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Viagem da Kika, travessia do Pacífico 2, etapa Nº 12

Viagem da Kika, travessia do Pacífico parte dois, Gambier até Puerto Montt etapa Nº 12

Partimos de Gambier rumo à Ilha de Páscoa, nesta segunda parte da travessia do Pacífico, no início de julho, com o barco carregado de frutas tropicais que nos foram oferecidas ou colhidas pelo caminho. Uma vez por semana uma “gaulette” proveniente de Tahiti abastece a ilha com vários tipos de produtos. Compramos verduras e carnes no entanto não ha muita variedade e os preços são altos.

Imagem de tripulantes de veleiro
A tripulação.

Ao longo da travessia do Pacífico de 1.400 milhas náuticas paramos em duas ilhas desabitadas que fazem parte de Pitcairn. Ambas tem formação vulcânica mas são bem diferentes entre si. A primeira chama-se Henderson, com penhascos de coral que se elevaram acima no nível do mar, lá aportaram os náufragos do Essex depois que a enorme baleia que inspirou Moby Dick afundou seu barco. Quando chegamos uma baleia nos deu as boas vindas. Dizem que estes seres magnânimos ajudam a manter a vibração do planeta com seu canto.

Travessia do Pacífico, atol Deuci

A segunda ilha que paramos é um atol chamado Deuci. O vulcão que lhe deu origem afundou formando uma vasta lagoa cheia de peixinhos coloridos rodeada por uma barreira de corais. Lá milhares de pássaros fazem seus ninhos, tivemos que caminhar entre eles com cautela para não pisar em ovos, como não convivem com humanos, não têm medo.

A voda alada no atol Deuci.

Ventos alísios predominantes, direção sudeste-leste

Nestas latitudes os ventos alísios predominantes tem direção sudeste-leste. Enfrentamos vários dias de contravento o que nos obrigou a fazer um grande bordo para chegar  em Rapa Nui, nome polinésio da Ilha de Páscoa.

Praia Anakena, em Rapa Nui.

A ancoragem não é fácil, muitas vezes o lado abrigado do vento tem grande ondulação, dificultando o desembarque em terra com o bote. A ilha não tem um porto, os barcos pesqueiros ficam amarrados entre pequenas reentrâncias na costeira. Existem apenas duas praias na face norte. Quando chegamos o vento era forte com direção norte, a Prefectura Naval havia decretado o fechamento dos portos e nenhuma embarcação podia entrar ou sair, inclusive eles para fazerem nossa entrada no Chile. Acabamos negociando ir busca-los com nosso bote em Anakena, a praia principal.

Os grupos humanos que povoaram as ilhas do Pacífico

Estudos de DNA comprovaram que os grupos humanos que povoaram as ilhas do Pacífico partiram da Ásia navegando rumo leste. Em torno e 3.200 anos atrás chegaram às ilhas Tonga e Samoa, onde se teria desenvolvido a sociedade/cultura Polinésia Ancestral.

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Embarcação em Rapa Nui.

As etapas do povoamento do Pacífico seguem até finalmente alcançarem as ilhas mais distantes como Hawaii e Rapa Nui entre 1.200 e 1.000 anos atrás, e Nova Zelândia 700 anos atrás (Saiba mais sobre a ocupação das ilhas do Pacífico).

O catamarã polinésio

O catamarã polinésio foi a tecnologia que permitiu a colonização dos extremos do Pacífico, propulsados a velas móveis as embarcações maiores permitiam transportar 200 pessoas. A lenda sobre o descobrimento e povoamento de Rapa Nui fala de várias viagens de exploração desde a terra ancestral Hiva.

Os moai são o elemento mais singular da cultura Rapa Nui, representam os ancestrais importantes de cada linhagem e encarnam seu espírito e poder (mana).

(Sobre este assunto, as embarcações polinésias, moais, etc, há mais informações em Ilha de Páscoa, autodestruição, parábola de nossa época)

Travessia do Pacífico: até Puerto Montt

Na etapa seguinte até Puerto Montt duas velejadoras integraram nossa tripulação, minha amiga Monica Raiberti que participou da formação da Associación Argentina de Yachting na época que morei em Buenos Aires e a chilena Carolina Lisset, tripulante do Antipodes nos mares do sul e Antártica.

Ilha Robinson Crusoé

Fizemos uma escala na Ilha Robinson Crusoé, distante 1.600 milhas de Rapa Nui, navegamos frequentemente com a asa de pombo: as duas velas de proa abertas, uma para cada lado, sendo que o stay-sail com o pau do spi, uma condição que dá bastante estabilidade ao barco.

Caverna Robinson Crusoé, na ilha de mesmo nome.

Robinson Crusoé forma parte do Arquipélago Juan Fernández, o conjunto de ilhas tem formação vulcânica e sua paisagem é composta de grandes escarpados, cumes empinados, zonas desérticas e selva tropical, foi declarado Reserva Mundial de Biosfera pela UNESCO.

O relevo é tão acidentado que o acesso do aeroporto até o povoado deve ser feito por barco, se as condições climáticas permitirem. A atividade principal é a pesca, principalmente da lagosta. O lugar é considerado uma meca para pescadores amadores. Em 2010 um tsunami pegou o povoado de cheio e matou muita gente, principalmente crianças pois a escola estava na beira-mar.

A escola e outras edificações foram reconstruídas numa quota mais alta e o governo chileno investe em infraestrutura e espaços públicos. Encontramos com o trimarã “Race for Water” que iniciava sua campanha mundial para preservação de água, estavam fazendo um trabalho de conscientização com a sofrida população local.

O Race for Water.

Seguimos mais 600 milhas até Puerto Montt e entramos na área de influência da Corrente de Humbolt, ascendente e fria. Para entrar no Golfo de Ancud é preciso atravessar o Canal de Moraleda, entre o continente e a Ilha de Chiloé, a correnteza é muito forte, da ordem de 4 nós, e convém entrar junto com a maré. Deixamos o barco na marina de Huelmo por um mês para ir ao Brasil.

Saiba como foi a etapa anterior: a primeira parte da travessia do Pacífico

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