Trapalhadas de Ricardo Salles, e a inútil resistência
Não passa semana sem que o ministro da Economia, em seu eterno otimismo, diga que ‘nós vamos surpreender o mundo’. Paulo Guedes faz tal afirmação em relação à economia que por ora patina. Seja como for, já estamos ‘surpreendendo o mundo’ por graça e obra das trapalhadas de Ricardo Salles (post de opinião).
Trapalhadas de Ricardo Salles, e a inútil resistência
Se o Brasil quiser mesmo ‘surpreender o mundo’, o presidente precisa guardar a soberba na gaveta e dar fim à carreira pública do atual ministro do Meio Ambiente. Ou alguém ainda duvida das ameaças de retaliação às nossas exportações, e mesmo às empresas nacionais, como é alardeado desde 2019? Em 2020, engrossaram ao coro de fora os maiores bancos nacionais, ou seja o capital nacional, além de diplomatas, economistas, e ex-ministros do Meio Ambiente.
Ricardo Salles hoje é um ministro ‘café com leite’, aquele que é desacreditado entre seus pares. A Amazônia ‘foi saída’ de sua alçada, assim como a interlocução sobre os temas da pasta. Quando investidores internacionais dialogam com o País, o fazem com o vice-presidente Hamilton Mourão que recebeu o encargo de dirigir o Conselho da Amazônia. Se Salles não fosse ‘café com leite’ seria, por óbvio, ele o responsável.
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Maltratou tanto a Educação que foi isolado nos Estados Unidos. Como prêmio de consolação pela paralisação a que submeteu a pasta enquanto fazia troça de nosso maior parceiro comercial nas redes sociais, ganhou um cargo no Banco Mundial.
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Não teriam outro?
A ‘nova’ de Ricardo Salles: mudar o PPA
Ricardo Salles, o ‘café com leite’ que trabalha às escuras, sozinho até mesmo dentro da equipe do presidente, decidiu uma redução da meta do Plano Plurianual, PPA, estabelecida pelo governo com o Congresso que propôs reduzir em 90% o desmatamento até 2023, e seguida de perto pelo TCU, o Tribunal de Contas da União. A nova meta seria, de acordo com O Estado de S. Paulo, ‘menor do que 0,1% do total da floresta’.
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O jornal O Estado de S. Paulo informou, em 4 de agosto de 2020, que Salles ‘queria trocar este objetivo pela garantia de preservação de apenas uma área específica de 390 mil hectares de vegetação nativa na Amazônia por meio de um programa recém-criado, o Floresta+ Amazônia’.
Salles não havia discutido sua ideia com seus pares, muito menos com a sociedade que considera infestada por ‘comunistas’. E, entre a divulgação de seus devaneios, e a explosão da repercussão negativa na mídia e redes sociais, o…
Ministério da Economia interveio e desmentiu o Ministério do Meio Ambiente
Aquele que prevê que ‘vamos surpreender o mundo’ desdisse o do Meio Ambiente. E surpreendeu os brasileiros ao demonstrar o tanto de cabeçadas que seguem no Palácio do Planalto e adjacências.
O Estado: ‘O recuo foi informado pelo Ministério da Economia na noite desta terça-feira, 4. Segundo nota da pasta, o Meio Ambiente mantém a meta de reduzir em 90% as ações ilegais em todos os biomas – não só na Amazônia -, mas pede envolvimento de outros ministérios em ações de controle, como a Agricultura, Justiça e Defesa’.
No momento em que o Brasil atinge 100 mil mortes, em razão da ‘gripezinha’; que nossa economia patina; que as reformas estruturais avançam com brutal dificuldade; e que o mundo nos pressiona pelo aumento do desmatamento, era preciso mais uma?
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Terra Indígena Munduruku, em 6 de agosto de 2020
Como se não bastasse a cabeçada do episódio da mudança de metas, houve mais. A Operação Verde 2, que ninguém sabe muito bem o que é devido à notória má comunicação do governo federal com os brasileiros, é uma ação do Conselho da Amazônia que explicamos por sermos do meio: operações do Exército contra o desmate e garimpo ilegal na Amazônia.
Pois bem, desta vez acontecia na terra dos Munduruku. Terra indígena, ou TI, como chamam.
‘Uma operação do Ibama contra garimpo ilegal na Terra Indígena Munduruku, região de Jacareacanga no Pará, foi suspensa nesta quinta-feira, 6, por decisão do Ministério da Defesa’.
“De acordo com a pasta, as ações estão suspensas para “reavaliação” e um grupo de “representantes da região” está sendo levado a Brasília pela Força Aérea para uma reunião com autoridades federais, sem informar quem seriam essas pessoas e com quem elas iriam conversar.”
O que esta nota não diz é que o ministro do Meio Ambiente que estava presente desta vez, desceu do helicóptero em que estava e foi conversar com os garimpeiros. Depois, retornou. Em seguida, a operação foi suspensa pelo Ministério da Defesa.
E sem explicações à sociedade como sempre.
Em tempo, apesar de Bolsonaro propor a abertura de terras indígenas para o garimpo, hoje a prática é ilegal nas chamadas TIs
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A pandemia da confusão não cessa, não arreda pé
No dia seguinte, nova manchete do Estado de S. Paulo: Um dia depois de paralisação, militares autorizam retomada de operação em terra indígena no Pará. A matéria explicava a confusão informando que um dia depois de mandar parar, ‘o Ministério da Defesa informou (sexta,7/8) a retomada das ações foi autorizada.’
Em seguida o jornal dizia que depois da conversa de Salles, ‘alguns’ garimpeiros foram levados à Brasília (sem especificar se eram indígenas ou não) ‘e foram recebidos na sede da pasta onde apresentaram seus pleitos e preocupações’.
Sexta-feira, 7 de agosto, Jornal Nacional
Até esta noite, pelas matérias citadas, restou uma dúvida em relação aos garimpeiros ilegais. Quem, afinal, seriam eles? Até que o JN (cuja linha editorial nem sempre concordamos, mas assistimos, como às outras redes, por dever de ofício) abordou o tema e entrevistou o advogado Luis Eloy Terena, da Articulação dos Povos Indígenas.
“É uma minoria de indígenas que de fato está envolvida com o garimpo ilegal. O governo tenta se valer desta minoria para tentar legitimar uma suposta aprovação dos povos indígenas ao garimpo ilegal.”
Enquanto isso, neste mesmo JN, o vice-presidente, responsável pelo Conselho da Amazônia, em entrevista dizia que era direito legítimo dos indígenas o garimpo, que tinham o direito de crescerem na vida, algo no gênero, repetindo argumentos de Bolsonaro que insiste em abrir as TIs para o garimpo.
Mourão também culpou o Inpe ao dizer que os sistemas de monitoramento da floresta ‘não são os melhores’; ‘se ressentem de uma melhor qualidade’. Informação prontamente rebatida por Carlos Nobre no JN, e por Ricardo Galvão em podcast do Mar Sem Fim gravado no início desta semana.
Esqueceu-se, entretanto, da declaração de Jair Bolsonaro em abril de 2018: “Pena que a cavalaria brasileira não tenha sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios (Correio Braziliense)”.
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Antes da entrevista com o advogado, o JN divulgou uma carta das lideranças mudukurus reafirmando o repúdio ao garimpo ilegal em suas terras, e denunciando os estragos que Salles fotografou.
No meio desta barafunda…
No meio da barafunda dos últimos dois dias, o ministro da Economia participou de videoconferência promovida pelo Aspen Institute, de Chicago. Ao responder pergunta sobre a devastação na Amazônia, preocupação de investidores externos, Paulo Guedes respondeu:
“Eu só peço que vocês sejam gentis, pois nós somos muito gentis. Nós entendemos sua preocupação. Tendo vivido tudo o que vocês viveram, vocês querem nos poupar de destruir nossas florestas, como vocês destruíram as de vocês. Vocês querem nos poupar de perseguir índios, nativos. Nós entendemos isso.”
Quando se trata de Amazônia, Mourão rouba a cena no Brasil, no exterior, quem o faz é Paulo Guedes. Ambos confirmam a qualificação ‘café com leite’. Quem deveria falar, some.
Mourão defende o indefensável
Mourão perdeu oportunidade de ficar calado e defendeu a infeliz resposta de Guedes: “Às vezes a gente sofre determinadas pressões de pessoas oriundas de países que não fizeram o trabalho deles em outros períodos da história.”
Esqueceu-se o vice, que a tosca justificativa da devastação da Amazônia por Paulo Guedes era ‘amparada’ pela ação mais que discutível de outros países, quis dizer Europa e Estados Unidos, séculos atrás.
E daí, perguntamos?
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A devastação das florestas na Europa começou durante a Guerra do Peloponeso entre Atenas e Esparta, de 431 a 404 a.C. Atenas acabou perdendo depois de não ter mais florestas para reforçar sua frota naval. A devastação nos Estados Unidos é mais recente, começou no século 18.
Hoje, a Europa tem mais de 40% de seu território reflorestado, e os Estados Unidos, pouco mais de 30%. Perceberam os erros do passado, colocaram a viola no saco, e fizeram suas partes.
Nenhum dos dois, Guedes ou Mourão, explicou o que isso teria a ver com ‘estas multas do Ibama vão acabar’, bordão de um candidato à presidência dum país sul-americano do século 21, eleito apesar disso por por 57 milhões de brasileiros fartos da roubalheira do PT.
Muito menos o que a morte do general Custer em junho de 1876 na famosa batalha de Little Bighorn, episódio ressuscitado para espanto dos estrangeiros, pelo ministro da Economia na entrevista. O quê a morte de Custer teria a ver com o desmonte do sempre pobre e esvaziado Ministério do Meio Ambiente (menor participação em % do orçamento federal, perde até para o da Cultura, sintomático, ou não?).
Ganha um doce quem explicar.
Ao refletir sobre as cabeçadas da cúpula do poder federal, naufragamos engolfados no domínio do sonho, da ilusão, e do absurdo.
Demissão de Ricardo Salles
Este site se sente muito à vontade ao criticar, porque elogiamos o novo ministro do Meio Ambiente tão logo sua equipe foi anunciada. Na ocasião, dezembro de 2018, publicamos o post Ministério do Meio Ambiente escolhe equipe dos sonhos!, onde dizíamos que podemos dizer que o Ministério do Meio Ambiente escolhe equipe dos sonhos: o premiado ambientalista Adalberto Eberhard vai presidir o ICMBio; o procurador ambiental, Eduardo Bim, fica com o IBAMA, e para Secretário de Biodiversidade ninguém menos que o ambientalista José Truda Palazzo Jr.. Estamos em boas mãos!
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Ledo engano…
Logo ao assumir começaram as baixarias. Uma após a outra, e cada uma superando em intensidade as anteriores. Mudamos de opinião. Salles perdeu o único ambientalista de sua equipe recém escolhida, Adalberto Eberhard, porque ele não suportou o modus operandi do chefe.
Em fevereiro de 2019 publicamos outro post, desta vez já sabendo quem era de fato o ministro. Ministério do Meio Ambiente: decepção. Daí para a frente foi uma enxurrada de bobagens que transformaram o Brasil, de protagonista da causa ambiental, em País pária.
Ricardo Salles, convicto de discutível avaliação dos motivos do aquecimento, se julgou capaz de por em xeque a COP 25 provando ignorância sobre o aquecimento que julga ‘coisa de comunista’.
A posição, que demonstra desdém para quem não é tão limitado, minoria insignificante instigada no Brasil por certo guru ridicularizado, pegou em cheio um mundo perplexo, de joelhos, que sofre duas catástrofes simultâneas: o aquecimento global acelerado e aparentemente fora de controle, e a pandemia assustadora do novo coronavírus (que o tal guru teve o desplante de dizer que ‘não matou quem quer que seja‘).
Pra quê a inútil resistência se ele é considerado pelos próprios pares como ‘café com leite’? Que arrumem logo a casa no poder federal, e…outro cargo no Banco Mundial.
Imagem de abertura: Adriano Machado/Reuters
Fontes: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,salles-recua-da-tentativa-de-alterar-meta-de-reducao-de-desmatamento-e-queimadas-diz-economia,70003387707; https://www.istoedinheiro.com.br/defesa-suspende-operacao-do-ibama-contra-garimpo-em-terra-indigena-no-para/; https://www.poder360.com.br/governo/veja-fotos-da-ida-de-ricardo-salles-a-operacao-contra-garimpo-ilegal-no-para/; https://climainfo.org.br/2020/08/06/depois-de-visita-de-salles-defesa-suspende-operacao-contra-garimpo-ilegal-em-terra-indigena/; https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,um-dia-depois-de-paralisacao-militares-autorizam-retomada-de-operacao-em-terra-indigena-no-para,70003391461.