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Assaltos a barcos no Brasil viralizam no litoral

Assaltos a barcos no Brasil, agora acompanhados de tortura

Houve um período de calmaria. Curto. Mas  recomeçaram os assaltos a barcos no Brasil. Não dá pra continuar assim. É preciso um mínimo de proteção. Agora, devido a total impunidade, bandidos também torturam suas vítimas. Aos fatos.

2019, assalto e tortura a velejadora em Camamu, Bahia

Está ficando cada vez pior. Devido à notória inação das otóridades, agora os bandidos não apenas assaltam, mas espancam as vítimas. Correio24horas: “De passagem pelo estado com o marido no catamarã Guruçá, Maria Augusta Favarato, 38 anos, foi submetida a uma sessão de espancamento durante um assalto à embarcação realizado por “piratas”, na cidade de Maraú, Litoral Sul baiano – a região é uma das mais procuradas por turistas na Costa do Dendê por conta das piscinas naturais, coqueirais e longas faixas de areia desertas.”

O catamarã Guruçá assaltado em Camamu, Bahia.

Assaltos a barcos no Brasil  e a tortura a bordo do Guruçá

Com uma canoa, dois homens se aproximaram do catamarã de 54 pés que estava ancorado na Praia do Sapinho. Um deles subiu  e, com uma faca, rendeu Maria Augusta, que foi amarrada numa cadeira e depois agredida com murros e tapas. Na hora, ela estava sozinha. Os bandidos levaram R$ 1.200.

Ele havia me amordaçado e me batia porque eu não conseguia dizer onde estava o dinheiro. Depois de muito bater, foi que ele decidiu procurar e encontrou na minha bolsa a quantia. Ele não precisa me bater

Maria Augusta Favarato.

A seguir, relatos de assaltos recentes que chegaram ao Mar Sem Fim.

2015/2016, a vez de Itaparica nos assaltos a barcos no Brasil

Alerta em Itaparica: mais um perigo aterroriza a comunidade de velejadores na Bahia.  Ricardo Amatucci, membro do conselho diretor da ABVC e editor do Jornal Almanáutica,  escreveu em sua coluna sobre mais uma onda de assaltos em Itaparica. Amatucci conta que, como sempre, os veleiros não se encontravam na marina, mas ao largo. Uma foto mostra o número de embarcações no perímetro da marina, bem maior do que os que ficam atracados. Isso ocorre ou por ingenuidade ou economia. Muitos veleiros ancoram próximos à estrutura da marina, mas afastados o suficiente para caírem nas mãos de bandidos.

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Alerta em Itaparica: veleiros europeus assaltados em sequência

No final do mês de março, um veleiro francês, outro sueco e um outro suíço, foram assaltados por bandidos armados com facão e, em um dos casos, arma de fogo. Na madrugada de 26 de março, um casal de franceses a bordo da catamarã  “Cap Sun”, foi assaltado e teve computador, rádios, e telefones roubados.

No dia seguinte outro casal, desta vez os suíços do veleiro “Robusta”, foram assaltados por quatro homens armados com facões. No mesmo dia, o veleiro sueco “Suédois” também foi vítima de assalto.

Repercussão da série de crimes em barcos em Itaparica é mundial

Os velejadores se comunicam por meio de blogs, e avisam uns aos outros para cancelarem a vinda ao Brasil por causa da insegurança.

2015: pescadores esportivos são alvos de assaltos a barcos no Brasil

Santos. O jornal A Tribuna publicou matéria em dezembro de 2015 dando conta que

As águas calmas dos rios e mares da Baixada Santista deixaram de ser o refúgio de turistas em busca de uma boa pescaria. Assaltos a embarcações têm deixado em pânico quem procura por esse tipo de lazer na região. Ninguém mais está vindo pescar aqui, diz o presidente da Federação de Pesca Esportiva, Turística e Ambiental de São Paulo (Fepescasp), Adalberto de Oliveira Filho.

Assaltos a barcos no Brasil: Mar Sem Fim, 2015, em Salvador

Este escriba teve seu barco assaltado em Salvador, em 11 de março de 2015, mesmo fundeado defronte à sede da Capitania dos Portos, na “porta de entrada” da Marina Bahia. A posição do barco, e o assalto, são uma prova da ousadia dos assaltantes que não se intimidam porque sabem que é praticamente zero a repressão aos assaltos a barcos. Na ocasião perdemos o bote com motor de popa.

Assaltos a barcos no Brasil: empurra-empurra das autoridades

Dias depois do assalto, ao registrarmos queixa, ligaram pro celular do marinheiro ameaçando matá-lo. Jamais saberei como descobriram. Em seguida, liguei na delegacia e pedi auxílio. O delegado disse ser impossível porque “tinha apenas uma escrivã no posto policial”.

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Mar Sem Fim: três assaltos no litoral do Brasil

Este foi o terceiro assalto que sofri no litoral. O primeiro, em 2004, aconteceu quando eu estava em Bertioga. Três bandidos invadiram o barco, armados até os dentes, amarraram a mim e ao marinheiro, e levaram tudo que havia a bordo. No ano seguinte, em 2005, o veleiro Mar Sem Fim foi furtado no rio Oiapoque, quando estava fundeado defronte a cidade. Mais uma vez perdemos um motor de popa.

Assaltos a barcos no Rio de Janeiro e no rio São Francisco

A Cidade Maravilhosa também sofreu com assaltos em 2015. Pelo menos seis barcos foram roubados dentro do Clube de Regatas Guanabara. E nem o São Francisco escapou de roubos em 2015.

Velejador holandês assassinado no Maranhão

O Maranhão é outro estado que se notabiliza pelos assaltos, especialmente aos estrangeiros. Em 2015, Ronald François Wolbeck de 60 anos, foi alvejado por um tiro no peito dentro de seu veleiro. O infeliz tinha arribado em São Luis para comemorar o Valentine’s Day, com sua namorada. Triste escolha…

Assaltos a barcos no Brasil. Barco do holandês assassinado em São Luis

Dezembro de 2016, Fortaleza: assalto, espancamento e vandalismo de barco

Relato do velejador Sérgio Marques: “Em Dezembro de 2016 catamarã feito no Maranhão que seguia para Fernando de Noronha foi assaltado e a tripulação violentamente espancada, na praia do Mucuripe defrontre do Iate Clube de Fortaleza . Um bando com 8 assaltantes armados levaram bote de apoio, motor de popa, televisão, eletrônicos, baterias, dinheiros e pertences da tripulação, que foram amarrados e espancados, e a embarcação foi vandalizado. O barco produzido pelo estaleiro do Sr Gaudêncio “Mar Aberto” para operar com Turismo estava sendo entregue.”

Julho de 2017: ‘embarcação é alvo de piratas na volta de festa junina na Ilha das Palmas’

A Tribuna, 3 de julho: ” um grupo de pessoas que retornava de uma festa na Ilha das Palmas, na madrugada de domingo, foi vítima de piratas no canal do estuário, em Santos”.

Na cara das otóridades: ilha das Palmas, entrada do Canal de Santos.

“Uma das embarcações que transportava os convidados da tradicional Festa de São Pedro, realizada na ilha, de volta a um píer da Ponta da Praia, foi surpreendida por outro barco, menor, que emparelhou, por volta das 3h30”.

“Dos quatro homens na embarcação, três subiram a bordo, dois dos invasores portavam armas”. O trio promoveu um arrastão entre os convidados do arraial, levando celulares, carteiras, relógios e joias”.

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Junho, 2017: veleiro invadido e saqueado em Santos, na cara das ‘otóridades’

G1: “Velejador foi mantido refém ao ter a embarcação invadida por três rapazes armados, enquanto navegava nas proximidades da Fortaleza da Barra, em Guarujá, no fim de semana. Os criminosos fugiram em um barco menor, em direção ao bairro Santa Cruz dos Navegantes”.

A Fortaleza da Barra, na cara da otóridades, onde o veleiro foi saqueado.

Velejador relata o crime

Era um sábado, 3 de junho. Irineu Bottiglieri, a vítima, relata, “era uma estreia, já que eu tinha acabado de reformar todo o veleiro. Mas bem em frente ao forte, eu olhei para trás e vi três armas apontadas para mim. Dois  entraram no veleiro. Eles perguntaram se tinha mais alguém no barco, falei que não. Em seguida, um sentou ao meu lado, apontando a arma, e o outro foi procurar as coisas”.

Diretor do clube náutico: “todo mundo sabe quem são os caras”

A perda foi de R$ 20 mil. Irineu retornou ao clube onde fica seu veleiro. O diretor, Ronei Figueiras Alves, está acostumado: “a gente acionou a polícia e os líderes da comunidade na mesma hora. Todos sabem quem são os caras. A polícia foi à comunidade, mas não conseguiu achá-los”.

E onde está a polícia? Distrito estava fechado!

G1: “o velejador tentou registrar o crime no 3º Distrito Policial de Santos, na Ponta da Praia, mas o encontrou fechado – aos finais de semana ele não funciona”.

Maio, 2017: assalto a pescadores esportivos em Santos, deixados em um rochedo

Deixar pescadores que se divertiam na ilha das Palmas num rochedo…Quem conta mais uma vez  é o G1: “Em 13 de maio, três pescadores foram obrigados a abandonar uma lancha nas proximidades da Ilha das Palmas. Armados, três rapazes em uma embarcação menor fugiram com o barco das vítimas, que foram deixadas em um rochedo nas proximidades”.

Desta vez a polícia deu as caras

“…Os pescadores foram resgatados pela tripulação de outra lancha. Conseguiram avisar a polícia, que mobilizou embarcações da Companhia Marítima, além do helicóptero e de equipes das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam), que ocuparam a comunidade. Do alto, soldados no Águia localizaram o barco”.

A lancha dos pescadores esportivos recuperada. Ufa! (Foto: G1)

“A embarcação roubada foi achada no mangue, próximo ao bairro de Santa Cruz dos Navegantes. É uma área muito perigosa e complicada, por isso a grande mobilização da polícia, contou o soldado Nascimento, da PM Ambiental. Ele e colegas precisaram pular mar e caminhar por cerca de 200 metros no manguezal para chegar ao barco roubado”.

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Alegria dos piratas em Santos: só um, dos sete Distritos, funciona aos fins de semana

Até a OAB entrou na parada. E exige providências: “Essa realidade motivou o presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB em Santos, Elton dos Anjos, a assinar um ofício em conjunto com o sindicato cobrando explicações ao estado”.

Fevereiro de 2017: assaltos a barcos na região Norte, a mais perigosa: quadrilha ‘Caterpilla’

“Quadrilha de piratas conhecida como Caterpilla responsável por vários assaltos a barcos nos municípios de Barcarena, Muaná, Ponta de Pedras e Abaetetuba. Operação conjunta das Polícias Civil e Militar prendeu dois homens na Ilha das Onças, na região das ilhas de Belém. Segundo a Polícia Civil, um dos suspeitos foi atingido na perna durante troca de tiros com os policiais. As buscas a um dos chefes do bando continua. Dois barcos, munição e drogas foram apreendidos durante a abordagem”.

Assaltos a barcos na costa Norte brasileira

Outros navegadores brasileiros passaram pelo mesmo sufoco, desta vez na costa norte brasileira. Veja relato da tripulação do veleiro Carapitanga:

2017, assalto e morte de britânica no Solimões

Neste ano a britânica Emma Kelty, 43 anos, teve uma ideia infeliz. Viajar de caiaque pela Amazônia. Não demorou muito. Ela  navegava sozinha entre as cidades de Coari e Codajás quando foi vítima de um latrocínio, roubo seguindo de morte. Segundo a BBC, “O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido afirmou que está “apoiando a família da britânica após sua morte no Brasil”. Como se vê, pegou mal no exterior. Este caso, e o relatado abaixo com uma estrela da vela mundial, são os únicos esclarecidos pela polícia.  No início de 2018, a BBC voltou ao tema: “A Polícia Civil do Amazonas informou que apreendeu um menor suspeito de ter assassinado a britânica Emma Kelty, de 43 anos, que estava desaparecida no rio Solimões.” Emma perdeu a vida por uma câmera GoPro e dois celulares. Foi tudo que os “barrigas d’água”, como são chamados os piratas do Amazonas, levaram.

Emma e seu caiaque. Imagem, Ariel Diaz Cattalurda.

Assalto, e assassinato do maior velejador do mundo no Amapá

O segundo caso de assalto seguido de morte, resolvido no Brasil, foi o assassinato do maior velejador do mundo à época, duas vezes campeão da regata America’s Cup, e embaixador da ONU para o Meio Ambiente, Sir Peter Blake. Aconteceu no Amapá, em 2001, e teve repercussão internacional. Pressionadas, as autoridades conseguiram prender os bandidos.

Assaltos a barcos no Brasil. Sir Peter Blake ( foto: universomatambra.com)

Os motivos que levam aos assaltos a barcos no Brasil

A total e absoluta impunidade. De quem é a responsabilidade? Aqui recomeça o jogo do empurra-empurra, tão comum no País de Macunaíma. Um diz que é do outro, que informa que é outro quem tem a responsabilidade. A muito custo descobrirmos que não é a polícia civil, muito menos a Marinha do Brasil que até hoje não conseguiu ter recursos para uma guarda-costeira. A responsa é da Polícia Federal.

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A pobreza da Polícia federal em guardar nossa ‘fronteira molhada’

A Polícia Federal usa esta expressão ao designar nosso litoral. Recentemente o depauperamento tornou-se público.”O presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, Flávio Werneck, afirmou que a situação é grave. Segundo ele, são apenas 150 policiais para o controle de nove mil quilômetros de fronteira marítima.” Ou, fronteira molhada como dizem. 150 policiais para ‘tomar conta de dezenas de grandes portos, centenas de pequenos; vigiar os cerca de 400 km da foz do Amazonas, o litoral das grandes metrópoles como Fortaleza, Salvador, ou Santa Catarina. Dezenas de aduanas, centenas de navios com milhares de contêineres (e drogas transportadas ilicitamente), e mais. Apenas 150 pessoas. Pode?? Pra completar, não temos a figura de uma …

Guarda costeira

O Brasil poderia amenizar o problema, e  mudar a fama do litoral, ‘abandonado ao deus-dará’. Isso, se no litoral tivéssemos uma bem aparelhada guarda costeira, a exemplo da US Coast Guard, e tantas outras de países  civilizados. Seria sonhar alto demais? Aqui, quem ‘domina’ o espaço, mas só para questões de soberania, e consequente ‘proteção’ de nossas riquezas, leia-se as Bacias de Santos, de Campos, do Espírito Santo, a Potiguar…e olhe lá, é a Marinha do Brasil. Mas ela mal tem combustível suficiente para manter a sofrível frota. Não por outro motivo, o crack entrou, e se dissemina fortemente nas comunidades pesqueiras litoral afora.

Ajude a acabar com a impunidade!

Você pode ajudar assinando o abaixo-assinado que pede fim da impunidade no mar. Assine aqui.

Fontes: http://www.atribuna.com.br/noticias/noticias-detalhe/policia/embarcacao-e-alvo-de-piratas-na-volta-de-festa-da-ilha-das-palmas/?cHash=48b5c50f31059585114d6b7868a45491; http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/piratas-invadem-barco-e-fazem-arrastao-em-alto-mar-apos-festa-traumatizante.ghtml; http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/policia-civil-precisa-de-mais-500-policiais-na-baixada-santista-e-no-vale-alertam-oab-e-sindicato.ghtml;  http://www.atribuna.com.br/noticias/noticias-detalhe/cidades/inseguranca-prejudica-pescadores-esportivos-na-baixada-santista/?cHash=616875ca70de871192cd3811d0b2719d; http://carapitanga.com/; http://videos.bol.uol.com.br/video/rio-de-janeiro-sofre-com-onda-de-assaltos-a-barcos-04028D1B3962D0B95326; http://videos.bol.uol.com.br/video/rio-de-janeiro-sofre-com-onda-de-assaltos-a-barcos-04028D1B3962D0B95326; http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u41846.shtml; http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,assassinos-do-velejador-peter-blake-sao-condenados,20020619p53247; https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/velejadora-e-espancada-por-piratas-durante-assalto-no-sul-da-bahia/; http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/011214_velejadorat.shtml; https://www.bbc.com/portuguese/brasil-41324066.

O livro, O Brasil Visto Do mar Sem Fim, é lançado em e-book

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