Afundamento do porta-aviões surpreende o mundo

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Afundamento do porta-aviões São Paulo surpreende o mundo

Depois de meses vagando pelo Atlântico sem ser recebido em nenhum porto, a saga do porta–aviões São Paulo teve fim dia 3 de fevereiro de 2023. Para um governo, recém empossado, que pretende recuperar a credibilidade ambiental do País é um mau começo. Se você digitar no Google “Sinking of the aircraft carrier São Paulo in Brazil (afundamento do porta-aviões São Paulo no Brasil)”, verá mais de dez páginas seguidas de matérias de todos os continentes, exceção à Antártica. Destaque para o pouco caso com o ecossistema mais maltratado do mundo por parte da Marinha do Brasil.

última foto antes do afundamento do porta-aviões São Paulo
Última foto antes do afundamento do porta-aviões São Paulo a 350 km ao largo do Recife.

A saga do porta-aviões fantasma

Mas, ruim mesmo não é apenas a poluição tóxica provocada pela força que deveria ‘proteger’ os oceanos. Este site acompanha a saga desde a venda do navio, em março de 2021. Algo corriqueiro, a transformação de um velho navio em sucata em estaleiros especializados, conseguiu ser pior. Tornou-se um imbróglio internacional. E expôs o Brasil a uma série de vexames internacionais.

Mais de dez páginas consecutivas no Google, o maior ‘buscador’ de notícias do mundo, não é para qualquer um. Por isso, e por serem os oceanos objetos de estudo deste site, voltamos ao assunto.

O público interno deve saber como somos vistos no exterior num momento importante para as questões ambientais. Hoje, o aquecimento global corre solto preocupando aqueles que pensam adiante do nariz. Com o fenômeno escapando ao controle, a perda de biodiversidade em nível global põe em risco nossa sobrevivência.

Pela omissão internacional quanto às políticas de mitigação do aquecimento o secretário-geral da ONU, António Guterrez, não perde oportunidade de alertar que ‘o mundo caminha para um suicídio coletivo’.

Pelo mesmo motivo, omissão e desmonte do aparato ambiental em Terra Brasilis durante o governo passado, o País tornou-se pária. Então, assume um novo governo que promete pôr fim ao descalabro ambiental. Contudo, menos de 40 dias depois da posse, a Marinha do Brasil, sem até agora uma explicação que convença, decide afundar a sucata tóxica dentro da ZEE brasileira.

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Não deu outra: mais de dez páginas da mídia internacional chamando a atenção para o vaticínio de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim:

“O Brasil não é para principiantes”

Com o tempo a frase de Tom sofreu modificações, acabou entrando para o folclore como “o Brasil não é para amadores”. Seja qual for o adjetivo, a tradução é que o Brasil continua tão ‘exótico’ e ‘excêntrico’ como no tempo em que a notícia da descoberta chegou na Europa, mais de cinco séculos atrás.

Ao longo do tempo o ‘exótico’ foi se modificando. Uma de suas traduções também é  ‘custo Brasil’, ou seja, o custo enorme e impagável da burocracia estatal, da falta de sintonia com a modernidade, do excesso de regras, da falta de clareza, da dificuldade de negociar em fóruns internacionais, do vomitório de bobagens, etc.

Algumas das manchetes refletem estas dificuldades ou, ‘excentricidades’ deste País gigante pela natureza, mas anão pela omissão das elites.

A repercussão da mídia internacional

O maior ícone do jornalismo mundial, o New York Times escolheu como manchete, A Proud Ship Turned Into a Giant Recycling Problem. So Brazil Plans to Sink It (Um navio orgulhoso se transformou em  problema gigante de reciclagem. Então, o Brasil planeja afundá-lo.).

A Reuters, uma das grandes agências de notícias, preferiu Brazil sinks rusting old aircraft carrier in the Atlantic (Brasil afunda porta-aviões enferrujado no Atlântico); e todas alertam que “O naufrágio do porta-aviões São Paulo joga toneladas de amianto, mercúrio, chumbo e outras substâncias altamente tóxicas no fundo do mar”. As matérias acusam a Marinha do Brasil de negligenciar a proteção dos oceanos, caso da Reuters, por exemplo.

Numa segunda matéria, excentricidade tropical merece bis, o New York Times publicou Brazil Says It’s Started Sinking an Old Warship, Hazardous Material and All (Brasil diz que começou a afundar um velho navio de guerra, mesmo com material perigoso).

Jornais europeus

O inglês The Guardian, que aos poucos torna-se referência em matérias sobre o meio ambiente, seguiu a mesma linha: Brazil sinks aircraft carrier in Atlantic despite presence of asbestos and toxic materials (Brasil afunda porta-aviões no Atlântico apesar da presença de amianto e materiais tóxicos).

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O Guardian lembrou do desafio de Lula: ‘A Basel Action Network convocou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva – que prometeu reverter a crescente destruição ambiental quando assumiu o cargo no mês passado – para interromper imediatamente o plano “perigoso”.’

Pois ele não foi capaz, mesmo com a posição contrária de Marina Silva, conforme lembramos em post anterior.

Entretanto, o grande desafio ambiental de Lula da Silva ainda nem começou. Ele se localiza na foz do Amazonas, como lembramos. Mas muito em breve ocupará o lugar do afundamento do São Paulo.

Enquanto isso, a rádio França Internacional não deixou por menos: Brazil sinks rusting French-built ‘toxic’ warship in Atlantic  (Brasil afunda navio de guerra ‘tóxico’ enferrujado de construção francesa no Atlântico).

antes do afundamento do porta-aviões São Paulo
Afundamento do porta-aviões surpreende o mundo.

O Le Monde, outro ícone, publicou: ‘Os alertas de poluição lançados nos últimos dias por associações ambientais não surtiram efeito: no final da tarde de sexta-feira, 3 de janeiro, a Marinha do Brasil anunciou que o porta-aviões São Paulo havia sido afundado a 350 quilômetros da costa no Oceano Atlântico, a uma profundidade de 5.000 metros.’

No Oriente Médio

Agência Al Jazeera é referência para o mundo árabe, assim como a Reuters, para o Ocidente. A agência publicou  Brazil sinks aircraft carrier in Atlantic despite pollution risk (Brasil afunda porta-aviões no Atlântico apesar do risco de poluição).

Na Ásia

O tema não passou despercebido sequer na longínqua Ásia onde a agência www.eurasiantimes.com publicou, Brazil To Sink Its ‘Toxic’ 34,000-Ton Aircraft Carrier In International Waters As Sao Paulo Finds No Takers (Brasil afundará seu porta-aviões ‘tóxico’ de 34.000 toneladas em águas internacionais enquanto São Paulo não encontra compradores).

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Repercussão no Brasil

De forma idêntica, a repercussão no Brasil foi imensa. Não só entre ambientalistas. Advogados especializados também se manifestaram. Para citar apenas um deles, Gustavo Ramos
Advogado da Associação Brasileira de Expostos ao Amianto (ABREA) e sócio em Mauro Menezes & Advogados, em artigo para o capital news alerta que o País deixou de cumprir ‘pelo menos três tratados internacionais de que o Brasil é signatário (as Convenções de Londres, de 1972, da Basileia, de 1992, e de Estocolmo, de 2001.’

Já sobre o afundamento patrocinado pela MB, diz ‘A catástrofe ambiental anunciada na costa marítima brasileira, derivada do afundamento intencional do gigantesco navio militar “São Paulo”, com 266 metros de comprimento, portando toneladas de amianto, além de supostas fontes radioativas e de metais pesados em seu interior, torna a jogar luzes internacionais à posição brasileira no tocante às questões ambientais e humanitárias.’

Não à toa, o ex-ministro Paulo Guedes não se fartava de afirmar: ‘O Brasil vai surpreender o mundo’.

Estava coberto de razão. Falta à MB uma explicação aceitável para o fato de que, na véspera do afundamento, uma empresa árabe ofereceu R$ 30 milhões pela sucata.

O argumento de que estava ‘prestes a afundar’ não convence. Conversamos com o advogado da empresa que o rebocou, Zilan Costa e Silva, que nos falou de uma placa do casco deslocada. Nada mais.

Persiste a pergunta: por que a Marinha do Brasil proibiu o sucatão de atracar no Arsenal da Marinha, RJ, onde passou quase todo o tempo de Brasil em infindáveis consertos?

A explicação da MB, como dizia a maluquete Neuzinha Brizola, é ‘Mintchura, mintchura. Com mais um desses contratempos me aposento e vou morar na Pavuna.’

‘Cidade perdida’ no fundo do oceano é um habitat que pode ter gerado a vida no planeta

Comentários

28 COMENTÁRIOS

  1. Amianto é tóxico em ambiente seco, seu pó fino, quando respirado pode causar asbestose, o popularmente conhecido “pulmão de pedra”. Na água ela é inerte. Usamos durante décadas, caixas d’água e telhas de amianto em nossas casas. Ainda hoje existem inúmeras caixas d’água feitas de amianto exercendo suas funções, sem causar mal algum aos seus proprietários. Não concordo com a decisão da MB, de afundar o navio, sem uma consulta público e um amplo debate. Se tinha quem pagasse 30 milhões, deveria ter vendido o navio. No entanto, se ele não tinha óleo nos seus tanques, não há problema algum em afundá-lo. O amianto a 5 mil metros de profundidade não causará mal algum ao meio ambiente. Quem critica o amianto, não sabe nem mesmo o que ele é. Amianto é uma fibra argilosa natural. Depois de manufaturada ela é totalmente inerte. O problema do amianto está na sua mineração, pois causa doenças graves nos trabalhadores e até mesmo nas comunidades próximas, mas os materiais manufaturados se tornam inertes, como as telhas e caixas d’água que ainda existem em muitas casas Brasil afora, e que não causam mal algum aos seus proprietários. Vocês sabiam que até mesmo as pastilhas de freios eram feitas de amianto, até alguns anos atrás? Pois é! Não estou defendendo a MB, mas as reações são desproporcionais. Quantos navios foram afundados deliberadamente mundo afora todos os anos? Praticamente todas as marinhas do mundo afundam navios que se tornam sucatas, especialmente se envolverem algum segredo militar.

    • Há, sim, uma montanha de problemas Ledir. A começar pelas toneladas de tintas do casco e interior. Tintas são feitas com muitas substâncias tóxicas, como todos aqui comentaram, e como está escrito no post. Mas sempre tem quem ‘entenda’ disseminando bobagens nos comentários. Isto para nano falar no plástico e microplástico, nas centenas de KMs de fios de um navio deste porte, de graxas e outros materiais, etc,etc, e tal.

  2. Nunca tinha visto alguém oferecer dinheiro pra comprar um lixo tóxico cujo o proprietário fez questão de enterrar no quintal de sua casa. Num governo autoritário como o que felizmente nos deixou a pouco, se o comandante da marinha se recusasse a cumprir sua diretriz seria de pronto demitido e colocado alguém que a fizesse cumprir. Muito boazinha essa esquerda com os milicos fieis ao governo passado e que não deixaram de jogar contra abusando da passividade de um governo que quase nem começou.

    • Jotinha, ou [email protected], não me venha com política. Este site não é o Facebook. É um site ambiental. Ponto final. Mas, por falar em política, e para deixar muito clara a minha opinião como cidadão, considero Lula e Bolsonaro farinha do mesmo saco. Um escoiceava a esquerda, outro, a direita, contudo, ambos não passam de quadrúpedes. Pobres de nós brasileiros, sair de um presidente medíocre, para outro igualmente medíocre. Expressei esta opinião em Lula ou Bolsonaro… E o meio ambiente? (https://marsemfim.com.br/lula-ou-bolsonaro-e-o-meio-ambiente/).

  3. Foram tantas notícias desde o início desse imbróglio que sinceramente fiquei perdido, e com certeza também muito triste por essa decisão autoritária e aparentemente unilateral da MB, quando ao meu ver vários (!?) navios permanecem apodrecendo na Baia da Guanabara sem que decisão efetiva seja tomada.
    Pergunto… com tantos discursos exaltados pré e pós eleições do atual presidente em favor do meio ambiente, este, como chefe maior das FFAA e sabendo da situação não poderia ter feito algo? Se poderia e não fez, fica no meu entender comprometido!
    Tentando agora, compreender melhor… Cronologicamente entendo que o São Paulo foi vendido para um estaleiro, ou algo assim, para desmonte na Turquia. Antes de entrar no Mediterrâneo houve uma decisão da justiça turca de não aceitá-lo devido ação de uma ONG na justiça daquele pais, ou outro europeu, tendo portanto que retornar.
    Isso está certo, errado ou mais ou menos?
    Obrigado

  4. Não sei… Mas acho que a França tem sua parte de culpa, usou e abusou do navio e vendeu o problema. É como se a coca-cola não tivesse comprometimento com as embalagens plásticas que estão boiando no oceano.

  5. Como “tudo”, que se faz no Brasil, com o que é público, não dá para entender, um emaranhado de burocracia, e no final tem o desfecho mais absurdo que se pode imaginar.

  6. Os canalhas, nunca esquecem de fustigar o governo passado, o atual, que em gestões passadas, isto é, por três vezes governou o país, saqueou os cofres públicos, cometeu corrupção desbragada, deixou o Brasil em frangalhos, nada, é um de uma virtude ímpar, sejam mais honestos quando publicarem seus artigos inúteis como informação, o povo já é analfabeto, imagine com má intenção

  7. Eu simplesmente não consigo entender, um país pobre como o Brasil abrir mão de 30 Milhões. E ainda de quebrar ajudar o meio ambiente. Poxa vida , decepção total com o atual Presidente.

  8. Sinceramente, parafraseando Shakespeare, é muito barulho por nada. O local escolhido tinha quase 5 km de profundidade, apenas o fator de diluição assegura que qualquer resíduo tóxico que venha a vazar do casco não represente ameaça significativa para a biota das camadas superiores do oceano, que raramente interage com as da região abissal. Ademais, se a MB afirmou que o navio corria o risco de afundar em pouco tempo, é preciso dar-lhe crédito. Por ironia, acabou sendo um fim adequado a uma sucata que a MB jamais deveria ter comprado, talvez, o navio mais inútil de toda a sua história.

  9. Realmente o Brasil é um país muito estranho, existindo um comprador disposto a pagar 30 milhões pela sucata abdicamos de um resultado financeiro positivo para um resultado negativo em todas as outras áreas que vão da ciência a estética onde nos apresentamos como feios e desleixados, além de abdicar de receita eminentemente necessárias para qualquer lado que se olhe o nosso país. Ficamos mais mal visto a cada dia, é ininteligível as nossas ações não atoa tiramos um idiota do poder e colocamos um bandido condenado. Nós literalmente perdemos o juízo não mais podemos nos levar a sério como nação. Tudo no Brasil cheira a atraso e mal uso, quando será meu Deus, que teremos empresários e políticos modernos que pensam grande que não permitem que as tolices ocorram em largas em escala em todas as searas que observamos. Esta na hora da elite Brasileira crias vergonha na cara e entregar um Brasil melhor para os cidadão e não somente a si mesmo e ao seu grupo. Sinto vergonha das coisas que fazemos todos os dias neste país no meio ambiente, na saúde, na educação, nas leis, nas discussões banais. Cadê os homens de bem que acreditávamos ter ? Onde foram parar as pessoas que pensavam no país. Quando vamos sair deste furacão de coisas ruins???

  10. Costume bem brasileiro de fazer mares e rios de valão, espanta outros brasileiros. Sem dó nem piedade, como conseguiram os incêndios na Amazônia e no Pantanal os bolsonaristas, como derramou toneladas de diesel na Antártica a gloriosa marinha, livraram/se do amianto, presente em vários lares brasileiros como caixa dagua eternit e outros, como se livrariam do lixo atômico?

  11. Realmente, o afundamento do porta-aviões São Paulo causa espanto, pelo impacto ambiental e pela falta de transparência e/ou informações sobre a decisão tomada. Principalmente ao saber que foi leiloado por R$ 10 milhões e teve recente oferta por R$ 30 milhões. Comparativamente, em viagem a Boston/EUA tive a oportunidade de visitar o USS Constitution, atualmente um navio-museu e orgulho da Marinha e da história dos Estados Unidos, que foi lançado ao mar em 1797. Em síntese, acho que trata-se de mais um caso de queima de arquivo, melhor dizendo “de afogamento de arquivo”, dos desnecessários prejuízos causados ao patrimônio da União e à história da Marinha do Brasil. Uma lástima.

  12. Eu nasci um pouco antes do final da WWII e, só não fiquei totalmente em pânico com essa atitude impensada do P.Aviões São Paulo porque, nos anos ’40, centenas de quinquilharias bélicas foram postas a pique na vasta imensidão do Pacífico; em áreas nem tão profundas assim. Batalha do Golfo de Leyte, Pearl Harbor, Midway (só nessa, os japoneses perderam 4 porta-aviões).
    Resumindo: Terminada a guerra, o mundo voltou a sua vida de paz e harmonia, sem ninguém para contestar quem seria responsabilizado pela “lata de lixo” que teria se transformado o Oceano Pacífico; ou mesmo, se restaria algum prejuízo para os habitantes que sobraram – as atenções, diga-se, ficaram monopolizadas pelas seqüelas do uso de bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.
    Uma coisa é certa: Tirando os efeitos políticos que muitos esperam dessa mancada, brasileiros não costumam se preocupar com encrencas que só estão previstas para muitas décadas à frente. Seria mais fácil despoluir a Baía de Guanabara.

  13. Somos mal vistos no exterior por CULPA EXCLUSIVA da midia nacional cujo interesse é apenas denegrir imagem do Brasil ante a comunidade internacional.

  14. Vocês queria que o governo Lula criasse um conflito com a Marinha, justamente num dos momentos mais delicados no relacionamento do Executivo com as FAs? A ministra Marina Silva e o Ibama tentaram dialogar, mas a marinha já havia decidido, a culpa, em primeiro lugar, é da Turquia, depois virou essa novela, durante todo o governo Bolsonaro, onde nenhum porto queria receber um navio, que outrora pertencia o nosso país.
    Passar vergonha internacional, por esse motivo, é o de menos nesse momento

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