Baleias em Ilhabela, uma surpreendente descoberta
Apesar da ‘praia da Armação’, e de uma região ao sul da ilha, que chama-se ‘Borrifos’, é surpreendente a quantidade de baleias em Ilhabela avistadas este ano. A ilha, que cada vez mais depende do turismo, parece ser o próximo ponto de avistagem de baleias no Brasil. Este tipo de turismo é o que mais cresce no mundo. Quanto mais ficamos ‘pelados’ de vida selvagem, quanto mais desmatam as florestas, mais pessoas pagam para se deleitarem observando o que resta de vida animal no planeta.
Quanto rende a observação de baleias no mundo
Segundo o site wwhandbook.iwc.int , “O turismo de observação de baleias está crescendo rapidamente em todo o mundo, gerando mais de 2 bilhões de dólares americanos e gerando empregos para mais de 13.000 pessoas em 2009.” O turismo de baleias se expandiu continuamente nas últimas duas décadas. A mesma fonte informa que ‘Parcerias de longo prazo entre operadoras de turismo de observação de baleias e pesquisadores no Golfo do Maine resultaram na publicação de mais de 75 artigos científicos revisados por pares que incluem o uso de dados coletados a bordo de embarcações de observação de baleias.
Executivo se aposenta e vai fazer o que gosta: navegar e fotografar, o início da surpreendente descoberta
Julio Cardoso é seu nome. Um ex-executivo, e pesquisador apaixonado. Julio conta que, de 2004 até 2015, era ainda raro ver as jubartes em Ilhabela. Em vez delas, ele curtia achar e observar as baleias de bryde, orcas, e golfinhos, comuns na região.
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Julio Cardoso por ele mesmo
“Apaixonado pela navegação desde a juventude, Julio Cardoso costumava sair para navegar e pescar no litoral norte de São Paulo. Em 2002, ao participar de um torneio de pesca oceânica a 60 milhas da costa, teve o encontro que mudaria sua vida. Pescando em alto mar, ele e tripulação viram nadar sob o barco dois animais imensos. Pensaram ser marlins gigantes. Emergiram duas baleias-minke. Elas fizeram o movimento de spyhopping (o animal coloca boa parte da cabeça fora da água e o corpo em posição vertical, para observar o que está no entorno), comportamento comum em cetáceos. Após o encontro, Julio passou a navegar também com o objetivo de encontrar as baleias.” Informação do site Projeto Baleia À Vista.
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Baleias em Ilhabela
“O primeiro registro oficial, com documentação fotográfica, ocorreu em 2004. Foi nas imediações das Ilhas dos Búzios e Sumitica, Arquipélago de Ilhabela: “ De repente, à uma distância de uns 150 m, vimos um grande borrifo e a Bryde emergiu. Consegui fotografar. Acompanhei-a por algum tempo. Ela soltava bolhas de ar… Em seguida Julio conheceu a bióloga Shirley Pacheco de Souza, com quem começou a fazer saídas de avistagem. Aprendeu métodos de avistamento. E passou a organizar os registros. De 2004 até 2018 foram feitos 161 registros de 283 baleias das 4 espécies que frequentam a região (Brydes, Jubartes, Orcas e Baleia Franca Austral).
Arlaine Francisco e Julio fundam o projeto Baleia Jubarte
Em 2016, junto com a bióloga e fotógrafa, Arlaine Francisco, funda o Projeto Baleia à Vista. Julio diz que “Arlaine não apenas a organizou os registros para uso cientifico, com sua experiência de bióloga, mas também faz fotos incríveis que estão no nosso banco de dados”. Nos últimos 5 anos foram feitos 77 registros das 6 espécies de golfinhos presentes na região (Toninhas,Botos Cinza, Pintados do Atlântico, Comuns, Nariz de Garrafa e Dentes rugosos) feitos pelo próprio Julio e colaboradores” (Idem). Esse trabalho já gerou publicações cientificas e mais delas estão a caminho para publicação.
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Julio é um ambientalista militante. Acabou por encontrar gente como José Truda Palazzo Jr, idealizador da APA da Baleia Franca, primeiro local de avistagem de baleias para turistas no Brasil. Hoje, junto com outros militantes, eles preparam um plano a ser apresentado para a prefeitura de Ilhabela. A ideia é seguir o modelo dos Açores. Ali, na ilha portuguesa, antigamente os pescadores deslocavam um ‘olheiro’ para que ficasse sob uma elevação de terreno a procura dos borrifos. Quando eram localizados, o ‘olheiro’ informava os pescadores que seguiam na direção para arpoar os animais…
Hoje quase não se arpoa mais as baleias
A caça às baleias foi suspensa quase em todo o mundo. Exceção para o Japão, a Dinamarca e as ilhas Faroé, Islândia e Noruega. No Brasil o fim da caça foi decretado por José Sarney, quando presidente, em 1986. Resultado da moratória? O crescimento significativo dos mamíferos marinhos, hoje protagonistas do turismo em todo o planeta. Voltamos à observação nos Açores, modelo escolhido pelos ambientalistas brasileiros prestes a apresentar seu plano à prefeitura de Ilhabela. Hoje, os ‘olheiros’ dos Açores continuam avisando os locais onde veem borrifos. Mas, ao invés de arpão, os barcos se aproximam lotados de turistas que pagaram para vê-los. É isso que vão propor à Ilhabela. O local?
“Borrifos”, ao sul de Ilhabela
No momento nossos amigos procuram um lugar no local. Ali ficaria o ‘olheiro’ durante as temporadas de Jubartes (normalmente entre junho e agosto). Em vez de perder tempo navegando à procura das baleias, os ‘olheiros’ descobrem onde estão, e indicam o local aos barcos que deverão levar os turistas.
A surpreendente avistagem da temporada 2019 em Ilhabela
Depois que Julio Cardoso começou sozinho o processo que em breve se tornará nova fonte de renda e empregos para Ilhabela, chegou o momento de ter ajuda. Julio conversou com Truda, atualmente trabalhando no Projeto Baleia Jubarte, da Bahia. Decidiram chamar o pessoal do Instituto Verde Azul que já trabalha na Bahia. Eles ficaram em Borrifos à procura das jubartes. E todos se impressionaram com o número de avistagens. Nada menos que 400 foram feitas! Isso não significa 400 baleias diferentes. De longe é impossível verificar diferenças nos animais. Mas é promissor.
Que tipo de uso as Jubartes fazem do litoral de Ilhabela?
Esta é uma das muitas perguntas levantadas por Truda, e que só deverão ser respondidas com o tempo. “O que se sabe”, diz ele, “é que grande parte delas são animais juvenis. Desmamaram recentemente, e hoje investigam a costa. Será um lugar de passagem, ou com o tempo elas usarão este trecho do litoral para, como fazem na Bahia, acasalar e ter seus filhotes?”
Cetáceos, tesouro de ontem e hoje na região de Ilhabela
Uma coisa a ação isolada do ex-executivo paulista, Julio Cardoso, deixou clara: a grande diversidade de cetáceos que frequentam a região. São vários tipos de golfinhos, entre eles as raras toninhas, um dos cetáceos mais ameaçados no Brasil, além de botos-cinza, golfinho-comum, os nariz-de-garrafa, golfinho-de-dentes-rugosos, e o golfinho-pintado-do-Atlântico.
Entre os outros cetáceos, estão as baleias-de-Bryde, as jubartes, e as baleias-francas. E orcas também. Uma prova eloquente da diversidade da região.
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Já se sabia que Ilhabela é frequentada por baleias desde fins de século 18 pelos menos. Não por outro motivo há uma praia batizada, sabe-se lá quando, como ‘praia da Armação’ (armação de baleias, local de processamento dos animais ao tempo da caça), e a região de ‘Borrifos’ (o nome já indica…). Construções mais antigas registram alguns usos que se fazia delas: argamassa para construção. A igreja Matriz é um dos exemplos. Um das ideias do grupo é preparar um roteiro das baleias em terra, para mostrar aos futuros turistas esta riqueza hoje pouco conhecida.
Saiba onde há avistagem de baleias no Brasil
O primeiro ponto fica em Santa Catarina, na região da APA da Baleia Franca. Infelizmente, a avistagem embarcada hoje está proibida por decisão liminar que suspendeu o Plano de Manejo desta unidade de conservação. Em seguida, em Vitória, Espírito Santo, onde o processo turístico começou este ano. Depois, sempre subindo a costa brasileira, em Abrolhos, no sul da Bahia, Porto Seguro, Itacaré, Morro de São Paulo, e finalmente, a praia do Forte, todos na Bahia. Ilhabela será o próximo, provavelmente a partir de 2020.
Baleias em Ilhabela e a parte da Prefeitura
O mar sem fim conversou com a secretária municipal de meio ambiente, Bianca Colepicolo, que se mostrou entusiasmada com a nova possibilidade. A prefeitura já está a procura de um local para o ‘olheiro’, em Borrifos. E vai capacitar os encarregados de levarem os turistas a partir do ano que vem.
Assista ao vídeo de Julio Cardoso
Imagem de abertura: Julio Cardoso
Fontes: https://www.theaustralian.com.au/news/world/worlds-whale-watching-industry-worth-2-billion-a-year-and-growing/news-story/3c09361901f5edf43651e73d9b59342c; https://www.projetobaleiaavista.com.br/.