico (Amoc), um vasto sistema de correntes oceânicas que é um componente chave na regulação climática global.

Eles descobriram que a Amoc já está no caminho certo para uma mudança abrupta, o que não acontecia há mais de 10.000 anos e teria implicações terríveis para grandes partes do mundo. A Amoc diminuiu 15% desde 1950 e está no seu estado mais fraco em mais de um milênio, de acordo com pesquisas anteriores que suscitaram especulações sobre um colapso próximo.

Qual a gravidade do fenômeno?

De acordo com o Guardian, até agora não houve consenso sobre o quão grave isso será. Um estudo do ano passado, baseado nas mudanças de temperaturas da superfície do mar, sugeriu que o ponto de inflexão poderia acontecer entre 2025 e 2095 . No entanto, o Met Office do Reino Unido disse que mudanças grandes e rápidas na Amoc seriam “muito improváveis” no século 21.

Contudo, informa o jornal, o novo artigo abriu outros caminhos ao procurar sinais de alerta nos níveis de salinidade na extensão sul do Oceano Atlântico, entre a Cidade do Cabo e Buenos Aires. Simulando mudanças ao longo de um período de 2.000 anos em modelos computacionais do clima. Desse modo, descobriu-se que um declínio lento pode levar a um colapso repentino em menos de 100 anos, com consequências calamitosas.

As consequências seriam dramáticas. O nível do mar no Atlântico aumentaria um metro em algumas regiões, inundando muitas cidades costeiras. As estações chuvosa e seca na Amazônia mudariam, potencialmente empurrando a já enfraquecida floresta tropical para além do seu próprio ponto de inflexão. Curioso notar que no mesmo dia em que publicamos este post, a mídia brasileira repercutiu um estudo publicado na Nature, que diz que a Amazônia pode entrar em colapso, em outras palavras, atingir o ponto de inflexão em 2050.

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Outras consequências do enfraquecimento da AMOC seriam a flutuação muito mais errática das  temperaturas em todo o mundo. O hemisfério sul, por exemplo, ficaria mais quente. A Europa, em contraste, esfriaria dramaticamente e teria menos chuvas. As mudanças ocorreriam 10 vezes mais rapidamente do que agora, tornando a adaptação quase impossível.

Para René van Westen, da Universidade de Utrecht, que falou ao Guardian, “será devastador.” Westen disse que ainda não existem dados suficientes para dizer se isso ocorrerá no próximo ano ou no próximo século, mas quando acontecer, as mudanças serão irreversíveis nas escalas de tempo humanas. “Estamos caminhando nessa direção. Isso é meio assustador”, disse van Westen. “Precisamos levar as mudanças climáticas muito mais a sério.”

Para saber mais, assista ao vídeo

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