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Carta a Mourão demonstra desordem sem progresso

Carta a Mourão demonstra desordem sem progresso

As trapalhadas do alto escalão do governo já não espantam. Um ano e nove meses bastaram para fazer com que os brasileiros se acostumassem, mas não os estrangeiros. O vaticínio foi certeiro, ‘o Brasil surpreendeu o mundo’. Oito países da Europa, em carta a Mourão, cobram o mesmo que os patrícios não chapados pela cloroquina: iniciativas reais, não trombadas e cabeçadas, para conter o desmatamento. Post de opinião Carta a Mourão demonstra desordem sem progresso.

Imagem, Dida Sampaio/Estadão.

Carta a Mourão demonstra desordem sem progresso

Por aqui segue a desordem sem progresso comandada pelo candidato que declarou em campanha ser contrário à reeleição. Coerente, não fez outra coisa a não ser trabalhar por ela a  partir de primeiro de janeiro de 2019.

Com dedo podre, escolheu caprichosamente os ministros. Entre eles dois analfabetos para o mais importante ministério do País de Macunaíma, o da Educação. E para representar os interesses do Brasil no exterior, chamou um desconhecido que tem a indecência de declarar em público que o aquecimento global é um ‘complô comunista’.

Na Saúde fez melhor, chutou dois técnicos, médicos renomados em meio a pandemia mais mortal do século, e em seu lugar colocou um general.

O candidato à reeleição ainda chamou para desmontar o Ministério do Meio Ambiente um rapaz que até aquele momento jamais teve a curiosidade de conhecer a Amazônia, apesar de ter recursos para tanto como demonstram processos criminais em que está envolvido.

Ainda em 2019 o amigo de milicianos foi atropelado por queimadas jamais vistas em tempos recentes fruto, também, de suas descabidas e reiteradas declarações.

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Mesmo assim, acusou ONGs pelos incêndios, e exonerou o cientista que dirigia o INPE por alertá-lo sobre o que de fato aconteceu: a devastação da floresta Amazônica.

Ah, ele ainda levou para a Economia um certo ‘posto Ipiranga’ para mudar a economia, desautorizado como se vendesse gasolina falsificada desde então.

Desordem sem progresso na Pátria Amada

O circo de Brasília é cômico (e trágico!). Para reduzir a tensão, Ricardo Salles foi alçado à posição de ministro café com leite. Fica lá, na sala dele, fazendo tricô. A Amazônia foi saída de sua alçada e entrou para o feudo do vice-presidente.

Uns falam com a comunidade internacional, outro pratica bambolê

E desde então, sempre que se fala no tema, quem é entrevistado ou conversa com a comunidade internacional é o vice. Às vezes a ministra da Agricultura, outras vezes  é o ministro do Desenvolvimento Regional. Enquanto isso o do Meio Ambiente pratica bambolê.

A carta ultimato

Em resumo, os oito países signatários da carta dão um ultimato ao governo: ou ele age, ou a Comunidade Europeia parte para o boicote comercial aos produtos do agronegócio.

Os europeus, ainda que entre eles possa haver uma minoria preocupada com agricultura subsidiada, estão ‘pelas tampas’ com as palhaçadas de Brasília, as cabeçadas, as declarações estapafúrdias do mito, os desmentidos entre ministérios; definitivamente, os europeus não têm mais paciência com a baderna patrocinada pelo circo armado pela família que se trata por números. Afinal, não votaram mas se vêm obrigados a lidar com ele. Chega um momento em que a panela ferve. Foi o que aconteceu.

Sábio, Mourão promete levá-los para um passeio de avião pela Amazônia se tiverem a coragem para vir a um país assolado por ‘gripezinha’.

Só pode ser excesso de cloroquina. Todos os oito conhecem em detalhes o que acontece na Amazônia, avião pra quê?  Eles podem ver via o site do INPE, ou através dos satélites da NASA, ou os da Agência Espacial Europeia.

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Aviões-tanque para o convescote Amazônico

É bom levar uns dois ou três aviões-tanque já que a Amazônia Legal representa nada menos que 3/5 do território brasileiro. Mourão terá tempo de sobra para explicar  como ‘alguém de dentro do INPE’ , que o governo do vice faz questão de destruir, ‘faz oposição ao governo’, e por que até agora não se dignou a abrir o site da autarquia.

E desde já deve estudar biologia para não mostrar micos-leões-dourados ou avestruzes aos visitantes na Amazônia.

Ele ainda pode tentar explicar o show de horrores promovido em 22 de abril. É bom pensar na tradução adequada para ‘passar a boiada’. Mas, se o assunto for o Pantanal, terá de explicar as gargalhadas ministeriais pelo terror que passa o bioma que até o momento não mereceu uma única declaração do chefe.

Pensando bem, talvez seja melhor.

O que vai no vosso reto, cloroquina ou prefere ozônio?

Será que o vice ainda não sabe que os dados do INPE são críveis a ponto dos europeus o utilizarem, e públicos? Quem sabe ele leve um estoque de cloroquina, ou faça rápida aplicação de ozônio no reto dos gringos. Talvez eles passem a pensar igual à cúpula do governo federal.

Relatoria da ONU propõe inquérito contra o Brasil

Foram tantas as barbaridades da desordem sem progresso que a ONU reagiu. O jornalista Jamil Chade informa: “Pela primeira vez em seu período democrático, o Brasil é alvo de uma recomendação oficial para que o governo seja objeto de uma investigação internacional por suas políticas ambientais e de direitos humanos.”

É, a vida de vice não é fácil, não. É capaz de Mourão ter de explicar outra declaração do chefe: “Pena que a cavalaria brasileira não tenha sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios (Correio Braziliense, 12 Abril 1998).”

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Mourão também terá de contar porque o chefe cismou de abrir as Tis, ou Terras Indígenas, ao garimpo.

Pobre do marechal Cândido Rondon, no que transformaram o Exército dele… o marechal deve ter virado no túmulo depois das asneiras de um bando de celerados dirigidos por um capitão de péssima fama ao seu tempo de Exército que, por uma das ironias da democracia, acabou eleito para bagunçar o esculhambado País.

Dormindo em berço esplêndido

Brasília ainda não se tocou que a pandemia mudou o mundo. Os temas essenciais à humanidade terão outro tratamento. A sustentabilidade saiu do dicionário para a prática. Veio pra ficar, só as cavalgaduras federais não perceberam. E isso é sinal preocupante. Demonstra visão primária de mundo, e nível recorde de desinformação de todo o alto escalão.

‘O Brasil vai surpreender o mundo’, repetiu inúmeras vezes o desautorizado Paulo Guedes. Ele estava coberto de razão.

Em meio a todo este barulho, a fumaça do incêndio que devasta o Pantanal invadiu o Rio Grande do Sul provocando uma ‘chuva negra’ que assustou a população, a mesma  fumaça espessa e contínua está prevista para invadir o espaço aéreo de São Paulo neste fim de semana.

Desprezando a evidência sua excelência declarou em 17 de setembro “que o Brasil está de “parabéns” na maneira como preserva o meio ambiente.”

Pra minha cabeça é demais. A burrice é mais dramática que a pandemia. Esta, passa com o tempo; aquela, aumenta e contagia a capital.

Imagem de abertura: Dida Sampaio/Estadão

Fontes: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/09/16/relatoria-da-onu-propoe-inquerito-internacional-contra-brasil.htm?fbclid=IwAR0p99cadcH8iY__S98ziUjDQiDnejwTTODzx904Nff7VduGdOinFD4FiOs; https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,em-carta-a-mourao-oito-paises-da-europa-cobram-medidas-para-conter-o-desmatamento-na-amazonia,70003440197; https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/bolsonaro-ignora-queimadas-e-desmatamento-e-diz-que-o-brasil-est%C3%A1-de-parab%C3%A9ns-na-quest%C3%A3o-ambiental/ar-BB1996uy?ocid=msedgntp&fbclid=IwAR1BKpC6YchyVPqV76Q_N_6IJj6RvBr2QDkMfJHG0ffzajcbFU-bAgu9Eug.

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