Bioma Pampa, indiferença da opinião pública é ‘o’ maior inimigo
Também chamado de Campos Sulinos ou Campos do Sul, o Pampa tem nome indígena e significa “região plana”. Ocupa só 2% do território nacional e, entre os seis biomas brasileiros, é um dos menos lembrados. Enquanto abundam matérias sobre a Amazônia, a Mata Atlântica ou o Pantanal, quase não se fala dele. Pode parecer que está tudo bem, mas não está. Em 17 de dezembro de 2020, o site Direto da Ciência publicou a matéria Não há o que comemorar no Dia do Bioma Pampa. Foi ela que nos inspirou.

Bioma Pampa
O artigo é de autoria de dois professores, Valério Pillar e Gerhard Overbeck, do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisadores da Rede Campos Sulinos.

O texto começa mostrando o perigo: ‘Nos últimos 34 anos, mais de 2 milhões de hectares de campos nativos do bioma Pampa foram convertidos em lavouras, pastagens plantadas e silvicultura, segundo dados do projeto MapBiomas.’
Bioma perde o equivalente a 175 mil campos de futebol por ano
Na sequência, os autores fazem um alerta sobre algo que também denunciamos com frequência em relação ao bioma marinho. Nesse ponto, ambos se equivalem: “A perda anual tem sido de 125 mil hectares nos últimos seis anos, sem sinais de redução no bioma Pampa. Isso equivale a 175 mil campos de futebol por ano, o que deveria provocar comoção pública e ações firmes de fiscalização.”
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaDeveria gerar comoção pública. Mas não o faz. Assim, ações rigorosas de fiscalização não acontecem, ou acontecem em escala pequena. No bioma marinho explicamos que este fenômeno mundial é seu grande problema: o descaso aliado à falta de informação.
Foi a percepção desta realidade que nos levou a criar este site e partir para o mar em busca de informação.
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Demorou para a mídia tradicional se tocar. Mas, em razão também do aquecimento global e a subida do nível dos mares que ameaça milhões de pessoas, a ficha finalmente caiu.
No mar o descaso acontece porque as pessoas não veem o que está debaixo d’água. Para ampla porção da população mundial, mar é sinônimo de lazer, praias, sol, férias ou feriados.
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Então, se é por falta de conhecimento, vamos em frente.
‘Por que precisamos manter a vegetação nativa?’
Esta é uma das indagações dos pesquisadores no artigo. E são eles que respondem: ‘Por que precisamos manter a vegetação nativa? Os campos do Pampa apresentam flora e fauna únicas, uma biodiversidade riquíssima e não menos importante do que a de outros biomas brasileiros’.
‘Com perda da vegetação nativa, perdemos benefícios da natureza para a nossa qualidade de vida no campo e na cidade’.
E se persistir o descaso, pode ser que sobre muito pouco do Pampa. ‘Nesse ritmo (de destruição), em 2050 restarão menos de 12,9% do bioma coberto por campos nativos. Porém, em alguns municípios já restam agora menos de 6%’.

Este percentual é mais ou menos o que sobrou da Mata Atlântica, que cobria o litoral do Brasil desde o Rio Grande do Sul até o Piauí, ao tempo em que começou a devastação logo depois de Cabral pisar o solo de Porto Seguro.
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E se ainda hoje temos cerca de 12% de mata atlântica, isso se deve ao trabalho exemplar da mais notável ONG nacional, a SOS Mata Atlântica. Os alertas e campanhas da ONG, junto com sua atuação diante dos órgãos públicos e do Congresso, sensibilizaram a opinião pública. O resultado foi que a descoberta da mais antiga árvore de pau-brasil, com idade estimada em 600 anos, viralizou na internet.
O Pampa e o Rio Grande do Sul
Ao contrário do bioma marinho que banha 17 Estados brasileiros, ou da Mata Atlântica presente no litoral de 14 Estados, e também em Minas Gerais que não é um Estado costeiro mas abriga a mata atlântica; o Pampa é mais acanhado, presente apenas ao Rio Grande do Sul onde ocupa 63% do Estado mas que também se estende por Argentina e Uruguai.

E no que diz respeito ao Rio Grande do Sul ‘a qualidade da água, alertam os autores, e dos alimentos, depende diretamente da conservação dos ecossistemas naturais. Sem a vegetação nativa, a polinização de muitas culturas agrícolas fica comprometida’.
Mais gases de efeito estufa
Com a palavra os pesquisadores: ‘A conversão dos campos aumenta as emissões de gases de efeito estufa, agravando mais ainda as mudanças climáticas que já causam impactos sérios para a humanidade, inclusive para a agricultura’.

‘E, não menos importante: o que seria a cultura gaúcha sem os campos do Pampa?’
‘Não há o que comemorar’
Foi o que disseram os autores, ou você discorda? ‘Mas é um momento para refletir sobre o caminho a seguir para garantir um futuro com qualidade para as próximas gerações. A pesquisa científica evidencia as consequências dramáticas que as mudanças do clima e do uso da terra terão para a humanidade’.

Os felinos estão criticamente ameaçados
Entre os animais mais ameaçados do Pampa estão sete das dez espécies de felinos do Brasil. Tadeu Gomes de Oliveira, pesquisador da Universidade Estadual do Maranhão e especialista em felinos, disse ao G1 que “no Pampa, as espécies que ainda resistem estão ameaçadas. É o caso do gato-palheiro-pampiano (Leopardus munoai), espécie endêmica do bioma que já perdeu mais de 80% do habitat para a agricultura. Esse felino deve ser considerado um dos mais criticamente ameaçados de extinção em todo o planeta.”
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Espécie é endêmica
Mais preocupante é saber que esta é uma espécie exclusiva do bioma. “As análises de taxonomia, genética, morfologia e ecologia reconheceram o gato-palheiro do Pampa como uma nova espécie para a ciência, sendo endêmica do bioma.”
Como agravante, estudos genéticos mostram que essa população vive bastante isolada das demais da espécie na América do Sul. Ou seja, se desaparecer, outros gatos-palheiros não conseguirão recolonizar a região.
Onça-pintada
É mais uma espécie que desapareceu do Pampa. O ecólogo Fábio Mazim, especialista em carnívoros, disse ao G1 que a espécie desapareceu por causa de vários fatores: a caça, a destruição do habitat e o sumiço de suas presas de grande porte, como a anta, o queixada, o cateto, o cervo-do-pantanal e o tamanduá-bandeira.
Jaguatirica
É mais uma das espécies em estado crítico. Segundo o G1, os últimos registros datam de 1980. E não é a única. A onça-parda, conhecida na região como leão-baio, foi avistada apenas três vezes nos últimos anos.
Predadores do topo da cadeia
Qualquer bioma que perca os predadores de topo da cadeia está fadado ao desaparecimento. São os animais mais importantes, os que mantém a saúde do ecossistema.
É por este motivo que este site tem feito tantas matérias sobre a importância dos tubarões, predador impiedosamente caçado nos oceanos mundo afora. Predadores de topo de cadeia são responsáveis pela manutenção do equilíbrio no ecossistema.
Portanto, o desaparecimento dos felinos do Pampa apenas antecipa o fim da biodiversidade de mais este bioma brasileiro. As próximas gerações provavelmente conhecerão o que foi o Pampa através de livros e filmes.
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Talvez agora, depois que a declaração de emergência climática foi pedida à todos os países membros da ONU, as pessoas fiquem mais sensibilizadas também em relação ao Pampa.
Não adianta salvar apenas a Amazônia
Não adianta ‘salvar’ a Amazônia, e deixar os oceanos, o Pampa a Caatinga, o Cerrado, agonizarem. Somos todos dependentes da saúde dos ecossistemas da Terra.
Foi por invadi-los, e maltratá-los, que a pandemia da covid-19 saltou para os humanos. A covid-19 é uma zoonose, passa de animais para os seres humanos.
Os autores do artigo assim encerram seu texto: ‘A ciência também demonstra os benefícios de uma economia mais sustentável. Por exemplo, a produção de carne de qualidade sobre os campos nativos, prática tão simbólica para o bioma Pampa, é não apenas compatível com a conservação da biodiversidade, mas também pode contribuir para o sequestro de carbono no ecossistema. Este tipo de sinergia será a base para economias bem sucedidas no futuro’.
Deixamos por último uma boa notícia. Nova pesquisa, desta vez da pesquisadora Débora Regina Roberti, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mostra que o Pampa contribui, e muito, para sequestrar os gases de efeito estufa e pode ser lucrativo.
Assista ao vídeo e saiba mais
Imagem de abertura: https://www.ibflorestas.org.br/.
Fonte: http://www.diretodaciencia.com/2020/12/17/nao-ha-o-que-comemorar-no-dia-do-bioma-pampa/?fbclid=IwAR0SonIwrQpwu31Zz33U-1giOQ0_IPodI24TciM-SNm0GPCD3gnW–p6xEA; https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2020/08/12/felinos-do-pampa-bioma-e-casa-para-especies-raras-e-ameacadas.ghtml?fbclid=IwAR0MbAXslzpqYaAAubEcab8iWzlZX93Dfp8s_Hynh1d0K9RDzIJZNVYG-Gs.










Parabéns por mais uma excelente matéria, João Lara Mesquita.
Informação é a principal arma que temos para cessar com esses crimes.
Muito triste assistir a destruição de mais um importante bioma.
Obrigado por compartilhar.
Espero que um dia num futuro PRÓXIMO a natureza se revolte e mostre aos auto intitulados animais racionais quem manda no pedaço ou planeta Terra e trabalhe incessantemente no MARTEFORMAÇÃO.