Conheça a poluição invisível que ameaça os oceanos e outros corpos d’água
O plástico costuma receber muita atenção quando se trata de poluição oceânica, mas os produtos químicos representam uma ameaça significativa, que provavelmente estamos subestimando, conforme destaca Alex Rogers, ecologista da Universidade de Oxford. Em outras palavras, essa é a poluição invisível que, no entanto, gera tantos ou até mais problemas do que a pandemia de plástico. Um artigo do www.backtoblueinitiative.com faz uma pergunta que repetiremos: Você pode viver sem produtos químicos feitos pelo homem? Segundo o Conselho Internacional de Associações Químicas, 95% de todos os produtos manufaturados dependem de ingredientes ou processos químicos. Isso significa que, para cada objeto produzido sem produtos químicos, outros 99 são feitos com a utilização de produtos químicos.
A poluição que a gente não vê
Entretanto, o www.chinadialogueocean.net aponta que “suas diversas aplicações” (referindo-se aos produtos químicos) revolucionaram nossas vidas, mas também podem representar uma ameaça à vida marinha e aos ecossistemas.
Esses produtos químicos chegam ao mar por diversas vias, incluindo a água usada para lavar pratos, águas residuais oleosas despejadas por navios no oceano e até mesmo papel higiênico com aditivos químicos.
Produtos químicos sintéticos já foram detectados nas remotas fossas marinhas do Ártico e nas profundezas do oceano. Uma investigação da União Europeia sugere que 75% do Atlântico Nordeste, 87% do Mediterrâneo e 96% do Mar Báltico estão contaminados com substâncias sintéticas e metais pesados’.
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No entanto, existe um problema ainda mais grave que precisa ser resolvido antes de podermos lidar eficazmente com a poluição química. Esse problema é a falta de dados confiáveis. Conforme destacado no www.chinadialogueocean.net: “Na verdade, sabemos muito pouco sobre os impactos da maioria dos poluentes químicos na vida marinha. A compreensão tem sido dificultada devido à diversidade desses poluentes, sua composição complexa e suas propriedades variáveis. Além disso, a crescente sofisticação dos produtos de consumo significa que muitos deles são fabricados com dezenas de componentes químicos sintéticos, o que torna os impactos nos ecossistemas marinhos ainda mais complicados.”
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350.000 produtos químicos produzidos anualmente
A mesma fonte revela a complexidade do desafio que enfrentamos: “Uma análise realizada em 2021 revelou que, dos aproximadamente 130.000 estudos sobre os impactos ecológicos de produtos químicos sintéticos, apenas 65 produtos químicos receberam destaque na literatura científica. Além disso, não há informações públicas disponíveis sobre 120.000 dos 350.000 produtos químicos produzidos em todo o mundo.”
Essas lacunas de dados foram destacadas em um relatório de 2022 da Back to Blue, uma iniciativa conjunta da Economist e da Nippon Foundation. Jessica Brown, coautora do relatório, compartilhou suas impressões: “Participamos da Conferência dos Oceanos da ONU em junho passado, e uma das coisas que realmente nos impressionou foi a escassa discussão sobre qualquer tipo de poluição que não seja o plástico.”
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Os Poluentes Orgânicos Persistentes abrangem uma variedade de produtos químicos, incluindo o DDT e os Bifenilos Policlorados (PCBs), que foram amplamente usados como lubrificantes e refrigerantes em equipamentos elétricos até serem regulamentados na maioria dos países.
No entanto, o problema, conforme relatado pelo www.chinadialogueocean.net, é que esses produtos químicos, assim como outros Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), compartilham duas características distintas: persistência e a tendência de se acumularem nos tecidos adiposos.
No oceano, essas substâncias são constantemente “biomagnificadas” na cadeia alimentar. Alex Rogers explica: “Muitos grandes predadores têm uma longa expectativa de vida e, como resultado, enquanto continuam se alimentando de presas contaminadas, acumulam concentrações cada vez maiores desses compostos tóxicos em seus próprios corpos”. Esses produtos químicos foram associados a câncer, problemas de fertilidade e outras condições.
É por isso que já mencionamos anteriormente que as pessoas não devem consumir carne de tubarões/cações, pois esses animais são bioacumuladores, como explicamos.
Ninja Reineke, chefe de ciência da CHEM Trust, uma instituição de caridade do Reino Unido-alemã, falou ao www.chinadialogueocean.net:
“Estamos trabalhando em poluição química industrial, muitos de nós há mais de 20 anos”, diz Ninja. “E então, em algum momento, a poluição plástica se tornou o tema quente. Mas muitas das coisas com as quais nos preocupamos há anos são, na verdade, aditivos plásticos. Estes incluem PFAS, ftalatos (plásticos) e bisfenol A (BPA), que são infundidos em plásticos para, entre outras coisas, torná-los repelentes de água, flexíveis e claros. Tais produtos químicos são desreguladores endócrinos e foram encontrados ao afetarem a reprodução em moluscos, crustáceos, insetos, peixes e anfíbios. Eles se dissolvem do plástico oceânico à medida que se degrada. “Há muita coisa que não sabemos sobre isso, mas, no geral, os plásticos também são uma questão de poluição química”, acrescenta.
A regulamentação pode ajudar a conter a propagação?
Poder, ela pode. Duro mesmo, é conseguir uma regulamentação completa, e aceita pelo concerto das nações. O www.chinadialogueocean.net explica o que temos até agora.
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Atualmente, os aspectos relacionados à poluição química global são abordados por meio de uma complexa rede de iniciativas voluntárias, acordos internacionais, leis nacionais e estaduais, bem como tratados internacionais. As convenções de Basileia, Roterdã e Estocolmo regulamentam, respectivamente, o despejo e o comércio de resíduos perigosos, além da produção de determinados grupos químicos. Além disso, a União Europeia possui a legislação REACH, que coloca a responsabilidade nas empresas químicas para avaliar a segurança de seus produtos químicos antes de sua utilização.
Convenção de Londres
Contudo, há mais que as ações citadas pelo chinadialogueoicean. Quem explica é a National Geographic.
A Convenção de Londres, ratificada em 1975 pelos Estados Unidos, foi o primeiro acordo internacional a especificar uma melhor proteção para o meio ambiente marinho. O acordo implementou programas regulatórios e proibiu o descarte de materiais perigosos no mar. Um acordo atualizado, o Protocolo de Londres, entrou em vigor em 2006, proibindo especificamente todos os resíduos e materiais, com exceção de uma pequena lista de itens, como restos de materiais de dragagem.
Como se vê, temos muito ainda a fazer para preservar a resiliência dos oceanos.
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