Aquecimento global 2020 iguala recorde de 2016
Os últimos seis anos estão entre os mais quentes de todos os tempos. Mas os recordes aconteceram em 2016 e 2020. Nada de muito novo no front. Mas é preciso lembrar que a economia mundial quase parou em 2020, o que significa que menos combustíveis fósseis foram usados, um dos vilões do aquecimento. Mesmo assim, o aquecimento global em 2020 foi recorde igualando-se ao de 2016.
Aquecimento global 2020
De acordo com o Copernicus, programa da União Europeia, a temperatura média global em 2020 foi 1,25 graus Celsius mais quente do que a média de 1850 a 1900, antes do aumento das emissões da industrialização. A média de 2020 foi ligeiramente inferior à média de 2016. Mas a diferença é muito pequena para ser significativa.
Freja Vamborg, cientista sênior do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, declarou ao New York Times que este é mais um lembrete de que as temperaturas estão mudando.
e continuarão a mudar se não reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa
Isso explica, em parte, a quantidade e intensidade dos incêndios mundo afora em 2020. Eles aconteceram em quase todos os cantos do planeta. No Brasil as maiores vítimas foram a Amazônia, o Pantanal, São Paulo, e Paraná. Nos Estados Unidos, os incêndios custaram caríssimo para a Califórnia e o Colorado.
E até na Síria houve incêndios desproporcionais.
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Na Europa um calor abrasador
Segundo o New York Times, ‘algumas regiões experimentaram um aquecimento excepcional. Pelo segundo ano consecutivo, a Europa teve seu ano mais quente de todos os tempos. O continente sofreu com ondas de calor mortais. A diferença de temperatura entre 2020 e 2019 foi impressionante: 2020 foi de 0,4 graus Celsius mais quente’.
Nos Estados Unidos
Segundo o Times, ‘embora não sejam tão drásticas quanto na Europa, as temperaturas na América do Norte também estão acima da média. O aquecimento desempenhou um papel crítico na seca generalizada que afetou a maior parte da metade ocidental dos Estados Unidos. E nos intensos incêndios florestais que devastaram a Califórnia e o Colorado’.
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Talvez o que mais impressione os cientistas é o que acontece na calota polar do Ártico que esquenta ao dobro da taxa média do resto do planeta.
Isso é preocupante pelo fato de que, com superfícies menores de gelo, mais quente fica o planeta. A cor branca reflete de volta para a atmosfera os raios de sol. Com a diminuição da calota de gelo, os raios solares esquentam ainda mais a Terra.
A matéria do NYT confirma: ‘O Ártico está esquentando muito mais rápido do que em outros lugares. As temperaturas médias em algumas partes ficaram 6º Celsius mais altas no ano passado do que a média da linha de base de 1981 a 2010’.
‘No Ártico, e especialmente em partes da Sibéria, as condições anormalmente quentes persistiram durante a maior parte do ano. O calor levou à secagem da vegetação que, na Sibéria, ajudou a alimentar uma das mais intensas temporadas de incêndios florestais da história’.
Hemisfério Sul teve ajuda de La Niña
O hemisfério Sul contou com a ajuda do fenômeno La Ninã (esfriamento das águas do Pacífico) o que tornou esta parte do mundo quase uma exceção. NYT: ‘partes do hemisfério sul experimentaram temperaturas mais baixas do que a média, possivelmente como resultado da chegada das condições de La Niña no segundo semestre de 2020’.
Isso reforça o que já dissemos em post recente sobre os efeitos da diminuição da floresta Amazônica. Ela implica em menos chuvas no Brasil Central. O drama da Amazônia contribuiu para as queimadas sem precedentes no Pantanal.
Mas, segundo cientistas, os efeitos do La Niña em 2020 serão percebidos de forma mais aguda neste ano que começa. Portanto, 2021 tende a ser ainda mais quente.
O aquecimento de 2020 versus o de 2016
A despeito disso, as temperaturas globais de 2020 impressionaram. Em 2016 o calor da Terra foi acentuado pelo efeito do fenômeno contrário ao La Niña, o El Niño, que esquenta as águas do maior dos oceanos.
Zeke Hausfather, cientista da Berkeley Earth, disse ao Times que ficou impressionado que 2020 igualasse 2016 ‘porque o calor recorde daquele ano foi alimentado pelo El Niño, quando o aquecimento da superfície do Pacífico tende a sobrecarregar as temperaturas globais’.
Ainda faltam algumas análises
Os dados trazidos pelo programa Copernicus são preocupantes, mas ainda faltam as análises da Berkeley Earth, programadas para o início de fevereiro. Além dos da NOAA, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, e os da NASA, também programados para breve.
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Mas, como pontua o NYT ‘apesar das diferenças (das análises de cada órgão), os resultados tendem a ser muito semelhantes’.
Ainda há tempo
O Acordo de Paris, agora reforçado com a eleição de Joe Biden, previa esforços para que a temperatura mundial não suba mais que 2ºC até o fim deste século. Estamos nos aproximando deste patamar, mas ainda há tempo para mitigar o aquecimento desde que cada um faça sua parte. É o mesmo que acontece na pandemia da covid-19. Ou cada um faz sua parte, ou as mortes continuarão. Não há alternativa.
Imagem de abertura: Sean Gallup / Getty Images
Fonte: https://www.nytimes.com/2021/01/08/climate/hottest-year-ever.html?campaign_id=54&emc=edit_clim_20210113&instance_id=25971&nl=climate-fwd%3A®i_id=91955602&segment_id=49210&te=1&user_id=b71b4a33397786aaa2444aad1304ea43.
Ótimo artigo