Cocaína na Baía de Santos preocupa pesquisadores
Não foi a primeira vez que pesquisadores encontraram cocaína na baía de Santos. Entre 2017 e 2018, um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Santa Cecília (Unisanta), patrocinado pela FAPESP, apontou altas concentrações de produtos farmacêuticos e de cocaína na Baía de Santos. O estudo também apontou contaminação nas águas entre São Vicente e Praia Grande. Na época, as quantidades da droga na água já eram próximas das que causam efeitos em organismo marinhos, na ordem de 200 a 2.000 nanogramas por litro, ou seja, para cada 1 litro de água, são 500 nanogramas de cocaína. Agora a situação piorou.
‘Contaminante emergente preocupante’
A Revista FAPESP, em matéria de Elton Alisson, publicada em abril de 2024, informa que a droga causa graves efeitos toxicológicos em animais como mexilhões-marrons (Perna perna), ostras de mangue (Crassostrea gasar) e peixes (enguias), de acordo com resultados de análises realizadas em laboratório por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Por isso, passou a ser considerada um contaminante emergente preocupante.
Para Camilo Dias Seabra, professor da Unifesp, “a cocaína hoje é, de fato, um contaminante da baía de Santos. Encontramos contaminação pela droga espalhada por toda a região”.
Sobre o primeiro encontro da droga, entre 2017 e 2018, disse Seabra: “Pensamos que poderia ser um fenômeno carnavalesco. Mas fizemos um monitoramento sazonal e identificamos que, durante todo o ano, a cocaína e seus metabólitos estavam presentes não só na água, mas em mexilhões, por exemplo”.
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A bioacumulação, processo que pode ser definido como a absorção e a retenção de substâncias químicas no organismo de determinado ser vivo, é o que mais preocupa.
Análises em laboratório revelaram que o fator de bioacumulação de cocaína em mexilhões-marrons foi mais de mil vezes maior que a concentração de água. “Esse é um fator de bioacumulação alto. Portanto, os frutos do mar na baía de Santos podem estar contaminados por cocaína, mas não só por ela”, informou Seabra.
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Seabra decidiu fazer testes em outros animais como as enguias. As análises revelaram que a exposição crônica à cocaína afeta a ovogênese (formação dos óvulos) e esteroidogênese (produção de hormônios esteroides) desses peixes.
Analisaram também as ostras. Os resultados indicaram que a droga causa graves efeitos citotóxicos e genotóxicos nesses organismos. “Estamos considerando a cocaína um contaminante emergente preocupante”, disse Seabra.
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Seabra informa que, a partir de estudos, estima-se que a cocaína passou a se acumular no estuário de Santos a partir da década de 1930, mas as concentrações da droga na região saltaram nas últimas décadas.
Assim, algumas das explicações para esse aumento é que a região é uma das principais rotas de tráfico da droga da América do Sul para a Europa. Além disso, a região, a exemplo de outras no país e no mundo, enfrenta o problema do aumento de usuários de drogas ilícitas, como a própria cocaína e o crack.
Agora, os pesquisadores pretendem iniciar um programa epidemiológico baseado em águas residuais para identificar o consumo de drogas.
Este é mais um problema mundial hoje. Recentemente o Museu de História Natural de Londres publicou matéria em que alerta para o fato de que ‘mais de 40% dos rios do mundo podem conter níveis nocivos de drogas’.
A matéria diz ainda que ‘além de danificar os tecidos, os produtos farmacêuticos também podem interferir nos hormônios de um animal. Experimentos que expuseram peixes machos ao estrogênio sintético, que é usado em pílulas anticoncepcionais, descobriram que os peixinhos machos começaram a produzir o hormônio feminino vitellogenina’.
Como se vê, nosso problemas são bem maiores que apenas o aquecimento global.
Caracas! Mais, já praxe, um bom artigo … Quando se poderia pensar que poderia se atingir esse patamar … projetando futuro não muito distante: proibição de se consumir pescados da baía de Santos e arredores …