Conheça o náufrago que sobreviveu 133 dias numa jangada
O náufrago chinês Poon Lim bateu um recorde inacreditável. Foram 133 dias a bordo de uma jangada. Sua história teve final feliz aqui no Brasil, em 1942. Naquele ano, Lim era o Segundo Comissário de Refeições no navio de carga Benlomond da Ben Line, que saíra de Suez e navegava para Nova York, via Cidade do Cabo e Paramaribo, capital do Suriname. Os oficiais eram britânicos, mas a maior parte da tripulação, chineses. Em 23 de novembro, um submarino U-172 interceptou e atingiu Benlomond com dois torpedos, cerca de 250 milhas (400 km) ao norte da costa do Brasil. Começava a incrível saga de Poon Lim.
133 dias ao largo do Brasil
Ele estava em sua cabine quando o navio foi torpedeado. Imediatamente, pegou um colete salva-vidas e dirigiu-se para o convés. Ali, dois oficiais e um marinheiro haviam retirado um bote de seu berço, e tentavam jogá-lo ao mar.
Mas uma onda levou Poon ao mar. Poucos segundos depois, o navio naufragou arrastando consigo o pobre chinês. Quando ele emergiu, encontrou apenas algumas pranchas flutuando, uma das quais usou para flutuabilidade extra.
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Sozinho em alto-mar
As duas embarcações se distanciaram, assim, Lim se viu sozinho em alto-mar. Entretanto, no meio daquele sofrimento ele até que teve ‘sorte’.
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Sua jangada continha muitos víveres. Entre eles, uma lata de 10 galões imperiais (45 litros) de água doce, seis caixas de biscoitos de chocolate, dez latas de pemmican, cinco latas de leite, uma garrafa de suco de limão e uma lata de óleo de massagem.
Também tinha sinalizadores, dois lançadores de fumaça e uma lanterna para sinalizar por socorro. Nada mau para uma situação desesperadora. Ainda assim, sobreviver no mar não é tarefa fácil.
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A crônica destes acidentes registra alguns que ficaram famosos devido ao imenso sofrimento, e a luta pela vida. Um destes é Steven Callahan, um autor americano, arquiteto naval, inventor e marinheiro. Em 1981, ele sobreviveu 76 dias à deriva no Oceano Atlântico em um bote salva-vidas. Callahan contou sua provação no livro best-seller Adrift: Seventy-six Days Lost at Sea (Publicado no Brasil, À Deriva Setenta e Seis Dias Perdido no Mar), que esteve na lista de best-sellers do The New York Times por mais de 36 semanas.
Nele, Callahan conta o desespero por que passou depois que o pequeno Napoleon Solo, veleiro de 21 pés, construído por ele, que atravessava o Atlântico Norte em direção aos USA, naufragou. Uma aula de sobrevivência.
Uma dupla também chamou a atenção: Livae Nanjikana e Junior Qoloni partiram da Ilha Mono, na província ocidental, Ilhas Salomão, na manhã do dia 3 de setembro de 2021, em uma pequena lancha com motor de 60 cavalos de potência.
Segundo o Guardian, ‘eles passaram 29 dias perdidos no mar depois que seu rastreador GPS parou de funcionar. Foram resgatados na costa de Papua Nova Guiné – a 400 quilômetros de onde sua jornada começou.’
Outra dupla também entrou para a história dos náufragos que driblaram a morte. Em 1973, Maurice e Marilyn Bailey planejavam realizar o sonho de se mudar de sua casa na Inglaterra para a Nova Zelândia.
117 dias vagando no mar
Eles venderam a casa, compraram um veleiro e zarparam com seus pertences. Dias depois de atravessarem o Canal do Panamá, seu barco atropelou uma baleia que abriu um rombo no casco.
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O casal escapou no bote de apoio, porém, os dois ficaram reféns do Pacífico com comida para alguns dias, uma bússola, alguns sinalizadores e pouco mais. Coletavam água da chuva para beber e, quando a comida acabou, comiam pássaros, peixes e até tartarugas.
Contudo, depois de 117 dias vagando no mar, sem suprimentos e à beira da morte, finalmente um navio coreano os avistou e mudou de curso para trazê-los a bordo.
Segundo o www.popularmechanics.com, ‘O navio coreano deixou os Baileys no Havaí, onde eles imediatamente prometeram construir outro veleiro e voltar ao mar. Com os lucros do livro que escreveram sobre suas experiências, eles realmente construíram um segundo barco e passaram anos navegando pelo mundo.
A arte da sobrevivência no mar
Como se vê, estes dramáticos acidentes não são incomuns. E, contra todas as expectativas, muitos conseguiram sobreviver ao calvário. Mas o chinês Poon Lim foi o recordista de tempo, mesmo não sabendo os seis trabalhos de um náufrago.
Lim teve a felicidade de encontrar a jangada Carley, uma pequena plataforma flutuante quadrada comumente usada por navios de guerra à época. Os primeiros dias transcorreram convenientemente com a água e ração a bordo. Mas logo depois que os suprimentos acabaram, Lim teve que pensar de forma inovadora para se manter vivo.
Ele usou a cobertura de seu colete salva-vidas para coletar água da chuva para beber e habilmente transformou um fio da lanterna em um anzol. De maneira idêntica, usou a corda de cânhamo disponível como linha de pesca, tendo feito um anzol mais resistente para peixes maiores com um prego da jangada de madeira.
A certa altura, conta o www.ststworld.com, após uma violenta tempestade, Lim ficou sem água potável, peixe seco ou comida. Então, pegou uma gaivota, matou-a com sua faca tosca e bebeu o sangue para saciar a sede.
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A primeira vez que foi avistado, foi junto a um navio cuja tripulação ignorou sua presença. Lim concluiu, então, que o evitaram, talvez devido à sua semelhança com os japoneses.
Aviões de patrulha da Marinha dos Estados Unidos
Na segunda vez, ele foi avistado por aviões de patrulha da Marinha dos Estados Unidos e um deles até deixou cair uma boia ao lado dele como um marcador. Mas a má sorte dele ainda não havia acabado. Uma tempestade moveu a jangada para longe da boia de marcação e ele não pôde ser localizado.
Teria outra chance? Poucos dias antes de seu suplício terminar, ele percebeu que estava próximo da costa. A cor da água havia mudado. Finalmente, em 5 de abril de 1943, três pescadores avistaram a jangada, a 16 km da costa do Brasil. Eles o resgataram e o levaram para o barco.
Devido à barreira do idioma, nenhuma das partes conseguiu iniciar uma conversa. Entretanto, Lim foi alimentado e levado para Belém, onde chegou três dias depois. Embora tivesse perdido quase 9 kg, ele saiu do barco sem qualquer ajuda. Em seguida, conseguiu narrar sua provação em Belém quando ficou internado no hospital por quatro semanas.
O final feliz
O chinês teve a ajuda do cônsul britânico para seu retorno a Londres. Assim que ficou melhor, navegou do Brasil via Miami e Nova York. De lá seguiu para a Inglaterra.
A esta altura, Lim havia se tornado uma celebridade, as pessoas o procuravam para ouvir sua aventura. Quando lhe disseram que havia criado um recorde de sobrevivência, ele disse: “Espero que ninguém jamais tenha que quebrar esse recorde “.
Em Londres, Poon Lim recebeu a Medalha do Império Britânico (BEM) por sua coragem, entregue pelas mãos do rei George VI. Sua experiência foi catalogada pela Royal Navy em manuais de sobrevivência para inspiração e propósitos práticos.
Poon Lim morreu no Brooklyn, Estados Unidos, em 4 de janeiro de 1991.
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