Naufrágio nazista segue poluindo há 80 anos

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Naufrágio nazista segue poluindo o Mar do Norte há 80 anos

Um estudo publicado em 18 de outubro de 2022 na revista Frontiers in Marine Science mostra que os poluentes do Vorpostenboot V-1302 da Kriegsmarine, um naufrágio nazista histórico – incluindo hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) de seu combustível, metais pesados ​​e vestígios de explosivos – prosseguem afetando a microbiologia e a geoquímica do fundo do Mar do Norte, em torno de onde agora repousa. Segundo o www.mapsterman.maps.arcgis.com, 15.165 navios foram afundados durante o conflito. Isso dá a medida do problema mesmo tantos anos depois. E este não é o único caso de vazamentos provenientes da Segunda Grande Guerra a causarem danos ao meio ambiente marinho.

Naufrágio nazista no Mar do Norte
O Vorpostenboot V-1302, naufrágio nazista da Segunda Guerra. Imagem, Flanders Marine Institute (VLIZ).

Problemas gerados na Segunda Grande Guerra e ainda poluindo

O naufrágio do Vorpostenboot V-1302 não é o único, antes fosse. Ainda em 2018 publicamos o post Mar Báltico: mais de 1,6 milhão de T de armas nazistas, quando mostramos que nada menos que 1,6 milhão de toneladas de armamentos nazistas foram despejados parte no Báltico, parte no Mar do Norte.

Na época a  Deutsche Welle alertou: “Alta incidência de tumores cancerosos em peixes pode advir de munições alemãs afundadas pelos Aliados após 1945. A ameaça ambiental também representa risco à saúde humana e tem prazo para ser removida.

Na época, a DW entrevistou Diana S. Pyrikova, diretora da ONG Diálogo Internacional sobre Munições Submarinas (Idum, na sigla em inglês) que declarou: “Eu não aconselharia ninguém a nadar no Mar Báltico.”

O Báltico, por ser um ‘mar fechado’ e pequeno, é dos mais poluídos do mundo. Entre outras, a maior Zona Morta dos oceanos lá está, são zonas sem oxigênio para que haja vida.

O naufrágio do Vorpostenboot V-1302

Felizmente, ao menos esta embarcação era pequena. Segundo a  Frontiers in Marine Science O navio de 48 m de comprimento foi construído em 1927 pelo Reiherstieg Schiffwerke (Hamburgo) como barco de pesca. Contudo, a traineira a vapor foi requisitada pela Marinha Alemã e adaptada à guerra.

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Em 12 de fevereiro de 1942 ela foi afundada  por seis aviões Hawker da Royal Air Force britânica,  em frente à costa belga. Começava a poluição que viria à tona 80 anos depois.

 Três milhões de naufrágios em todo o mundo

Só na Segunda Guerra foram mais de 15 mil navios afundados. Sem falar nos naufrágios após o conflito. E são milhares. Consultamos algumas fontes e chegamos ao site www.engineeringfordiscovery.org que diz: “Estima-se que existam mais de três milhões de naufrágios em todo o mundo! Menos de 1% foram realmente explorados.”

É certo que entre esses três milhões, muitos são antigos, do tempo da vela e da madeira. Contudo, outros tantos são naufrágios recentes. Sobre estes, diz a Frontiers in Marine Science, Naufrágios no fundo do mar em todo o mundo contêm substâncias perigosas, como explosivos e produtos petrolíferos que, se liberados, podem prejudicar o ambiente marinho.

E prossegue: Ainda hoje, estima-se que os naufrágios da Primeira e da Segunda Guerra Mundial em todo o mundo, coletivamente, contenham de 2,5 a 20,4 milhões de toneladas de produtos petrolíferos. Estes naufrágios mostraram que a contaminação latente e histórica  com combustíveis fósseis de fontes pontuais pode influenciar a composição química do sedimento marinho até hoje.

O caso do naufrágio nazista

Este parece ser o caso do Vorpostenboot V-1302. A  Live Science repercutiu o caso ouvindo Maarten De Rijcke, pesquisador do Instituto Marinho de Flandres, na Bélgica: “Os metais pesados ​​podem vir de várias fontes – a metalurgia dentro do próprio naufrágio pode ser uma fonte de íons metálicos, assim como o combustível (carvão), tinta e lubrificantes.”

Mapa dos naufrágios da Segunda Guerra
Mapa dos naufrágios da Segunda Guerra segundo o www.mapsterman.maps.arcgis.com.

Segundo o pesquisador, o estudo faz parte de um projeto para avaliar os riscos ambientais de naufrágios, o que permitirá aos governos priorizar os mais perigosos para uma inspeção mais detalhada.

Felizmente, parece que este caso não é dos mais graves. A Live Science informa que foram retiradas amostras do navio que, em seguida, foram analisadas. Para De Rijcke, Seu estudo mostrou que, embora muitos dos produtos químicos fossem perigosos, todos estavam bem abaixo dos níveis tóxicos após 80 anos sob as ondas. “Nessas concentrações, eles são todos inofensivos.”

Naufrágios da Segunda Guerra em águas brasileiras

Em 2019, quando as praias do Nordeste e algumas do Sudeste foram atingidas por óleo, foi noticiado que caixas de borracha também chegavam misteriosamente há mais de um ano às praias de estados do Nordeste.

Então, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) investigaram a origem. Eles consideraram inicialmente que a causa dos fardos e do óleo poderia ser a mesma: um navio naufragado (Veja aqui uma lista de naufrágios na costa brasileira).

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Luiz Ernesto Bezerra, professor do Labomar, informou que  só entre Brasil e África são mais de 500, a maior parte, naufrágios da Segunda Guerra Mundial”, diz. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que os fardos são oriundos do navio Rio Grande.

O mar sem fim acompanhou no post Naufrágios da Segunda Guerra Mundial e óleo no litoral. “Pesquisando, descobrimos que dois navios alemães foram afundados na costa do Rio Grande do Norte, em janeiro de 1944. Ambos com fardos de borracha. Um, o SS Rio Grande; o outro, o Burgenland. A borracha equivalia ao plástico. A literatura do exército americano é farta desses fardos de borracha”, diz Bezerra.

Naufrágios no Atlântico durante a Segunda Grande Guerra

Só no Atlântico são cerca de 3.200 naufrágios durante a Segunda Guerra Mundial. E, como mostra a pesquisa Global Risk of Marine Pollution from WWII , boa parte deles é de alto risco de poluição. Muitas embarcações carregavam armas químicas, do gás mostarda ao sarin, assim como de bombas a foguetes. Além dos mais de 860 petroleiros.

É para se ver até onde vão os problemas dos oceanos. Da pandemia de plástico atual, à acidificação de suas águas. Do crescimento das cidades costeiras, à pesca industrial desenfreada e fora de controle.

Com tudo isto, é surpreendente que ainda haja  vida marinha. Contudo, não se sabe até quando resistirá. Pense sobre isto e faça sua parte.

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