Botos cinza, símbolo do Rio, correm risco de extinção
Os botos cinza não estão ameaçado só no Rio de Janeiro. Na costa de Santa Catarina há outro grupo ameaçado. O que habita a baía da Babitonga que, pela riqueza em termos de biodiversidade, há muito merecia se transformar em área protegida.
Leia a íntegra da matéria do Estadão
Na Baía de Guanabara, existem apenas 40 animais; atividade industrial e portuária, dragagens e esgoto reduziram população
Thaise Constancio – O Estado de S.Paulo
Botos cinza estão no brasão do Rio como símbolo da cidade
De tão presentes no litoral fluminense, eles estão no brasão do Rio como símbolo da cidade. Hoje, a população do boto cinza ou golfinho (Sotalia guianensis) está ameaçada de extinção local. O alerta é do Centro de Mamíferos Aquáticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Por fotoidentificação, pesquisadores contam pouco mais de 2 mil animais em toda a costa. E afirmam que a degradação das baías do Estado tende a agravar ainda mais o quadro.
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Leonardo Flach, coordenador da ONG Instituto Boto Cinza, declarou:
Se mantivermos os atuais níveis de poluição nas baías pelos próximos 10 a 20 anos, os golfinhos terão dificuldades de reprodução e podem desaparecer da costa fluminense em 50 ou 100 anos
A Baía de Guanabara tem intenso fluxo de embarcações que compromete o hábitat dos botos cinza. Grandes obras, como o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), em Itaboraí, contribuem para o aumento da poluição sonora, por causa do tráfego de barcos carregados com equipamentos.
O barulho atrapalha a comunicação entre os golfinhos. Eles deixam de se alimentar, reproduzir e conviver. A espécie se orienta por sons.
A poluição é outro fator importante para a diminuição de botos cinza
A poluição é outro fator importante para a diminuição expressiva da presença dos golfinhos na Guanabara. A baía recebe cerca de 15 mil litros de esgoto por segundo. “Por estar no topo da cadeia alimentar, o boto cinza reflete o grau de degradação ambiental. Os animais da Guanabara estão contaminados por vários elementos químicos”, diz o oceanógrafo José Lailson, coordenador do Laboratório de Mamíferos Aquáticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Fiscalização é insuficiente
Para Lailson, a fiscalização é insuficiente e a concessão de licenciamentos deveria considerar toda a extensão da baía, e não cada empreendimento, o que reduziria os danos ao ecossistema dos botos cinza.
Vemos uma sobreposição entre áreas de atividade industrial, pesca e vivência dos botos. Perde o mais fraco. Com o início das atividades do pré-sal, o tráfego será intenso, a área industrial pode se expandir e esse quadro tende a se agravar.
Desde os anos 1990 há programas voltados à limpeza da baía
O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, criado em 1995, foi o mais conhecido. Após sete prorrogações e péssima reputação, foi substituído pelo Programa de Saneamento dos Municípios do Entorno da baía (Psam). Financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com apoio da Agência de Cooperação Internacional do Japão e do Estado. Os programas consumiram cerca de US$ 2 bilhões para coletar esgoto. Como medida paliativa, a Secretaria de Estado do Ambiente constrói unidades de tratamento na foz dos rios com grande carga poluidora, até que o Psam esteja completo. A expectativa é de que, até 2016, 60% do esgoto despejado na baía seja tratado. Pelo contrato, o índice deve chegar a 80% em 2018.
Recolhidas cinco carcaças de botos cinza na Baía de Guanabara
Somente neste ano, foram recolhidas cinco carcaças de golfinhos na Baía de Guanabara, o que representa 12% dos 45 animais mapeados em janeiro do ano passado. As carcaças apresentavam marcas de captura em redes de pesca.
Na Baía de Sepetiba, houve, ao menos, 40 mortes com carcaças apreendidas, mas há muitos casos em que os restos do animal não são localizados. Na Baía da Ilha Grande, especialistas recolheram sete carcaças.
O boto cinza não é a única espécie que frequenta a costa do Rio, mas é uma das mais vulneráveis. O boto-nariz-de-garrafa ou golfinho-flíper, por exemplo, habitual frequentador do Arquipélago das Cagarras, na zona sul carioca, área de cria de filhotes, não é avistado ali desde 2011. O golfinho-toninha está a um passo de desaparecer. Pelas pesquisas do ICMBio há apenas 20 animais na orla, concentrados em Sepetiba.
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