Frota de navios de sabotagem ameaça parques eólicos no Mar do Norte
Já mostramos por aqui a importância dos oceanos para a riqueza das nações, e o grande valor da Zona Econômica Exclusiva. É neste espaço, a ZEE, que os países com saída para o mar têm o direito exclusivo de exploração, seja de recursos minerais como petróleo e os nódulos polimetálicos, seja para os recursos vivos, leia-se, a pesca. Com o aquecimento do planeta e necessária transição para a energia limpa, as ZEEs passaram a ser estratégicas igualmente para a instalação de parques eólicos. Atualmente, há no mundo 162 parques eólicos offshore produzindo eletricidade. Entre eles, o maior é o Hornsea 2, na costa de Yorkshire, com 165 turbinas. Outros países como a Alemanha, França, Itália, Holanda, Noruega também operam no Mar do Norte. Contudo, agora estão ameaçados por uma frota de navios russos de sabotagem.
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‘Navios fantasmas’ russos de sabotagem no Mar do Norte
As aspas foram escolhidas pela BBC em matéria de abril de 2023, de autoria de Gordon Corera, que teve ampla repercussão. A rede inglesa publicou que ‘A Rússia tem um programa para sabotar parques eólicos e cabos de comunicação no Mar do Norte, segundo uma investigação conjunta de emissoras públicas na Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia.’
‘Elas dizem que a Rússia tem uma frota de embarcações disfarçadas como barcos de pesca e navios de pesquisa no Mar do Norte. Contudo, transportam equipamentos de vigilância subaquática e estão mapeando locais estratégicos para possíveis sabotagem.’
A BBC entende que as autoridades britânicas estão cientes de que navios russos se movimentam pelas águas do Reino Unido como parte do programa.
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Os cinco principais países europeus com maior capacidade eólica offshore
Com a urgente necessidade da descarbonização os países europeus não tiveram dúvidas em investir fortemente no Mar do Norte.
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Segundo o site Interreg, da Comunidade Europeia, ‘Todos os 5 principais países europeus com a maior quantidade de capacidade eólica offshore instalada fazem fronteira com o Mar do Norte. O Reino Unido lidera com a maior quantidade de capacidade instalada, representando 40,8%.’
‘Segue-se a Alemanha com 32,5%. A Dinamarca continua a ser o terceiro maior mercado com 10,1%, enquanto a Holanda (8,8%) e a Bélgica (5,6%) ocupam o quarto e quinto lugares, respetivamente. Juntos, os cinco principais países do Mar do Norte representam 97% de todas as turbinas conectadas à rede na Europa.’
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Segundo a BBC, ‘Um agente de contraespionagem dinamarquês disse que os planos de sabotagem estão sendo preparados para o caso de um conflito aberto com o Ocidente, enquanto o chefe da inteligência norueguesa afirmou às emissoras que o programa era considerado altamente importante para a Rússia e controlado diretamente de Moscou.’
‘As emissoras dizem ter analisado comunicações russas interceptadas que indicam a presença de “navios fantasmas”, que desligam os transmissores para não revelar suas localizações, navegando em águas nórdicas. A reportagem se concentra em um navio russo, o Admiral Vladimirsky.’
Incidente nas ilhas Shetland
O site especializado em questões marítimas, gCaptain também repercutiu a matéria e lembrou um incidente recente e até agora nebuloso: ‘O relatório levanta preocupações sobre atividades hostis contra infraestrutura marítima e cabos de comunicação, incluindo um grande incidente nas Ilhas Shetland no ano passado, onde um cabo foi cortado, dificultando gravemente a comunicação com o continente.’
A mesma fonte diz que ‘De acordo com a BBC, os países ocidentais provavelmente estão conduzindo atividades semelhantes contra a Rússia para o reconhecimento de locais sensíveis, com a intenção de ter várias opções disponíveis caso o conflito aumente.’
A BBC diz que uma das opções dos russos ‘pode ser danificar as comunicações ou derrubar os sistemas de energia dos países para gerar caos.’
A matéria ainda lembra o incidente do gasoduto Nord Stream que levava o gás russo até a Europa. Mas não o associa à sabatogem: ‘Na época, muitos acusaram a Rússia de ser responsável, mas desde então outras reportagens sugeriram outras possibilidades, incluindo agentes pró-Ucrânia como responsáveis, as investigações estão em andamento.’
Assim, aos poucos, o espaço marítimo vai crescendo em sua importância econômica e geopolítica. Além de poços de petróleo e das muitas fazendas offshore, o mundo moderno é cada vez mais dependente deste espaço. Lembrando que cerca de 90% do comércio mundial depende dos oceanos, para não falar nas comunicações. Hoje, no subsolo marinho existem mais de 380 cabos submarinos com 1,2 milhão de quilômetros de extensão. É através deles que circulam os dados da internet, para ficarmos só neste exemplo.