Semear confusões sobre o clima, e o meio ambiente, parece ser o esporte predileto de Jair Bolsonaro. Pra que serve isso?
É incrível que o País com a maior biodiversidade do planeta seja obrigado a ouvir a quantidade de ‘desinformações’ para não dizer bobagens, a cada manifestação do presidente eleito, seu círculo próximo, incluso os filhos. De forma provocativa, debochando, Bolsonaro semeia confusões sobre o clima, sem se dar conta que é o chefe de Estado. Por isso mesmo, o que fala tem repercussão mundial. O exemplo mais notável foi a bravata de transformar o Ministério do Meio Ambiente em repartição secundária do Ministério da Agricultura. Ele tem todo o direito em mexer nos ministérios, reorganizá-los, reordená-los. Mas humilhá-lo, como se lá só houvesse vagabundos, acreditamos que não. Mesmo sem conhecer os meandros da pasta, foi o que fez Bolsonaro ao condenar publicamente a equipe que cuida do maior ativo brasileiro, a biodiversidade.
O ridículo resultado desta bravata
(Antes de prosseguir, repare a data deste post, logo abaixo do título…foi postado em dezembro de 2018. É só pra lembrar que, desde antes de assumir, o Mar Sem Fim alertou o que estava por vir).
De graça, o presidente se indispôs com mais de mil pessoas, os servidores do Ministério do Meio Ambiente. Pra quê? O preço será pago pelo novo ministro, Ricardo Salles. E ele já tem problemas demais. Acaba de ser condenado por improbidade administrativa em São Paulo. O capitão não percebe que pavimentar o caminho de sua equipe merecia estratégia melhor? Quem foi eleito para presidir o País deveria ter a grandeza de unir os cidadãos. E não o contrário, como fazia e ainda faz a patota mafiosa petista da qual Bolsonaro se diz o ‘maior inimigo’.
O público ficou atônito, não entende como um ministério protagonista desde a ECO- 92, é agora demonizado. Depois do inútil barulho, não demorou para o capitão dar o dito por não dito. Seus colegas do agronegócio correram a avisar o chefe que se o disparate fosse consumado, o Brasil seria seriamente punido pela comunidade mundial. O agronegócio, que nos sustenta, estava ameaçado pela precipitação do presidente da Repúblic. Bolsonaro foi obrigado a voltar atrás.
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Idas e vindas de Bolsonaro nas questões mais discutidas do momento: aquecimento global e meio ambiente
Não satisfeito em agredir o eleitorado comum, lembremos que na eleição de 2014 a candidatura verde teve nada desprezíveis 20 milhões de votos, o capitão partiu para o confronto com pesquisadores e cientistas ao ameaçar retirar o Brasil do Acordo de Paris. Seus filhos, defensores radicais das ideias do pai, deram uma pista do que ouvem em casa nos almoços aos domingos.
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A saída do pacto depende de votação no Congresso. Bolsonaro terá a segunda maior bancada a partir de 2019. Mas a desistência do Brasil de sediar a próxima conferência do clima, em 2019, teve sérias consequências. Pegou muito mal, e foi imediatamente retaliada pela França.
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Tundra do Ártico emite mais carbono do que absorveInvestimentos no litoral oeste do Ceará causam surto especulativoVanuatu leva falha global em emissões à HaiaPor tudo isso, é urgente avisar a família Bolsonaro que as eleições terminaram. Capitão eleito. Não é preciso continuar a campanha, ofendendo, ou disseminando confusões sobre o clima. Hoje, todo brasileiro de bom senso torce para seu governo. Mesmo porque, nunca estivemos tão próximos do abismo.
A economia se arrasta, a dívida pública, e o desemprego, explodem. E a moral, a ética no trato da coisa pública, bem, elas não existem mais. Foi seu discurso, pregando a moralidade, que elegeu Bolsonaro.
Confusões sobre o clima e agressão à ONU
O momento é de união, presidente. Chega de bravatas como retirar o Brasil da ONU, porque “o Conselho de Segurança do órgão não passa de uma reunião de comunistas, de gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul, pelo menos“. Mais uma provocação, desta vez contra nações aliadas. As mesmas de que dependemos para ter acesso à tecnologia, comércio, intercâmbio, financiamentos, etc. Triste, é um presidente tão tosco.
O Brasil não tem a economia dos Estados Unidos, não pode se indispor contra o mundo civilizado. Bolsonaro já foi acusado de homofóbico, misógino e fascista. Não é pra menos. Usa linguagem grosseira, e o modo de falar é imperial. Com isso, persiste a divisão. Se mantiver este espírito na hora de negociar as reformas com o Congresso, que Deus tenha piedade de nós.
Do Barão de Rio Branco para Ernesto Araújo
Enquanto procurava no baú dos esquecidos um nome para assumir o MMA, descobriu o do sucessor do Barão de Rio Branco, patrono da diplomacia, e uma das figuras mais importantes da história brasileira. Rio Branco, de tão bom foi Ministro das Relações Exteriores de quatro governos sucessivos, caso único na história. Uma rara unanimidade. Sua maior obra foi consolidar as fronteiras incorporando ao Brasil 900 mil quilômetros quadrados. Bem, para a cadeira dele, Bolsonaro indicou o diplomata Ernesto Araújo para quem o aquecimento global ‘é uma trama marxista’. E mais, Araújo explicou:
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Esse dogma vem servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados sobre a economia e o poder das instituições internacionais sobre os Estados nacionais e suas populações, bem como para sufocar o crescimento econômico nos países capitalistas democráticos e favorecer o crescimento da China
Nosso chanceler, que também dissemina confusões sobre o clima, tinha tanta gente boa pra admirar, mas preferiu Trump…Sinal dos tempos quando o chefe da maior nação do mundo é o controverso, politicamente incorreto, eticamente questionável, Donald Trump, infelizmente, é o modelo de Bolsonaro e de seu chanceler. Ainda que seja, não é necessário ser mal-educado e casca grossa o tempo todo só pra justificar.
Do repertório de Ernesto Araújo
Antes de encerrar, vamos lembrar que o chanceler acredita que “a esquerda sequestrou a causa ambiental e a perverteu até chegar ao paroxismo, nos últimos 20 anos, com a ideologia da mudança climática, o climatismo”. Ele também não se envergonha de dizer que a globalização é comandada pelo “marxismo cultural”.
Mais uma escolha errada do capitão. Em vez de procurar uma unanimidade, ele se esforça até achar alguém que divide, vai de encontro às maiores discussões do momento: o futuro da humanidade e das novas gerações.
Os motivos para tanta bronca
Em seus discursos ou em suas páginas nas redes sociais, apareceram alguns dos motivos pelos quais Bolsonaro demoniza o Ministério do Meio Ambiente e seus dois braços, o Ibama, e O ICMBio. Antes vamos saber o que faz cada um.
O Ibama e o ICMBio
Os dois são autarquias federais ligadas ao Ministério do meio Ambiente. O ICMBio cuida da gestão das unidades de conservação, educação ambiental e a maioria dos centros especializados. As principais atribuições do Ibama são exercer o poder de polícia ambiental; executar ações das políticas nacionais de meio ambiente, relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização, monitoramento e controle ambiental, etc.
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Agora, as críticas: Bolsonaro criticou os dois órgãos diversas vezes durante a campanha eleitoral, ao mesmo tempo em que afirmou que a proteção do meio ambiente não poderia ser um obstáculo ao desenvolvimento, e insistiu em que a indústria do agro estava “asfixiada” por regulamentações. “Asfixiada” e batendo recordes de produção ano a ano, como assim?
Multas
O presidente eleito criticou duramente os órgãos públicos de controle de abusos contra o meio ambiente, acusando-os de imporem “multas a torto e a direito.”
— Não vou mais admitir o Ibama sair multando a torto e a direito por aí, bem como o ICMbio. Essa festa vai acabar — afirmou Bolsonaro.
O próprio Bolsonaro recebeu do Ibama uma multa de R$ 10 mil, que ainda não pagou, por prática de pesca irregular. — Vou pagar essa multa? Vou. Mas sou uma prova viva do descaso, da parcialidade e do péssimo trabalho prestado por alguns fiscais do Ibama e ICMBio. Isso vai acabar — afirmou. Que parcialidade seria esta, se a legislação em vigor é explícita em proibir a pesca nas raras unidades de conservação de proteção integral?
O Licenciamento Ambiental
Algum tempo atrás abordamos a questão. Dissemos que empresários e ruralistas reclamavam da lei atual. Excessiva, minuciosa, cara. Provoca demora na aprovação e execução de projetos. Estas as maiores reclamações. Verdade? Em termos. O grande problema, a demora na aprovação dos projetos, não é causada pela legislação mas pela burocracia estatal. Onde não existe excesso de burocracia neste País?
Não temos nenhum serviço que preste. Saúde, educação, segurança. Por que cargas d’água o Licenciamento Ambiental seria diferente? O que falta, além de modificações pontuais na legislação, são técnicos de bom nível para fazerem a avaliação. Meritocracia: funcionários públicos de bom nível, e em número suficiente. Só isso resolve a questão da demora.
Os acertos de Bolsonaro, apesar das confusões sobre o clima
Registramos algumas: por exemplo, as que dizem respeito à economia; ao novo Ministério da Justiça; à determinação de privatizar; à reforma da Previdência que ele parece já sentir o peso, sugerindo fatiá-la, etc. Não há quem seja contra.
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Pelo fim da disputa entre ambientalistas e agronegócio
É hora de dar um basta a esta perda de tempo. As partes precisam maneirar. E o exemplo, vir de cima. Ainda agora oito ex-ministros do Meio Ambiente se uniram para escrever carta para o presidente publicada na sessão Opinião do jornal Folha de São Paulo, sob o título Valor e Importância das Unidades de Conservação e do ICMBio.
Assinaram a documento Carlos Minc, Gustavo Krause, Izabella Teixeira, José Carlos Carvalho, José Goldemberg, José Sarney Filho, Marina Silva e Rubens Ricupero, que participaram de diversos governos nos últimos 26 anos.
Presidente, está na hora de ganhar dinheiro com as Unidades de Conservação, não o contrário
Como vimos defendendo faz tempo, é hora de passar as Unidades de Conservação com vocação turística para a iniciativa privada. O ICMBio cria as regras, faz a licitação, e fiscaliza. A iniciativa privada explora o turismo construindo a infraestrutura necessária, contratando pessoal da própria comunidade para as funções possíveis, e investindo em propaganda já que o brasileiro comum mal sabe o que é uma unidade de conservação.
Não vamos reinventar a roda
Não vamos reinventar a roda. Estudos já mostraram que cada R$ 1,00 investido na visitação das unidades de conservação gera R$ 7,00 em benefícios para a economia via turismo. Até o ICMBio chegou a esta conclusão. Já escrevemos diversas vezes mostrando como conseguir este objetivo tese que vem contaminando outros ambientalistas e até mesmo as equipes federais do MMA.
Se bem explorado, o turismo é a melhor solução. Gera emprego e renda, e pode até mesmo transformar algumas UCs em auto-sustentáveis. O exemplo maior vem dos Estados Unidos onde, em 2017, de acordo com o relatório anual Recreation Economy, a atividade outdoor em parques e que tais rendeu a bagatela de US$ 887 bilhões de dólares, e criou 7.6 milhões de empregos. Os parques nacionais foram visitados por 300 milhões de pessoas.
Presidente, Bolsonaro, modere a linguagem, e chega de confusões sobre o clima. Há muito trabalho sério a ser feito.
Fontes Confusões sobre o clima : https://www.hypeness.com.br/2018/11/ministro-de-relacoes-exteriores-diz-que-aquecimento-global-e-trama-marxista/; https://www.gazetadopovo.com.br/instituto-politeia/bolsonaro-conselho-onu/; https://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/dirigentes-e-ex-ministros-do-meio-ambiente-saem-em-defesa-do-icmbio/?fbclid=IwAR3cl6JuGai4fyAziBB-pNZ4Wgphuc3GC8OqvG6zW3-Jr6UIBWeR8T7UchI; https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/11/hostilidade-de-filhos-de-bolsonaro-a-aquecimento-global-preocupa-ambientalistas.shtml;https://extra.globo.com/noticias/brasil/bolsonaro-diz-que-acredita-na-ciencia-ao-falar-de-aquecimento-global-mas-critica-paises-europeus-23274366.html.