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Balneário do Hermenegildo, RS, é destruído

Balneário do Hermenegildo: construções em cima de dunas é estupidez. Ressaca destrói 80 casas

A maioria  das pessoas que frequenta o litoral não têm a menor noção sobre onde podem, ou não, construir. A vontade de “ter vista pro mar”, o egoísmo de querer sua casa ‘pé na areia’, na frente das outras, e a ignorância quase absoluta sobre a função de cada ecossistema marinho está destruindo o litoral e causando enormes prejuízos. Foi o que aconteceu no Balneário do Hermenegildo, RS.

Ressaca destrói mais de 80 casas no Baleneário do Hermenegildo: entenda a função das dunas

Hermenegildo fica quase na divisa do Brasil com o Uruguai, a poucos quilômetros do Chuí. Quando foi loteado pela especulação imobiliária as casas foram construídas em cima de dunas. Dunas têm uma porção de funções.

Elas não estão onde estão por acaso, mas em razão dos elementos naturais de determinada região: ventos, marés, ressacas; e ainda as subidas e descidas do mar. Elas protegem a costa contra a erosão natural, asseguram a qualidade da água dos lençóis freáticos ao agirem como filtros da água da chuva. E ainda são um importante ecossistema para a flora e a fauna.

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Uma das funções das dunas é devolver a areia da praia que as ondas, ressacas, e a erosão natural tiram daquele espaço. O vento leva grãos de areia das dunas para o mar. As ondas do mar devolvem estes grãos para as praias, assim mantendo o que os acadêmicos chamam de ‘equilíbrio dinâmico’.

Ao impedirem que esta função continue, em razão da construção em cima das duas, o processo de erosão acelera. E quando vem as ressacas, a praia é “comida” sem ter a reposição natural.

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Foto minha, de 2014. Imaginem o prejuízo. Primeiro foi o gasto inútil com o muro de pedras. Agora a ressaca pôs esta casa abaixo. Não existe mais. Este é o custo de fazer coisas erradas no litoral. Que sirva de lição.

Era o que vinha acontecendo no Baleneário do Hermenegildo. Desde minhas primeiras viagem pela costa brasileira, tenho visto e alertado sobre este problema. A primeira vez que estive no Hermenegildo fiquei impressionado.

Corria o ano de 2007, e as casas já estavam sendo tragadas pelo mar. Conversei com dois professores da FURG sobre o assunto. Lúcia Anello, e Lauro Barcellos. Eu queria saber, quais, na opinião deles, eram os maiores problemas do litoral do Rio Grande do Sul.

Ambos deram a mesma resposta: a ignorância das pessoas que andam de carro nas praias, como se elas fossem estradas, e não um importante ecossistema marinho; a pesca de arrasto; o reflorescimento na planície costeira gaúcha; e as construções irregulares na orla.

Quando perguntei qual exemplo de construções irregulares poderiam citar, ambos citaram o Balneário do Hermenegildo. Portanto, não é fato novo. Ao contrário. Não faltaram os alertas da comunidade científica. Mas os egoístas que ‘querem ter vista para o mar’ não deram ouvidos. O resultado veio agora.

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A ressaca  foi demais para o Hermenegildo. As fotos falam por si. O pior é que isto não acontece só no Rio Grande do Sul. Em todo o litoral é assim, seja em Santa Catarina, em Atafona, no norte fluminense, ou na foz do São Francisco.

Mas, o mais impressionante, é que o poder púbico ignora a situação, e não age. Pior para nós. O prejuízo, pago com nossos impostos, será muito maior.

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