Naufrágio de 3.3 mil anos revoluciona navegação antiga

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Naufrágio de 3.3 mil anos revoluciona navegação antiga

Por muito tempo, os historiadores acreditaram que os navegadores da Antiguidade só viajavam durante o dia. Eles se orientavam pela costa, usando pontos de referência visuais. À noite, encalhavam os navios ou lançavam âncora. Agora, uma descoberta surpreendente muda essa ideia. Um naufrágio com 3.3 mil anos foi encontrado no mar Mediterrâneo, a 90 quilômetros da costa de Israel e a 1.800 metros de profundidade. Provavelmente é o mais antigo já localizado em mar aberto. A embarcação transportava centenas de jarros cananeus, também chamados de ânforas, ainda intactos a bordo. O local do naufrágio mostra que, ao contrário do que se pensava, os antigos já se aventuravam em mar aberto, longe da terra e sem referências visuais.

ânfora do naufrágio de 3.3 mil anos.
Imagem, Emil Aladjem / Israel Antiquities Authority.

Um dos naufrágios mais antigos já encontrados

Arqueólogos recuperaram dois jarros do navio. Eles datam de 1400 a 1300 a.C., no final da Idade do Bronze. A Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA), que anunciou a descoberta, afirma que este é o naufrágio mais antigo já localizado em mar profundo.

Até então, o recorde era de um navio com cerca de 2.400 anos, encontrado em perfeito estado no Mar Negro. Outros casos notáveis envolvem três naufrágios romanos na costa da Tunísia, um deles com cerca de 2 mil anos.

Jacob Sharvit, diretor de arqueologia marítima da IAA, disse ao New York Times:

“Essa descoberta muda completamente o que sabíamos sobre a navegação antiga. É o primeiro navio encontrado tão longe da costa, sem qualquer referência visual de terra. Dali, só se vê o horizonte.”

ROV com vaso.

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Descoberta por acaso, em missão industrial

Segundo a revista Smithsonian, a empresa Energean, com sede em Londres,  localizou o naufrágio com 3.3 mil anos durante uma inspeção rotineira por acaso. Durante o verão  técnicos da empresa realizavam uma pesquisa de rotina no fundo do mar.

Com ajuda de um veículo operado remotamente (ROV),  os pilotos captaram imagens impressionantes: dezenas de ânforas de 3.3 mil anos no leito marinho.

As condições do naufrágio 

Não se sabe o que causou o afundamento. Segundo o New York Times, o navio pode ter sido pego por uma tempestade, atingido por ventos contrários ou até atacado por piratas. Mas, pelas imagens captadas pelo robô submarino, a embarcação afundou sem virar. As centenas de ânforas no porão permaneceram quase intactas.

Duas ânforas do naufrágio de 3.3 mil anos
Jacob Sharvit, à esquerda, diretor de arqueologia marítima da Autoridade de Antiguidades de Israel, com duas jarras da Idade do Bronze, momentos depois de as ter retirado do Mar Mediterrâneo no navio Energean Star, em 30 de maio.

O arqueólogo Cemal Pulak, da Universidade Texas A&M, que não participou da descoberta, afirmou:

“Considero qualquer naufrágio com 3.3 mil anos extremamente importante. Eles são muito raros.”

Tão raros que só se conhecem dois outros exemplos com carga do mesmo período. Ambos foram encontrados perto da costa da Turquia e estão acessíveis a mergulhadores com equipamento comum. Ao contrário do atual, que repousa a 1.800 metros de profundidade.

Navio de apoio
O navio da Energean.

O R.O.V. em ação

A Energean conectou o veículo operado remotamente a um cabo de aço e o controlou da superfície, com um piloto a bordo do navio. Ele manobrava o robô com um joystick parecido com os de videogames.

O robô usa luzes potentes e um sistema de gravação que filma na escuridão total do fundo do mar. Em julho de 2023, ele registrou uma grande pilha de jarros no leito marinho. A equipe enviou as imagens à Autoridade de Antiguidades de Israel. Os técnicos identificaram os recipientes como frascos de armazenamento da Idade do Bronze.

ânforas de cananeus
Imagem, Emil Aladjem / Autoridade de Antiguidades de Israel.

Os jarros levavam produtos valiosos: mel, azeite e resina de Pistacia atlantica. Os povos antigos usavam essa resina para conservar vinho. No Egito, ela também servia como incenso e como verniz em objetos funerários do Novo Reino.

No entanto, segundo o New York Times, o local não revelou vestígios de âncora, mastro ou da vela quadrada típica dos navios comerciais da época.

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