Cúpula do clima: empresários cobram protagonismo do Brasil

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Cúpula do clima: empresários cobram protagonismo do Brasil

O momento é agora. Nunca houve tantos fatos favoráveis ao Brasil no exterior. Foi o que perceberam 105 grandes empresas nacionais e estrangeiras e dez entidades setoriais. Elas assinaram uma carta defendendo que o governo seja ambicioso, e retome a posição de protagonista nas negociações que acontecerão na COP 26, em novembro, na Escócia. Há uma conjunção de fatores que conspiram para que o Brasil volte a liderar a questão ambiental em âmbito internacional. Mas há que considerar o maior obstáculo; ele é interno e atende pelo nome de Jair Bolsonaro. Post de opinião, Cúpula do clima: empresários cobram protagonismo.

Imagem de queimada na Amazônia
Imagem de Gabriela Biló/Estadão.

Cúpula do clima: empresários cobram protagonismo

Alguns dos que assinaram a carta são presidentes de empresas como BRF, Bradesco, Alcoa, Cargill, Brasken, Klabin, Natura, Bayer, Nestlé, Amazon, Shell, Votorantim, etc, todos pesos pesados da economia.

Empresários pelo Clima, foi o nome que escolheram para identificar a iniciativa liderada pelo Conselho Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Entre as entidades que apoiam o movimento está mais uma vez a Associação Brasileira do Agronegócio, cujo presidente é um dos líderes do setor, Marcello Brito. Só isto mostra o fosso entre a parte moderna do agronegócio e a política ambiental suicida de Bolsonaro.

E o motivo é um só, como eles mesmos explicam: ‘O Brasil deve manter a sua centralidade nesse diálogo, sob pena do enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira’.

A carta demonstra receio sobre a posição que o País apresentará na COP 26, até agora pouco discutida por aqui. O movimento também pode ser lido como uma reação à péssima repercussão do patético discurso de Bolsonaro na ONU.

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Mais uma vez, o presidente mentiu sobre a situação da Amazônia, cuja devastação ilegal cresceu em agosto, ao contrário do que disse.

Não satisfeito, o delirante Bolsonaro pintou um quadro de um Brasil que não existe sem mencionar os 14,4 milhões de empregados,  a inflação em alta, o perigo de um apagão, e a fome que ronda nada menos que 19 milhões de brasileiros, segundo dados de 2020 da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).

Mas o que pega mesmo para os empresários, e com razão, é a possiblidade de, a continuar nesta toada, o ‘enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira’.

Os fatores externos favoráveis ao Brasil

Os mais importantes, talvez, sejam os fracassos do Governo Biden que desde a campanha eleitoral percebeu o perigo em que nos encontramos, sem uma liderança global consistente na questão do clima, e prometeu protagonismo.

Promessa cumprida ao trazer de volta os Estados Unidos ao Acordo de Paris num de seus primeiros atos depois de assumir.

Logo em seguida, Biden marcou a primeira reunião preparatória para a COP 26, ainda em abril de 2020. Mas, no meio do caminho havia uma pedra.

Joe Biden perde força internacional

Biden perdeu força e prestígio com a desastrada saída do Afeganistão e, mais recentemente, a manutenção da posição de seu antecessor de repatriar estrangeiros que tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

Com ambos os atropelos, a liderança de Biden ficou arranhada, abrindo a brecha para o Brasil retomar a posição que sempre teve até o advento Bolsonaro.

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Outro fator que explica a carta dos empresários é a troca de poder na Alemanha. A União Democrata-Cristã,  partido de Angela Merkel, perdeu as eleições no país por  pequena margem.

Ainda não se sabe como ficará o governo de coalização que deverá ser formado até o final do ano. Mas foi um baque para o Brasil, já que Merkel era nossa aliada na manutenção do acordo União Europeia e os países do Mercosul, que ainda precisa ser ratificado por todos os parlamentos nacionais.

Outros países da UE, como Áustria e Holanda, rejeitaram o pacto devido aos maus tratos ambientais no Brasil. Enquanto isso, França, Bélgica, Irlanda e Luxemburgo foram críticos. Até aquele momento a Alemanha era o grande promotor do acordo.

Era hora de uma reação.

Empresários pelo Clima

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ‘A presidente do CBEDS, Marina Gross, que foi negociadora em conferências sobre o clima no fim dos anos 90, explica que o conselho tem alertado internamente ao governo sobre como seu posicionamento tira recursos das empresas. “Na carta, estamos dizendo ao governo: ‘por favor, avance, pois nós vamos dar a retaguarda’. Para fora do Brasil, estamos mostrando que o País tem grandes empresas e instituições, com um peso grande do PIB, fazendo a coisa certa.”

‘O Brasil emitiu, em 2019, 2,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e), sendo que 44% dessas emissões foram decorrentes do desmatamento.

Marina explica que 98% desse desmatamento no País é ilegal. “O desmatamento ilegal é o nosso elefante na sala, que acontece sobretudo no bioma da Amazônia, e isso tem de acabar. Isso não traz desenvolvimento”, afirma’.

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A carta já foi entregue ao presidente da COP 26, Alok Sharma, quando ele esteve no Brasil recentemente. Agora os organizadores pretendem apresentar o documento ao governo brasileiro.

Economia de baixo carbono na cúpula do clima

Esta é a nova ordem mundial. E a carta dos empresários centra o foco na descarbonização. ‘As empresas do Brasil já vêm adotando medidas para a redução e compensação das emissões de gases causadores do efeito estufa, investimentos em tecnologias verdes e estabelecimento de metas corporativas ambiciosas de neutralidade até 2050’, diz um dos trechos.

‘O mundo precisa caminhar com urgência para uma economia de baixo carbono e o setor empresarial reconhece sua responsabilidade nessa transformação’.

‘O Brasil tem vantagens comparativas extraordinárias na corrida para alcançarmos uma economia de emissões líquidas de carbono neutras valendo-se de nossos recursos naturais’.

Segundo os signatários da carta, ‘o país precisa de um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória dentro de um compromisso firme, com ações eficazes para o fim do desmatamento ilegal e a conservação do meio ambiente’, destaca outro trecho.

O jornal O Globo ouviu Marina Gross: ‘Temos ambição climática e nossas empresas contam cada vez mais com metas de neutralização baseadas na ciência, utilizando parâmetros criteriosos de governança corporativa, social e ambiental’.

A ver se os aloprados anticiência de Brasília continuarão preferindo comer pizza na esquina, isolados; ou se irão revisar suas posições e sentar na mesa como todo mundo civilizado.

Imagem de abertura: Gabriela Biló/Estadão

Fontes: https://umsoplaneta.globo.com/clima/noticia/2021/09/27/em-carta-empresarios-cobram-protagonismo-do-brasil-na-conferencia-do-clima.ghtml; https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,em-carta-grandes-empresas-pedem-protagonismo-do-brasil-na-agenda-verde,70003851465; https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,angela-merkel-expressa-serias-duvidas-sobre-acordo-com-o-mercosul,70003408210.

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Comentários

1 COMENTÁRIO

  1. O conteúdo reclamado na matéria é urgente. Mas, eu não acredito que haverá alguma reação sequer até as eleições de 2022, em que poderemos mudar o governante inepto que ocupa o maior cargo do país. Até lá, possivelmente perderemos essa chance de assumir de novo lugar de destaque na liderança climática ou qualquer outro papel.

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