A ‘era da fervura global chegou’; para o G20, e daí?
Em 27 de julho, em novo esforço retórico, o secretário-geral da ONU António Guterres foi duro em Nova Iorque: “A mudança climática está aqui. É aterrorizante. E é apenas o começo. A era da fervura global chegou.” Guterres escolheu cuidadosamente suas palavras depois que cientistas anunciaram que julho seria o mês mais quente já registrado na história, como de fato aconteceu. No mesmo período, na Índia, os ministros de Meio Ambiente dos países G20 – foro mundial de países industrializados e emergentes – reuniram-se para mais uma vez não chegarem a um acordo sobre o pico das emissões globais até 2025 e outras questões cruciais para enfrentar a crise climática global. Aparentemente, responderam como o ‘Guaidó da Disneylândia’: e daí? Daí que este mesmo bloco, o G20, representa mais de 80% do PIB global e das emissões de CO2.
Fracassa reunião preparatória da COP28
Antes de mais nada, as reuniões do G20 visam ajudar a preparar o caminho para a cúpula do clima, a COP28 da ONU, que acontecerá nos Emirados Árabes Unidos ainda este ano. Portanto, ela antecipa o que pode acontecer, ou melhor, não acontecer, na próxima cúpula do clima.
E tudo isso depois do hemisfério norte ferver antes do verão, e das temperaturas dos oceanos baterem recordes. Desse modo, parece que quem está certa é a garota sueca em seu discurso na ONU quando saiu-se com “30 anos de blá-blá-blá” sobre as reuniões de clima. Goste-se, ou não, de Greta Thunberg, os resultados das últimas cúpulas confirmam seu prognóstico.
Entre as análises para mais este fracasso, selecionamos alguns destaques da imprensa internacional. Para o www.rfi.fr, ‘Os principais produtores de petróleo temem o impacto da mitigação drástica em suas economias, e a Rússia e a Arábia Saudita foram responsabilizadas pela falta de progresso’.
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Isso significa que a lição da COP27, no Egito, não foi aprendida. Naquela reunião 18, dos 20 patrocinadores, apoiavam diretamente ou eram parceiros da indústria de combustíveis fósseis.
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Simultaneamente, um dos maiores patrocinadores da COP27, aceito pela ONU diga-se, era a Coca-Cola, uma das maiores poluidoras de plástico do mundo, o que irritou os ativistas à época. Não sem razão. Segundo o Greenpeace, a empresa produz 3.400 garrafas de plástico por segundo!
Contudo, esta não é a única incoerência. Um dos países do G20, a Inglaterra, acaba de receber uma enxurrada de críticas depois que o primeiro-ministro Rishi Sunak concedeu mais de 100 licenças de petróleo e gás no Mar do Norte.
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Mas voltemos ao fracasso da reunião e às análises da mídia. Segundo o Financial Times, ‘a China obstruiu as negociações climáticas do G20, recusando-se a debater questões cruciais, como as metas de emissões de gases de efeito estufa, de acordo com várias pessoas familiarizadas com as negociações’.
‘Disseram, ainda, que a posição de Pequim foi apoiada pela Arábia Saudita colocando em risco as esperanças de concluir um acordo para acabar com o uso de combustíveis fósseis e aumentar a energia renovável’.
‘O negociador chinês recebeu o apelido de bola de demolição de um homem só. O país rejeitou os pedidos de metas econômicas para reduzir as emissões totais quase pela metade até 2030, bem como um acordo para que as emissões globais atinjam o pico até 2025′.
Um participante das discussões, diz o FT, descreveu a posição da China, apoiada pela Arábia Saudita, como impressionante e cada vez mais obstrutiva. Contudo, diplomatas dizem que a cooperação de Pequim na COP28 será fundamental para chegar a um acordo sobre questões como um balanço global de emissões e um fundo para perdas e danos resultantes da mudança climática.’
Quatro pontos, entre 68, são obstáculos
O euronews foi menos pessimista e destacou que ‘os ministros do Grupo dos 20 não chegaram a um acordo em quatro dos 68 pontos de discussão. Um documento publicado pelo grupo mostra que os países não concordaram em atingir o pico de emissões até 2025, passando para a energia limpa ou um imposto sobre o carbono como forma de reduzir as emissões.
Já a Reuters diz que ‘Os membros não concordaram em esgotar os orçamentos de carbono, as emissões históricas, as metas líquidas zero, além da questão do financiamento para apoiar os países em desenvolvimento’.
Por último, o insideclimatenews.org expõe a objeção de outros países além de China e Arábia Saudita. ‘Os acordos do G20 falharam em grande parte porque vários dos principais países produtores de combustíveis fósseis se juntaram à Arábia Saudita para se opor. Entre eles a Rússia, China, África do Sul e Indonésia, segundo os relatórios’.
Assista ao vídeo da ONU que procura sensibilizar os dirigentes mundiais
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