Naufrágio de 3.3 mil anos revoluciona navegação antiga
Por muito tempo, os historiadores acreditaram que os navegadores da Antiguidade só viajavam durante o dia. Eles se orientavam pela costa, usando pontos de referência visuais. À noite, encalhavam os navios ou lançavam âncora. Agora, uma descoberta surpreendente muda essa ideia. Um naufrágio com 3.3 mil anos foi encontrado no mar Mediterrâneo, a 90 quilômetros da costa de Israel e a 1.800 metros de profundidade. Provavelmente é o mais antigo já localizado em mar aberto. A embarcação transportava centenas de jarros cananeus, também chamados de ânforas, ainda intactos a bordo. O local do naufrágio mostra que, ao contrário do que se pensava, os antigos já se aventuravam em mar aberto, longe da terra e sem referências visuais.

Um dos naufrágios mais antigos já encontrados
Arqueólogos recuperaram dois jarros do navio. Eles datam de 1400 a 1300 a.C., no final da Idade do Bronze. A Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA), que anunciou a descoberta, afirma que este é o naufrágio mais antigo já localizado em mar profundo.

Até então, o recorde era de um navio com cerca de 2.400 anos, encontrado em perfeito estado no Mar Negro. Outros casos notáveis envolvem três naufrágios romanos na costa da Tunísia, um deles com cerca de 2 mil anos.
Jacob Sharvit, diretor de arqueologia marítima da IAA, disse ao New York Times:
Mais lidos
Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperança“Essa descoberta muda completamente o que sabíamos sobre a navegação antiga. É o primeiro navio encontrado tão longe da costa, sem qualquer referência visual de terra. Dali, só se vê o horizonte.”
PUBLICIDADE
Descoberta por acaso, em missão industrial
Segundo a revista Smithsonian, a empresa Energean, com sede em Londres, localizou o naufrágio com 3.3 mil anos durante uma inspeção rotineira por acaso. Durante o verão técnicos da empresa realizavam uma pesquisa de rotina no fundo do mar.
Com ajuda de um veículo operado remotamente (ROV), os pilotos captaram imagens impressionantes: dezenas de ânforas de 3.3 mil anos no leito marinho.
Leia também
Ciganos do mar, os Moken estão ameaçados pelo turismoDisputa pelo tesouro de US$ 20 bi do galeão San JoséRaro naufrágio do século 16 no Golfo de Saint-TropezAs condições do naufrágio
Não se sabe o que causou o afundamento. Segundo o New York Times, o navio pode ter sido pego por uma tempestade, atingido por ventos contrários ou até atacado por piratas. Mas, pelas imagens captadas pelo robô submarino, a embarcação afundou sem virar. As centenas de ânforas no porão permaneceram quase intactas.

O arqueólogo Cemal Pulak, da Universidade Texas A&M, que não participou da descoberta, afirmou:
“Considero qualquer naufrágio com 3.3 mil anos extremamente importante. Eles são muito raros.”
Tão raros que só se conhecem dois outros exemplos com carga do mesmo período. Ambos foram encontrados perto da costa da Turquia e estão acessíveis a mergulhadores com equipamento comum. Ao contrário do atual, que repousa a 1.800 metros de profundidade.

O R.O.V. em ação
A Energean conectou o veículo operado remotamente a um cabo de aço e o controlou da superfície, com um piloto a bordo do navio. Ele manobrava o robô com um joystick parecido com os de videogames.
O robô usa luzes potentes e um sistema de gravação que filma na escuridão total do fundo do mar. Em julho de 2023, ele registrou uma grande pilha de jarros no leito marinho. A equipe enviou as imagens à Autoridade de Antiguidades de Israel. Os técnicos identificaram os recipientes como frascos de armazenamento da Idade do Bronze.

Os jarros levavam produtos valiosos: mel, azeite e resina de Pistacia atlantica. Os povos antigos usavam essa resina para conservar vinho. No Egito, ela também servia como incenso e como verniz em objetos funerários do Novo Reino.
No entanto, segundo o New York Times, o local não revelou vestígios de âncora, mastro ou da vela quadrada típica dos navios comerciais da época.











Excelente reportagem, parabéns à todos!