Fake news climáticas nas redes sociais por exércitos de robôs
Duas análises recém-divulgadas não deixam dúvidas sobre o que já é bastante claro para quem escreve sobre meio ambiente e compartilha informações sérias nas redes sociais: é crescente a utilização de verdadeiros exércitos de robôs e de fake news climáticas contra a ciência nas redes sociais.
Um levantamento da Brown University, dos Estados Unidos, mostra que 25% dos posts sobre alterações climáticas no Twitter foram feitos por bots, controlados por contas falsas. Bot é o diminutivo de robot (robô), em inglês. No período estudado, os bots foram responsáveis por 38% dos tweets com concepções científicas erradas. Enquanto no ativismo contra o aquecimento global a presença de robôs não ultrapassou 5%.
Campanha contra fake news climáticas no YouTube
Já um relatório da plataforma de mobilização social Avaaz revela que é alto o número de visualizações de vídeos no YouTube que disseminam fake news sobre as mudanças climáticas. Pior: esses vídeos são recomendados pelo canal e, desavisadamente, patrocinados por grandes empresas e até por organizações de defesa das causas ambientais.
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6,5 milhões de tweets analisados
O estudo da Brown University examinou 6,5 milhões de tweets em meados de 2017. Eles foram classificados de acordo com uma ferramenta criada pela Universidade de Indiana, dos Estados Unidos, chamada Botometer. O sistema consegue estimar a probabilidade de o usuário por trás do tweet ser um robô, diz The Guardian.
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Os posts foram analisados nos dias que antecederam e no mês seguinte ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a saída do país do Acordo de Paris. O que ocorreu em 1º de junho de 2017. “As descobertas sugerem que os robôs não são apenas predominantes, mas (são também) desproporcionais em tópicos que apoiam o anúncio de Trump ou céticos em relação à ação e ciência do clima”, afirma a análise.
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A pesquisa mostra que dias antes do anúncio de Trump a atividade dos robôs subiu vertiginosamente. As mensagens diárias passaram de poucas centenas para mais de 25 mil. Após a declaração de Trump, o interesse geral pelo assunto cresceu. E as mensagens falsas, que respondiam por metade do total, caíram para cerca de 13%.
“Essas descobertas sugerem um impacto substancial dos bots automatizados na ampliação de mensagens negativas sobre mudanças climáticas, incluindo o apoio à retirada de Trump do Acordo de Paris”, afirma o esboço da pesquisa a que The Guardian teve acesso. O estudo ainda não foi publicado.
Trolls negacionistas
Stephan Lewandowsky disse que “não ficou surpreso” com o resultado do estudo, devido às suas próprias interações com mensagens relacionadas ao clima no Twitter. Lewandowsky é acadêmico da Universidade de Bristol e coautor da pesquisa.
“Quanto mais trolls negacionistas estiverem por aí, maior será a probabilidade de as pessoas pensarem que há uma diversidade de opiniões e, portanto, enfraquecerão seu apoio à ciência climática. Em termos de influência, pessoalmente estou convencido de que eles fazem a diferença, embora isso possa ser difícil de quantificar.”
Segundo The Guardian, outros estudos também “mostram que a desinformação climática geralmente é disseminada devido à percepção dos leitores sobre o quanto essa opinião é compartilhada por outros leitores”.
Robôs beneficiam Trump
O estudo da Brown University, entretanto, não foi capaz de identificar indivíduos ou grupos por trás do exército de bots do Twitter. A pesquisa também não conseguiu determinar o nível de influência de bots e fake news sobre o debate climático. No entanto, vários bots têm grande número de seguidores, diz o estudo.
“Embora não saibamos quem são ou quais são os motivos exatos, parece óbvio que Trump se beneficia do reforço positivo que recebe desses bots e de seus fabricantes”, disse Ed Maibach, especialista em comunicação climática na Universidade George Mason, dos Estados Unidos.
Avaaz investiga fake News climáticas no YouTube
A investigação da Avaaz que resultou no relatório que embasa a campanha contra as fake news reúne a análise de 5.537 vídeos. Eles foram recomendados pelo YouTube quando a Avaaz sugeriu três termos na célula de busca: “aquecimento global”, “mudança climática” e “manipulação climática”. Para ter uma visão global, ela escolheu vídeos acessados em seis países: Espanha, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e Brasil.
“Escolhemos dois termos de pesquisa neutros (‘aquecimento global’ e ‘mudança climática’) para analisar que tipo de vídeo seria recomendado para um usuário médio do YouTube interessado no problema. Além de ‘manipulação climática’ como um termo de pesquisa mais carregado, que se refere à teoria da conspiração de que empresas e governos poderosos estão controlando o clima”, explica.
Vídeos tiveram 21,1 milhões de visualizações
“O relatório aponta que mais de 20% das visualizações dos 100 principais vídeos relacionados ao termo de pesquisa ‘aquecimento global’ estavam em vídeos de desinformação climática. Para vídeos recomendados com base no termo de pesquisa ‘mudança climática’, esse número é igual a 17% e sobe para 27% no termo de pesquisa ‘manipulação climática’.” Os vídeos de desinformação climática analisados pela Avaaz tiveram 21,1 milhões de visualizações.
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Fake news climáticas incentivadas por patrocínios
A Avaaz descobriu ainda que o YouTube incentiva conteúdo de desinformação climática por meio de seu programa de monetização. “Sempre que um anúncio é exibido em um vídeo do YouTube, o anunciante paga uma taxa, dos quais 55% vão para o criador do vídeo e os outros 45% para o YouTube.” Como esses vídeos têm alcançado milhões de acessos, acabam recebendo mais anunciantes.
“A Avaaz conseguiu identificar 108 marcas que exibem anúncios nesses vídeos de desinformação climática, incluindo nomes conhecidos como Samsung, L’Oréal, Decathlon, Danone, Warner Bros e Carrefour. Um em cada cinco anúncios encontrados eram de marcas ecológicas ou éticas, incluindo Greenpeace International, WWF e Save the Children”, informa o relatório.
YouTube: 2 bilhões de usuários ativos
A Avaaz enfatiza que a desinformação climática ameaça a saúde e segurança das sociedades e do planeta. As notícias falsas são projetadas para confundir e envenenar o debate sobre mudanças climáticas. E devem ser combatidas como prioridade por governos, anunciantes e plataformas de mídias sociais, diz a instituição.
Para reforçar seu posicionamento, a Avaaz mostra o grande alcance do YouTube. “O alcance é tremendo e o controle sobre o conteúdo do site são inéditos na história da mídia. Pessoas em todo o mundo gastam 2 bilhões de horas no YouTube todos os dias, e a plataforma possui 2 bilhões de usuários ativos mensais, o que é mais do que todos os lares com TVs em todo o mundo.”
Fontes: https://www.theguardian.com/technology/2020/feb/21/climate-tweets-twitter-bots-analysis; https://olhardigital.com.br/noticia/um-a-cada-quatro-tuites-negando-a-crise-climatica-foi-feito-por-robos/97142; https://shifter.sapo.pt/2020/02/tweets-aquecimento-global-bots/; https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2020/02/fake-news-mudancas-climaticas-youtube/; https://secure.avaaz.org/campaign/po/youtube_climate_misinformation/; https://secure.avaaz.org/campaign/po/detox_the_algorithm_loc/?blHRLab&v=122868&cl=16698424275&_checksum=e0ea3c8b8e2baae915b84e7b5f35ef324e3f70899b48469884d01dd8df6da2a0; https://www.nature.com/articles/ncomms15460.
Excelente artigo, com informações preciosas. Como o tema virou tabu religioso para os fatalistas climáticos, haverá a reação normal de ódio deses fanáticos.
Pelos comentários jás postados, vejo que a desinformação e negacionismo continuam bastante atuantes, agora reforçados por viés ideológico. Para esses imbecis, o consenso existente comunidade científica quanto a emergência climática pode ser facilmente negado por meio de algumas vozes dissonantes amparadas em dados distorcidos e desatualizados, geralmente compradas pela industria do petróleo, e reforçadas por um exército de bots. É o quanto basta para esses dementes negarem aquilo que é consenso, e que está acontecendo no Ártico e em todo mundo.