Impactos climáticos da carne bovina: saiba quais são
A carne bovina não sai da mídia. Seja porque não passa ano sem que saia alguma pesquisa sobre se é benéfica, ou não para a saúde. Seja pelas queimadas na Amazônia, muitas vezes para se formar novos pastos. Mas, e sobre os impactos climáticos da carne bovina? Sobre isso, parece já existir algum consenso. Fizemos uma curadoria na internet. Abaixo, os grande consensos.
‘Quão robusta é a evidência científica sobre os impactos climáticos da carne bovina?’
A pergunta foi formulada pelo articulista Brad Plumer, do New York Times. Vejamos como responde.”Vamos começar com o que os especialistas podem dizer com bastante confiança: a carne geralmente tem um impacto muito maior nos gases de efeito estufa do que os alimentos à base de plantas. Além disso, a carne bovina tem o maior impacto de todos com uma pegada climática cerca de cinco vezes maior que frango ou porco, em média.”
‘Como os pesquisadores podem ter tanta certeza?’
NYT: “Em parte, existem boas razões para pensar assim. Criar vacas, galinhas ou porcos como alimento tende a ocupar muito mais terra do que as utilizadas para agricultura. Isso porque você precisa de espaço não apenas para os animais. Mas também para as culturas que vão alimentá-los. Além disso, os estômagos de vaca contêm bactérias que os ajudam a digerir a grama mas produzem, igualmente, metano um potente gás de aquecimento do planeta emitido através de arrotos.”
‘Os impactos climáticos da carne bovina no efeito estufa são, em média, muito maiores’
NYT: “O problema, no entanto, é que os sistemas de produção variam bastante. Se um agricultor limpa um pedaço de floresta tropical para criar gado, isso é muito pior para o aquecimento global do que um agricultor que cria gado em pastagens existentes. Portanto, quando os cientistas tentam medir as emissões de diferentes alimentos, os números podem variar, dependendo da localização. Mas agora existem centenas de estudos e, quando os pesquisadores os contabilizam, surge um padrão claro. “Estudo após estudo mostra que, mesmo com toda variação, os impactos da carne bovina no efeito estufa são, em média, ainda muito maiores que o frango, disse Diego Rose, professor na Universidade de Tulane, que estudou os aspectos nutricionais e ambientais das dietas. “Esses resultados são bastante sólidos.”
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Outro ícone do jornalismo também publicou reportagens sobre o assunto. Falamos da National Geographic. Vejamos os pontos que a revista abordou em edição de janeiro de 2019. “Existe uma indústria construída em torno da dieta. A maioria de seus produtos tem como objetivo ajudar as pessoas a perder peso, ganhar músculos ou viver mais. Mas, à medida que a população humana global aumenta constantemente, os cientistas estão se esforçando para elaborar um plano de dieta que possa alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050.”
Relatório da revista médica britânica The Lancet e os Impactos climáticos da carne bovina
NG: “Ele recomenda uma dieta amplamente baseada em vegetais. Com pequenas e ocasionais doses de carne, laticínios e açúcar. O relatório foi compilado por um grupo de 30 cientistas de todo o mundo que estudam nutrição ou política alimentar.”
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‘Os efeitos colaterais da produção de alimentos’
NG: “Eles incluíam gases de efeito estufa, uso de água e de culturas, nitrogênio ou fósforo de fertilizantes além do potencial impacto na biodiversidade caso uma região de floresta seja convertida em terras agrícolas. Desse modo, ao gerenciar esses fatores, os autores afirmam que os gases indutores de mudanças climáticas podem ser reduzidos e terras suficientes podem ser reservadas para alimentar a crescente população mundial.”
‘Consumo de carne e açúcar em todo o mundo deve cair 50%’
NG: “Segundo as conclusões do relatório, o consumo de carne e açúcar em todo o mundo deve cair 50%. O consumo de carne nos EUA, por exemplo, teria que diminuir e ser substituído por frutas e legumes. Mas outros países que já enfrentam má nutrição podem incorporar carne em aproximadamente três por cento de sua dieta, diz Jessica Fanzo, autora do relatório e professora da Universidade Johns Hopkins. Recomendações para reduzir o consumo de carne não são novas. Em outubro de 2018, um estudo publicado na revista Nature estabeleceu diretrizes semelhantes para reduzir o consumo de carne e açúcar. A diferença deste novo relatório, diz Fanzo, são as etapas descritas para colocar essa mudança em prática.”
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NG: “Acho que é difícil para as pessoas diariamente. Porque os incentivos e estruturas políticas existentes não facilitam as coisas”, diz Fanzo. Mudar que tipo de práticas agrícolas recebem subsídios é uma tática para reformar o sistema alimentar. Isso mudaria os preços relativos dos alimentos e, assim, aumentaria os incentivos ao consumidor.”
IPCC: alto consumo de carne e laticínios do ocidente alimenta aquecimento
Esta veio da BBC.”Mudar para uma dieta baseada em vegetais pode ajudar a combater as mudanças climáticas, de acordo com um relatório do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que diz que o alto consumo de carne e laticínios do Ocidente promove o aquecimento global .
‘Produção de alimentos: responsável por um quarto de todas as emissões de gases de efeito estufa’
BBC: “A produção de alimentos é responsável por um quarto de todas as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com um estudo da Universidade de Oxford. No entanto, os pesquisadores descobriram que o impacto de diferentes alimentos varia enormemente. Suas descobertas mostraram que a carne e outros produtos de origem animal são responsáveis por mais da metade das emissões de gases de efeito estufa, apesar de fornecer apenas um quinto das calorias que ingerimos e bebemos.”
Recomendações do IPCC
BBC: “As conclusões ecoam recomendações sobre como os indivíduos podem diminuir as mudanças climáticas. No que diz respeito às nossas dietas, o IPCC diz que precisamos comprar menos carne, leite, queijo e manteiga. Mas também comer mais alimentos sazonais de origem local.”
Produção de carne no mundo e os diferentes impactos
Já abordamos os diferentes sistemas de produção de carne. E explicamos que variam bastante. Agora, veja no gráfico abaixo as diferenças entre a produção na América Latina, África, Oceania, América do Norte e Ásia. Os piores impactos são os da América Latina.
Conclusão
O Mar Sem Fim tem publicado várias matérias para mostrar que, se você se preocupa com a questão ambiental, há maneiras de reagir. Várias delas. Uma, é procurar se adaptar a uma nova dieta. Se você quer mudanças não espere sentado apenas as do poder público. Cada um de nós tem que fazer sua parte. Este o sentido deste, trazer mais referências aos brasileiros sobre as diversas possibilidades. Uma delas diz respeito às dietas. Recentemente publicamos outra, sobre o churrasco, uma paixão nacional. Sobre as fontes destas matérias, num mundo recheado de fake news, procuramos as melhores marcas jornalísticas mundiais. As do post de hoje são incontestáveis: New York Times, National Geographic, e BBC. Adotar as medidas sugeridas, entretanto, depende de cada um de nós.
Imagem de abertura: National Geographic
Amigo, você deveria estudar mais sobre o uso de gramíneas forrageiras. Estas quando bem manejadas e com o incremento do bostejo animal melhoram as condições dos solos amazônicos.
Wagner Pires – Consultor em Pastagens
“Quando bem manejadas” Pronto! Você falou tudo. Não se esqueça, você mora no Brasila a terra do improviso e sem lei.
Concordo com a reportagem. Diminuir o consumo de carne e seus derivados recheados de antibióticos certamente só faz bem. Reduzi pela metade meu consumo desta proteína, me sinto melhor. Ótima dica!!
Longe de consumir carne seja ela qual for.
Podem escrever tudo que for possível na mente, mas uma coisa é certa: TEM GENTE DEMAIS NO PLANETA E SE NÃO FIZERMOS UM RIGOROSO CONTROLE DE NATALIDADE DE NADA ADIANTARÁ AS MEDIDAS QUE DIFICILMENTE SERÃO CUMPRIDAS.
Falou tudo meu caro. Sou da mesma linha de pensamento. Enquanto ninguém ou nenhum governo for de encontro a essa linha de pensamento, não adiantará nada redução de consumo de carne ou de laticínios ou qualquer outra coisa que afete o meio ambiente, que nada vai mudar.
Discordo. A FAO não cansa de nos alertar que desperdiçamos 50% dos alimentos produzidos no mundo ocidental, enquanto ainda há fome em outras partes do mundo. E também comprova que a alimentação diretamente a partir de vegetais utiliza apenas 1/6 da área de agricultura demandada para produção de carne.
Não há nada de cientifico em pesquisar na internet e juntar recortes de notícias de reportagens que beiram a ignorância.
Quanto trabalho para escrever tantas bobagens. Há um tipo de proteína que apenas a carne vermelha pode fornecer. Também somos carnívoros. Ponto. Acabou a discussão. Sustentabilidade é método e bom senso, não privação.
Penso que os responsáveis por essa matéria deveriam ter lido mais e buscado mais fontes sérias, de caráter científico. Vejamos: na região sudeste do Brasil, a média de lotação é de 2,3 cabeças/ano de gado bovino; na região sul, a média sobe para 2,6!
Sou um micro produtor de gado bovino. Com novas tecnologias (cuidados com a pastagem, irrigação, manejo, etc.) coloco no mínimo 10 cabeças/ano por ha., somente com pastagem!!!
Informo, ainda, que a Embrapa já comprovou que o emprego de um capim denominado de Mombaça (origem africana) não provoca arrotos do gado, com gases metano!!!!!!!
Por favor, Jornal O Estado de São Paulo, jornalistas e afins: cuidado com a matéria que vinculam. Os leitores não possuem todo conhecimento necessário para tomar decisões e partidos!!!!!!!!!!!
Transcrição de um belo artigo de Xico Graziano.
Efeito estufa do arroto bovino – Por Xico Graziano
Mariana, minha filha adolescente, que desde criança me acompanha na lida da fazenda, chegou em casa intrigada e me perguntou: “Pai, é verdade que o gado causa mais prejuízos ao meio ambiente que os automóveis?” Claro que não, respondi. Confiando em mim, ela ponderou: “Então precisa explicar melhor isso lá na internet”. Resolvi escrever.
Análises ingênuas e maldosas interpretações costumam prejudicar a nossa agropecuária, manchando-lhe a imagem. Na teoria do aquecimento global reside a mais bizarra de todas. Segundo o Inventário Nacional, o gado bovino responde por 15,4% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera, enquanto a queima de combustíveis fósseis gera 15,1%. O estranho cômputo, quando divulgado, em 2014, deliciou tanto os ativistas vegetarianos quanto as montadoras. Philipp Scheimer, presidente da Mercedes-Benz, sacou rápido: “O automóvel tem sua parcela de participação no aquecimento global, mas não é o grande vilão”. São as vacas, complementou.
Na origem dessa absurda distorção se encontra a metodologia de cálculo utilizada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), entidade ligada à ONU que gerencia essa agenda global. Gás carbônico e metano destacam-se entre os gases com efeito estufa. O primeiro deles (CO2) tem elevado sua presença na atmosfera por causa da queima de derivados de petróleo e de florestas naturais; o segundo (NH4) surge expelido por vulcões ou da decomposição anaeróbica de matéria orgânica, como se dá naturalmente nos pântanos, mas também nas lavouras irrigadas de arroz e no estômago de animais ruminantes.
Duas premissas se estabeleceram no IPCC: 1) o metano expelido por pântanos e vulcões, que representa 40% do total, não é considerado na equação do aquecimento planetário, por não ter origem “antrópica”; 2) ao metano é atribuído, por suas características moleculares, um “poder de aquecimento” de 21 vezes acima do CO2. Ambas podem ser contestadas. Excluir o metano “não antrópico” (vulcões e pântanos) no efeito estufa resulta em ampliar, por decorrência, a contribuição relativa do metano gerado na agropecuária. Um peso, duas medidas.
Mas o xis da questão é outro. O metano “entérico”, qual seja, aquele gerado no estômago dos mamíferos ruminantes, origina-se na fermentação das gramíneas pastadas pelo animal. Acontece que, para crescer, as plantas forrageiras realizam a fotossíntese, capturando gás carbônico da atmosfera e liberando oxigênio, conforme se aprende no ensino fundamental. Ou seja, o carbono expelido pelo gado foi, anteriormente, fixado pelas pastagens. A Embrapa tem estudado esse “balanço de carbono” e, em certos casos, verifica mais captura, na agropecuária, do que liberação dos gases de efeito estufa. O IPCC, porém, não aceita essa metodologia de cálculo. Penaliza a pecuária.
Existe, ainda, outro grave reparo. Na atmosfera, as moléculas de metano têm uma vida útil não muito longa, ao redor de 14 anos; distinto, o gás carbônico é estável por mais de século. Essa dinâmica físico-química reduz em, no mínimo, um terço a influência real do metano no efeito estufa. O IPCC, todavia, também desconsidera esse fenômeno.
Conclusão: a importância da pecuária no aquecimento do planeta é, na verdade, quase desprezível.
Já os veículos movidos por combustão são duplamente nocivos, ao meio ambiente e à saúde humana. Seus escapamentos não apenas favorecem o efeito estufa, pelo gás carbônico, como poluem a atmosfera com óxidos de nitrogênio (NOx) e de enxofre (SOx). Fora a fumaça preta, que envenena os pulmões, e o monóxido de carbono, que mata.
Carne bovina e leite, ao contrário, matam a fome.
Voltei à Mariana e dividi com ela uma dúvida: “Filha, se o arroto da boiada causa tanto malefício ao planeta Terra, que será do pum dos humanos?”. Encucada, ela me ajudou a pesquisar o assunto. Descobrimos que uma pessoa adulta elimina entre 500 a 1.500 ml de gases por dia, dependendo da dieta alimentar. Feijão, por exemplo, eleva muito a produção de metano no intestino. Considerando os dados médios, estimamos que cada ser humano produz 0,25 kg/ano de metano. Arredondando, 200 pessoas equivalem, no efeito estufa, a um bovino. Como, globalmente, somos 7 bilhões de almas, enquanto o rebanho mundial monta a 1 bilhão de cabeças, não é desprezível o efeito estufa da flatulência do seu José. E agora?
Erra o alvo quem culpa a agropecuária pelos graves problemas ambientais, ainda mais no aquecimento global. Para os agrônomos, o CO2 é o gás da vida, sem o qual nada esverdeia, jamais um poluente. E o metano entérico, do rúmen bovino, é fruto da transformação da energia do Sol, capturada pelas gramíneas na fotossíntese, em proteínas essenciais na história da civilização. Culpem o petróleo, louvem a pecuária.
Preocupado com o aquecimento global, certo ambientalismo inventa (falsas) soluções, como eliminar os rebanhos ou proibir o arroz irrigado. Já houve quem, no Reino Unido, sugerisse reduzir o consumo de feijão, para evitar a desgraça ecológica do planeta. Imaginem propor uma medida dessas no Brasil. Patético.
A origem fundamental do desequilíbrio ecológico está no aumento da população humana, que cresce sem parar. E aprecia churrasco cada vez mais. Assim como pântanos e vulcões há milhares de anos lançam gases na atmosfera, mantendo a Terra habitável, deixem o boi e sua senhora vaca arrotar em paz, produzindo carne e leite para assegurar a jornada humana. Chega de culpar os homens do campo pelos desastres ambientais.
Quem decide a dinâmica civilizatória, e cria seus imensos desafios, são as metrópoles. E seus automóveis.
Por Xico Graziano, agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, para O Estado de São Paulo, edição de 26/10/16.
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Só um comentário. Eu gosto muito da coluna e sempre estou por aqui lendo e refletindo, mas, dizer que qualquer fonte, jornal ou veículo midiático é “incontestável”, nos dias de hoje e com toda a movimentação de interesses em curso que vemos, é, no mínimo, ingênuo e, no máximo, estúpido. Vejam que dados, quando expostos e encadeados dentro de determinado raciocínio, sofrem manipulação e direcionamento, ainda que mínimos e não necessariamente com um propósito maléfico. Os dados sobre o consumo de carne e seus impactos no aquecimento global são o maior e mais gritante exemplo dessa manipulação e direcionamento. Existe, sim, uma boa dose de alarmismo nisso tudo e não é saudável para quem pretende manter um enfoque científico e lógico fazer coro ao discurso colocado, ainda que ele venha de veículos “incontestáveis”. Não existe nada nem ninguém que não possa ser contestado, que não possa ser contraditado e que não possa estar errado. Contestar, em última instância, é exercer a liberdade! Mantenhamo-nos livres!
Vão Lamber sabão! Só falam besteirol inventando problemas climáticos, sem embasamento cientifico algum.
Dois fatos que não levados em consideração.
1. Bovinos aqui no Brasil são produzidos em pastagens de gramíneas tropicais cujo metabolismo fotossintético é chamado de C4, Estas plantas são altamente eficientes na fixação de carbono na forma de matéria orgânica, de moto que pastagens bem manejadas fixam mais CO2 do que liberam.
2. Outro fato que não se leva em consideração é que a população de ruminantes selvagens no planeta é enorme há muitos milhões de ano e isto sempre esteve em equilíbrio com o planeta.