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Caranguejos ferradura, fundamentais para a indústria farmacêutica, em risco

Caranguejos ferradura, fundamentais para a indústria farmacêutica, em risco

Caranguejos ferradura são artrópodes marinhos, parentes de aranhas e escorpiões, apesar do nome. Eles figuram entre os seres vivos mais antigos da Terra. Com poucas mutações ao longo dos tempos, esses “fósseis vivos” datam de 450 milhões de anos. Sobreviveram a dinossauros e a quatro extinções em massa. Atualmente, enfrentam ameaças da indústria farmacêutica, pesca, perda de habitat, mudanças climáticas e marés de algas vermelhas na costa leste dos EUA. O Mar Sem Fim já destacou sua importância para os humanos. Seu sangue, contém um produto químico especial, lisado de amebócitos do Lumulus (LAL), que retém as bactérias por meio da coagulação. O produto é  crucial para esterilizar  qualquer tipo vacina, stent cardíaco, dispositivos médicos, próteses e itens como agulhas e soro fisiológico.

Caranguejos ferradura
Domínio público.

Saiba mais sobre este importante animal marinho

Segundo a National Wildlife Foundation, o caranguejo ferradura americano (Limulus polyphemus) habita o Oceano Atlântico na costa dos Estados Unidos. Eles aparecem nas costas leste e do Golfo dos EUA e México. Outras três espécies vivem no Índico e Pacífico, perto da Ásia.

Caranguejos ferradura usam habitats variados em diferentes fases de vida. Na primavera e verão, depositam ovos nas praias. Juvenis habitam o fundo arenoso marinho das planícies de maré. Adultos se alimentam em águas profundas antes de voltarem às praias para desova.

Para a indústria farmacêutica, o sangue do caranguejo ferradura é um dos líquidos mais valiosos, custando cerca de 15 mil dólares por litro. Os cientistas têm extraído o sangue azul dos animais desde os anos 1970 porque ele contém um componente que coagula ao detectar bactérias. Cerca de 30% do sangue é coletado antes de devolverem os animais à natureza. Sua cor azul vem do cobre presente no sangue.

Os fármacos marinhos são apenas mais um dos serviços ecossistêmicos que os oceanos e a vida marinha nos presenteia.

As entranhas do caranguejo ferradura. Imagem, Domínio Público.

Segundo o New York Times, Para manter os pacientes seguros, as empresas farmacêuticas executam cerca de 70 milhões de testes por ano em medicamentos injetáveis e implantes para a presença dessas toxinas com a substância limulus amebócitos lisato. É um extrato de células do sangue de caranguejo ferradura e pode identificar até mesmo quantidades infinitesimais da toxina reagindo com ela.

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Em 2016, o animal entrou como ‘vulnerável’ na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Petição ao Governo dos Estados Unidos solicitando a protecção da espécie

Um dos motivos para a diminuição da espécie na Índia acontece porque centenas deles são retirados de seu habitat no fundo do mar como captura acessória por redes de pesca de náilon de fundo, e deixados na costa para morrer.

Em 2023, o Village Square informou que o seu “desaparecimento” da praia de Bakkhali é uma sirene gritante para o ecossistema marinho e para as comunidades costeiras e economias que dele dependem. A sobrepesca e as alterações ambientais já devastaram as unidades populacionais de pesca próximas da costa, enquanto a poluição está prejudicando ecossistemas importantes, como os recifes de coral e os mangais.

Ainda segundo a mesma fonte, o caranguejo ferradura indiano (Tachypleus gigas) e o caranguejo ferradura do mangue (Carcinoscorpius rotundicauda) habitam as águas indianas ao largo de Odisha e Bengala Ocidental.

Grupos ambientalistas pediram ao governo dos Estados Unidos a proteção

Segundo a Reuters, em fevereiro de 2024, ‘grupos ambientalistas pediram ao governo dos Estados Unidos a proteção contra espécies ameaçadas de extinção como o caranguejo ferradura norte-americano’.

‘As populações de caranguejos ferradura caíram nas últimas décadas, com números de desova diminuindo dois terços em relação a 1990 no estuário da Baía de Delaware, que já foi seu maior reduto. A pesquisa também mostra que suas densidades de ovos caíram mais de 80% nas últimas quatro décadas’.

Will Harlan, cientista sênior do Centro de Diversidade Biológica, um dos 23 grupos que solicitaram à Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) a declaração de espécies ameaçadas de extinção, disse para a Reuters: “Estamos eliminando uma das criaturas mais antigas e mais resistentes do mundo.”

A Reuters informa que a listagem proposta visaria tornar ilegal ferir ou matar caranguejos ferradura sem autorização específica. A petição também solicita a designação de “habitat crítico” para proteção, especialmente na época de desova.

A agência destaca que a petição critica a coleta em massa  pela indústria farmacêutica – quase 1 milhão em 2022 – para uso de seu sangue azul em testes de endotoxinas bacterianas em medicamentos e dispositivos médicos.

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Harlan aponta que estudos independentes indicam uma taxa de mortalidade de cerca de 30% entre os caranguejos coletados para extração de sangue. Ele menciona que, embora alternativas sintéticas sejam comuns na Europa, empresas americanas têm sido lentas em adotá-las.

A petição também relata mortes em massa nos últimos três anos, com a NOAA classificando em 2023 a vulnerabilidade do caranguejo-ferradura às mudanças climáticas como “muito alta”.

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