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Floresta Amazônica pode emitir mais gases de efeito estufa do que absorver

Floresta Amazônica pode emitir mais gases de efeito estufa do que absorver

A especialidade deste site como já dissemos inúmeras vezes é o bioma marinho. Mas passamos a repercutir as novidades descobertas pela ciência em biomas como o Pantanal ou Amazônia, em razão dos maus tratos da equivocada política ambiental atual, e da importância que estes biomas têm para o clima. Hoje, o destaque são dois estudos de equipes diferentes que chegaram mais ou menos às mesmas conclusões sobre a floresta Amazônica.

Um deles nos chegou através do jornal lusitano Jornal de Notícias. Ele repercutia um estudo de uma equipe internacional publicado na revista Nature Climate Change (29 de abril, 2021).

Este trabalho informa que entre 2010 até 2019 a floresta Amazônica liberou para a atmosfera 16,6  milhões de toneladas de dióxido de carbono, enquanto absorveu apenas 13,9 milhões.

Imaginar que a Amazônia seja o ‘pulmão do mundo’, como chegou a ser divulgado nas redes sociais, é um erro grosseiro. Mas a maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, ajuda, sem dúvida.

Floresta Amazônica e os serviços ecossistêmicos

A Amazônia produz muito oxigênio, mas usa a mesma quantidade  por meio da respiração das plantas. De qualquer modo, florestas tropicais são importantes como sumidouro de dióxido de carbono, e para a regulagem do clima.

A maior floresta úmida do planeta é também a número um em diversidade de plantas, peixes de água doce e mamíferos. É a segunda em anfíbios. E a terceira em diversidade de répteis. Só em espécies vegetais são 55 mil, 22% de todas conhecidas no mundo.

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A Amazônia é cortada pelo rio Amazonas que drena mais de 7 milhões de km2 de terras e tem vazão anual média de 176 milhões de litros de água por segundo! Isto lhe confere a posição de maior rio em volume de água do mundo.

Só isso, com a escassez de água no planeta e o avanço das secas com o aquecimento global, já mostra a importância do bioma. Mas  para além disso, por sua extensão e propriedades, a Amazônia influencia o regime de chuvas em toda a América do Sul. E  contribui para estabilizar o clima global.

A Amazônia transfere, na interação entre a floresta e os recursos hídricos associada ao movimento de rotação da Terra, cerca de 8 trilhões de metros cúbicos de água anualmente para outras regiões do Brasil.

Para encerrar a parte dos serviços ecossistêmicos das florestas tropicais saiba que elas armazenam algo em torno de 90 bilhões a 140 bilhões de toneladas métricas de carbono. Para não falar que as florestas desmatadas são as maiores fontes de emissões de gases do efeito estufa depois da queima de combustíveis fósseis.

Floresta Amazônica degradada pode emitir mais gases de efeito estufa do que absorver

Jean-Pierre Wigneron, co-autor da investigação e cientista do Instituto Nacional de Investigação de Agronomia francês disse à agência France-Presse que “de certa forma, já esperávamos isto. Mas esta é a primeira vez que temos números que mostram que a Amazônia brasileira mudou e agora é um emissor líquido de CO2.”

Wigneron acrescentou, “não saber até que ponto esta mudança poderá tornar-se irreversível.”

Isso é um problema para o Brasil. Nós já estamos com fama de País pária em razão dos equívocos da política ambiental atual, e dos erros grosseiros do ex-chanceler que apequenou nossa imagem externa. Agora, se os dados forem confirmados, a posição brasileira fica ainda mais instável no cenário externo.

Desflorestação aumentou quatro vezes em 2019 comparando com 2017

O estudo também mostrou que a desflorestação – por meio de queimadas e corte de árvores – aumentou quase quatro vezes em 2019 em comparação com os dois anos anteriores. De cerca de 1 milhão para 3,9 milhões de hectares.

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Os autores não hesitam em responsabilizar a gestão de Jair Bolsonaro, empossado em janeiro de 2019: “O Brasil teve uma queda acentuada na aplicação de políticas de proteção ambiental depois da mudança de Governo”.

A degradação da floresta também contribuiu para as emissões

Usando novos métodos de análise de dados de satélite desenvolvidos pela Universidade de Oklahoma, nos EUA, a equipe internacional mostrou, no entanto, e pela primeira vez, que a degradação das florestas (perda qualitativa em biodiversidade, estrutura ou função) contribuiu mais para as emissões de CO2 e para o aquecimento global do que a desflorestação (o processo de desaparecimento completo e permanente de florestas).

Entre 2010 e 2019, a degradação da floresta amazônica – causada, por exemplo, pela fragmentação, pelo corte parcial, pela seca e pelos incêndios que danificam mas não destroem as árvores – causou três vezes mais emissões do que a destruição total das florestas (73% no primeiro caso contra 27% no segundo), embora a área degradada seja superior à desmatada.

Ou seja, a degradação apresenta-se hoje com um impacto muito significativo nas emissões de dióxido de carbono. E a adoção de medidas é urgente e deve ser prioritária, defendem os autores do estudo.

Mas, como o principal autor deste estudo é francês, e o País é um competidor do agronegócio brasileiro, fomos atrás da confirmação por outras fontes.

Outro estudo publicado na Frontiers in Forests and Gobal Chance, diz a mesma coisa

Ao pesquisarmos para confirmar o estudo anterior, encontramos outro estudo, desta vez feito por uma equipe de 30 cientistas, muitos brasileiros, e publicado na  Frontiers in Forests and Gobal Chance em março de 2021. Pois bem, ele diz basicamente a mesma coisa.

Segundo a Super Interessante, que repercutiu o trabalho, “enquanto a maioria dos estudos foca apenas no armazenamento e ciclo do carbono na floresta a equipe se propôs a fazer um balanço de toda a bioquímica da Amazônia. A equipe calculou a emissão e absorção dos gases de efeito estufa: o gás carbônico (CO2), óxido nitroso (N2O), e gás metano (CH4). Eles concluem que o aumento de emissões na Bacia Amazônica compensa – e provavelmente supera – a absorção do CO2 atmosférico.”

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Segundo a revista, “a estimativa analisou uma série de dinâmicas do ambiente. E levou em conta fontes antropogênicas e fontes naturais. Uma das conclusões é que, com o desmatamento, a floresta perde parte de sua capacidade de reter CO2 – mas não é só isso que está acontecendo.”

‘Os incêndios feitos para limpar terras para o gado e agricultura também liberam partículas de fuligem, conhecidas como carbono negro. Estas partículas  absorvem a luz solar e causam o aquecimento localizado. Só em 2019, cerca de 22 mil quilômetros quadrados de terra foram queimados na floresta amazônica’.

Há outros problemas mencionados como ‘a exploração madeireira que leva à secagem de pântanos e compactação do solo, o que aumenta as emissões de óxido nitroso’.

Ainda há tempo

O lado positivo de ambos os estudos é que ainda há tempo para reverter a situação. Segundo a Super Interessante, ‘em entrevista à National Geographic, os pesquisadores explicam que os danos ainda podem ser revertidos’.

Esta foto ilustrou a matéria da National Geographic com a seguinte legenda: ‘Graças à perturbação humana, a floresta amazônica parece agora estar liberando mais gases que aquecem o clima do que armazena.’Imagem, JAK WONDERLY.

‘O mais importante é conter o desmatamento, reduzindo também a construção de barragens e incêndios’.

Cientista Luiz Aragão, do INPE, confirma as afirmações

Por fim, antes de publicar este post, consultei o físico Ricardo Galvão, ex-diretor do INPE. Eu perguntava se estes estudos eram sérios e mereciam divulgação, uma vez que não era de nosso conhecimento que a Amazônia pudesse emitir mais gases de efeito estufa que absorvê-los.

Galvão passou nossa consulta ao cientista Luiz Aragão, do INPE, a quem considera ‘um de nossos melhores cientistas na atualidade, especializado em questões relacionadas à degradação da Amazônia e outros biomas’.

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Eis a resposta de Luiz Aragão:

‘O ponto importante nesta questão é que a degradação florestal não é quantificada em inventários de emissões. Quando o balanço de carbono é feito somente utilizando informações sobre as remoções de carbono pela floresta madura e regeneração florestal e as emissões do desmatamento, a Amazônia aparece como um sumidouro de gases de efeito estufa. Contudo, quando a degradação florestal é contabilizada, o balanço se inverte, principalmente em anos de secas extremas.

E concluiu: ‘Acredito que estas observações e artigos sejam suficientes para entender o nível do problema que devemos tratar. Não trata-se somente de desmatamento. A questão de emissões de carbono no setor de mudanças de uso e cobertura da terra é mais complexa e necessita diferentes ações e leis para serem tratadas com efetividade’.

Imagem de abertura: JAK WONDERLY

Fontes:https://www.jn.pt/mundo/a-amazonia-esta-a-emitir-mais-dioxido-de-carbono-do-que-a-absorver-13655008.html; https://www.nature.com/articles/s41558-021-01026-5; https://super.abril.com.br/ciencia/amazonia-pode-estar-emitindo-mais-gases-de-efeito-estufa-do-que-absorvendo-aponta-estudo/; https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/ffgc.2021.618401/full.

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