Começa a COP 26, saiba como foram os primeiros dias
E a posição do Brasil, que parecia que repetiria a intransigência da COP 25 em Madri, felizmente se mostrou mais flexível, ao menos nestes primeiros dias. Não faz muito que externamos este receio no post sobre o novo ministro do Meio Ambiente que permaneceu calado e distante da mídia até às vésperas da cúpula de Glasgow. Aparentemente, Joaquim Alvaro Pereira Leite seguia para a COP com a mesma disposição do ‘ministro’ anterior de não oferecer nada se não a cobrança dos US$ 100 bilhões prometidos desde o Acordo de Paris aos países em desenvolvimento, para mitigar as consequências do aquecimento, e financiar a transição para a descarbonização. Esta mudança é motivo de alívio. Começa a COP 26
Começa a COP 26 e o Brasil aceita compromisso de reduzir emissão de metano
Já na terça-feira, 2 de novembro, o País assinou o Compromisso Global sobre Metano em conjunto com outros 96 países. Com o objetivo de reduzir 30% das emissões de metano até 2030, em comparação com as emissões até 2020, o compromisso atinge em cheio a pecuária nacional, o maior exportador de carne bovina do mundo.
No Brasil cerca de 70% das emissões se concentram no setor agropecuário, de acordo com dados da Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa).
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, ‘o Brasil resistia ao acordo, que implica a revisão de processos da pecuária’.
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A Folha explica que os signatários do acordo representam 46% das emissões do gás, ‘e dois terços do PIB global, segundo análise do WRI (World Resources Institute)’.
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O Estado de S. Paulo registrou a posição dos outros emergentes: ‘outros, como China, Rússia e Índia, se recusaram a assinar o acordo’.
Só isso valoriza a posição brasileira. Mas teve mais, a delegação estava esperta.
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Vanuatu leva falha global em emissões à HaiaO plâncton ‘não sobreviverá às mudanças do clima’Carlos Nobre: alta de fundos do clima, ‘de US$ bilhões para trilhão’O Estado: ‘nas pré-negociações de Glasgow, o Brasil disse que, se houver metas específicas para metano, também será importante ter para o CO2, pedra no sapato dos desenvolvidos, já que é emitido em maior volume por causa dos combustíveis fósseis’.
Segundo o jornal, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, disse que seria uma surpresa se o Brasil ficasse fora’.
Carta defendendo commodities sem desmatamento
A Declaração das Florestas foi anunciada em 2 de novembro pela presidência da COP 26, e reuniu ao menos 124 países signatários, entre eles o Brasil.
Entre os que participam do acordo estão os países detentores das maiores florestas do mundo. Felizmente o Brasil, que chegou isolado à cúpula devido ao negacionismo e alta no desmatamento, teve o bom senso de assinar também este compromisso.
O anúncio tem como objetivo preservar as florestas e reduzir o desmatamento e a degradação dos solos até 2030.
O papel das florestas
As florestas absorvem e armazenam dióxido de carbono – que constitui cerca de 80% dos gases de efeito estufa que impulsionam as mudanças climáticas.
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O desmatamento e as mudanças do solo são responsáveis por 23% das emissões globais de gases de efeito estufa causadas pelo homem, de acordo com um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2019.
Segundo o site www.livescience.com, ‘Dados de satélite compilados pela Global Forest Watch mostram que um terço do desmatamento tropical ocorrido em 2019 aconteceu no Brasil. Na verdade, o Brasil e a Indonésia foram responsáveis por 52% das 20.850 milhas quadradas (54.000 quilômetros quadrados) de áreas florestais perdidas globalmente’.
Começa a COP 26 e a posição do Brasil
Para se mostrar mais ambicioso em suas metas de redução de emissões, compromisso de quase todos os presentes na COP 26, o Brasil ainda acenou com outra novidade que, na verdade, não é tão novidade assim, mas mostra uma posição mais flexível na tentativa de reverter o isolamento em que se encontra.
O País elevou de 43% para 50% o compromisso de reduzir as emissões de carbono até 2030, tendo como ano base 2005.
Como o inventário nacional de gases de efeito estufa mudou, resultado de metodologias aperfeiçoadas, a quantidade total de emissões não mudará apesar do aumento de 43% para 50%. Em todo o caso, é mais uma deferência do País que até aqui fazia questão de permanecer isolado, e ‘feliz’ com a imagem de pária internacional.
Segundo O Estado de S. Paulo, John Kerru celebrou. ‘Isso adiciona um impulso crucial ao movimento global para combater a crise climática”, escreveu ele no Twitter. Também houve elogios de autoridades britânicas nas redes’.
Demissão do coordenador-excutivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima
De ponto de vista de Pindorama, outra novidade deste 2 de novembro foi o pedido de demissão de Oswaldo dos Santos Lucon desde Glasgow onde está, nomeado por Bolsonaro em maio de 2019 como coordenador-excutivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima.
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Acontece que o ex-‘ministro’ Salles esvaziou e desarticulou todos os fóruns do gênero desde que assumiu a pasta. Agora, percebeu Lucon, com a troca de ministros do Meio Ambiente a situação não mudou.
Lucon, muito respeitado entre seus pares da academia e membro do IPCC, explicou que saiu porque o governo que o colocou no cargo se recusou a proporcionar qualquer discussão e, deliberadamente, esvaziou o Fórum’.
O que diz a mídia estrangeira
E depois de notícias positivas sobre a posição brasileira, vamos dar uma rápida olhada nas manchetes da mídia estrangeira, começando por um dos ícones mundiais, o New York Times.
À procura do dinheiro
O jornal diz que ‘Os líderes mundiais terminaram seus discursos na conferência de Glasgow na terça-feira. A atenção agora muda para as conversas nos bastidores e como financiar propostas para lidar com a mudança climática’.
No corpo do texto a explicação: ‘Nos 10 dias restantes, enquanto negociadores de quase 200 países discutem como fazer mais progressos nas mudanças climáticas, um dos maiores pontos de conflito continua sendo o dinheiro. Na quarta-feira, governos e investidores privados anunciaram uma série de iniciativas destinadas a ajudar os países mais pobres a evitar os perigos do aumento das temperaturas’.
Até agora, explica o Times, apenas um fundo de filantropia internacional anunciou ‘um fundo de US$ 10,5 bilhões para ajudar as economias emergentes a fazer a transição dos combustíveis fósseis para fontes renováveis’.
E mais: ‘E uma coalizão dos maiores investidores, bancos e seguradoras do mundo que, juntos, controlam US$ 130 trilhões em ativos, disseram que se comprometeram a usar esse capital para atingir as metas de emissões zero líquidas em seus investimentos até 2050’.
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Mas, apesar do volume superlativo, as dificuldades persistem segundo o New York Times: ‘Embora essas quantias em dólares sejam espantosas, o desafio é como exatamente usar esse dinheiro para fazer a transição dos sistemas de energia e das cadeias de abastecimento das empresas para metas líquidas de zero’.
Para recordar
Uma década atrás, as nações mais ricas do mundo, incluindo os Estados Unidos e os países da União Europeia, prometeram US$ 100 bilhões anuais em financiamento climático para países em desenvolvimento até 2020. De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, eles estão aquém de dezenas de bilhões por ano.
Como financiar as promessas
O Washington Post foi na mesma linha. ‘Os líderes mundiais deixaram a cúpula do clima global COP26 em Glasgow, Escócia, e os negociadores estão começando a trabalhar sobre como financiar as promessas feitas nos primeiros dias e cumprir as promessas anteriores’.
Continua o uso de petróleo?
Depois de mencionar a criação do fundo de filantropia de US$ 10,5 bilhões, diz o WP: ‘Apesar da promessa surpreendente de mobilizar trilhões de dólares, grupos ambientalistas disseram que o anúncio foi menos significativo do que parecia, porque não comprometeu os gigantes financeiros a pararem de investir em combustíveis fósseis tão cedo’.
‘Ausência flagrante de líderes da China e Rússia’
E foi além: ‘Apesar das inúmeras decepções e contratempos nos primeiros dias da conferência – compromissos fracos de redução de emissões dos países, a ausência flagrante de líderes da China e da Rússia, longas filas e dificuldades técnicas na conferência – o presidente da COP26, Alok Sharma, adotou uma perspectiva animadora sobre o primeiro dia de negociações formais’.
‘Mas Sharma reconheceu’, diz o WP, ‘que as promessas que vão além de 2050 não levarão o mundo ao alcance de sua ambiciosa meta de limitar o aquecimento a 1,5 graus Celsius. Mas, na próxima semana e meia, ele espera, os países poderiam desenvolver estratégias para entrar no caminho certo’.
A grande expectativa da COP 26
Como comentamos no post Presidente da COP 26, Alok Sharma, veio ao Brasil, a grande vitória seria pelo menos a regulamentação do artigo 6º do Acordo de Paris, aquele que regula e estabelece os mercados de carbono.
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Normalmente, as COPs são um fórum plural em promessas e singular em ações concretas. Não devemos nutrir grandes esperanças apenas pelo fato do Brasil ter começado bem.
Dois, entre os cinco maiores emissores, como frisou o Washington Post, ‘a ausência flagrante de líderes da China e da Rússia’, ficaram de fora. É um claro sinal de que as dificuldades serão enormes.
O mar sem fim está atento e voltará em breve ao tema.
Imagem de abertura: Google
Fontes: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-inicia-cop-26-alinhado-a-biden-mas-com-metas-para-o-pos-bolsonaro,70003887716; https://www.pressreader.com/brazil/folha-de-s-paulo/20211103/281895891467625; https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-11/cop26-brasil-apoia-declaracao-internacional-para-proteger-florestas; https://oglobo.globo.com/mundo/pela-primeira-vez-grupo-de-investidores-brasileiros-pede-acao-do-governo-para-fiscalizacao-ambiental-25262385; ivescience.com/cop26-pledge-to-end-deforestation-by-2030?utm_source=SmartBrief&utm_medium=email&utm_campaign=368B3745-DDE0-4A69-A2E8-62503D85375D&utm_content=F76699CB-A02A-4158-96CF-8FD8B7B559A6&utm_term=ed3c52ac-2ab9-4297-b170-3e287353803f.