Tartarugas marinhas e tumores causados por poluição

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Tartarugas marinhas e tumores causados por poluição

Pesquisas recentes indicam que, ao retornar à costa após a fase inicial no mar aberto, as tartarugas marinhas enfrentam um risco elevado. Elas podem desenvolver tumores em forma de “couve-flor”, sintoma da fibropapilomatose (FP). Essa forma debilitante de câncer atinge todas as espécies de tartarugas, tanto na Flórida quanto no restante do mundo.

Segundo Costanza Manes, pesquisadora da Universidade da Flórida, as lesões surgem apenas quando as tartarugas chegam a ambientes costeiros degradados por atividades humanas. Entre os fatores estão a poluição de usinas, o escoamento de rios e as descargas urbanas, industriais e agrícolas. Isso sugere que a poluição pode funcionar como gatilho ambiental para a doença.

Tartarugas marinhas e tumores, imagem tartarugas com tumor

Tartarugas marinhas e tumores

Atividades agrícolas causam tumor em animais marinhos

Pesquisadores dasUniversidades Duke , em parceria com a NOAA, descobriram que o excesso de nitrogênio das atividades agrícolas e urbanas chega ao mar pelo escoamento costeiro.

Macroalgas — especialmente a invasora Hypnea musciformis — absorvem esse nutriente e acumulam níveis elevados do aminoácido arginina.

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Tartarugas marinhas que se alimentam dessas algas ingerem até 14 vezes mais arginina que o normal. Esse excesso favorece o desenvolvimento da fibropapilomatose, doença que provoca tumores nos olhos, nadadeiras e órgãos internos.

Introdução de espécies exóticas piora a situação

Pesquisadores identificaram a alga vermelha não nativa Hypnea musciformis durante as investigações. Ela se espalha em ambientes costeiros ricos em nitrogênio, resultado da poluição por nutrientes humanos, como escoamento urbano, agrícola e esgoto.

Essa alga invasora acumula excesso de nitrogênio na forma de arginina. Esse aminoácido, em altos níveis na dieta das tartarugas, favorece a progressão da fibropapilomatose.

Tartarugas que consomem Hypnea musciformis ingerem quantidades elevadas de arginina. Isso contribui para o surgimento de tumores externos, como nos olhos e nadadeiras, e internos, agravando a saúde dos animais.

A Universidade da Flórida alerta que, ao retornarem à zona costeira, as tartarugas enfrentam ambientes degradados pela poluição de nutrientes. Essa condição pode atuar como “gatilho ambiental” para a fibropapilomatose, intensificando efeitos virais, ambientais e industriais.

Cuidados e desafios no tratamento

Ainda não há forma de eliminar a fibropapilomatose, mas reduzir a poluição marinha pode ajudar a atenuar a doença. Profissionais que trabalham com tartarugas doentes desinfetam equipamentos para evitar a transmissão e, em alguns casos, realizam cirurgias para remover tumores em centros de reabilitação. Esses tratamentos, porém, alcançam apenas uma pequena parte dos animais afetados.

As pessoas podem contrair fibropapilomatose de tartarugas marinhas?

Não. Apenas as tartarugas marinhas podem ser infectadas pelo vírus associado a essa doença e somente elas desenvolvem essa forma de FP. Existem doenças semelhantes em humanos e outros animais, mas elas não têm relação com a FP das tartarugas marinhas e possuem outras causas.

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Comentários

4 COMENTÁRIOS

  1. Prezado João, está doença ocorre no Brasil desde 1986 e afeta em média 14% das tartarugas-verdes. Ocorre mais em áreas costeiras poluídas, mas essa relação não está clara ainda. A teoria da arginina foi questionada por outros pesquisadores que encontraram argumentos contrários aos efeitos da arginina. De fato essa teoria reduz muito um fenômeno de enorme complexidade ambiental. Seria improvável qe apenas um fator respondesse a essa questão assim. Continuamos na dúvida sobre esta correlação ambiental enquanto a doença continua ameaçando as tartarugas.

    • Prezado Marcelo: muito obrigado pela informação. Como especialista que você é, não tenho o que discutir, agradeço os esclarecimentos.
      Aos frequentadores deste site, segue o currículo do Marcelo (do site do CNPq):Bacharel em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Viçosa (1995) com especialização em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual Santa Cruz (2000), especialização em ensino médico pela Universidade de Havana (2001) e mestrado em Biologia Animal pela Universidade Federal do Espírito Santo (2005). Doutor em Ecologia de Ecossistemas (2015) estudando a relação entre poluentes específicos e a ocorrência de fibropapilomatose em tartarugas marinhas. É presidente do Instituto de Ensino Pesquisa e Preservação Ambiental Marcos Daniel, professor da Universidade Vila Velha desde 1999, sendo coordenador pedagógico do curso de medicina veterinária de 2001 a 2012. Tem experiência na área de Patologia Clínica veterinária, ecotoxicologia, atuando principalmente nos seguintes temas hematologia, bioquímica e contaminantes em tartarugas marinhas, conservação de fauna e medicina da conservação. Atua também como líder do programa Simbora pro Parque: Ecoturismo em Unidades de Conservação, exercendo atividades de educação ambiental aliando o ecoturismo ao uso público de áreas protegidas.

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